Percepções Interna e Externa
3 de janeiro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: despesas públicas, distribuição de renda, Presidente Lula, recursos externos
Acompanhando a evolução da economia brasileira, com um mínimo de isenção, sentem que existe uma diferença entre a percepção da opinião pública interna e a que o Brasil goza no exterior. É evidente que a próxima sucessão presidencial turva o ambiente dentro do país, mas existem fatos que não podem ser negados, mesmo pelos que são mais críticos ao governo.
As pesquisas de opinião mostram que o Presidente Lula da Silva continua desfrutando de um prestígio pessoal invejável e ele não almeja a sua reeleição. Algo raro num mundo conturbado, afetado por uma crise econômica com poucos precedentes. O que a oposição aponta é que isto ocorre com a transferência maciça de recursos para os menos necessitados. No exterior, o combate à fome e a melhoria na distribuição de renda, mesmo com custos elevados é considerado um grande mérito.
Nos planos de governos passados, sempre se colocou como um dos objetivos a melhoria na distribuição de renda. Mas ninguém ousou tomar medidas concretas para que isto ocorresse, esperando que o desenvolvimento provocasse algo neste sentido, melhorando a qualidade de vida de todos. Hoje se constata que um crescimento acelerado tende a piorar a distribuição de renda, mesmo em países ditos socialistas como a China.
Mesmo os críticos admitem que na atual crise a economia brasileira vem apresentando uma recuperação acima do esperado, sem tensões inflacionárias. E que deve manter esta performance no futuro próximo. As objeções que se apresentam, sem nenhum fundamento científico, são sobre a possibilidade da volta de tensões inflacionárias futuras, baseados num suposto produto potencial, diante da falta de investimentos expressivos. Ninguém investe enquanto existir capacidade a ser utilizada, e a economia brasileira já provou que conta com flexibilidade para atender ao crescimento da demanda, notadamente quando dispõe de divisas para ampliar as suas importações. Sempre que a economia brasileira apresentou crises de crescimento, ela decorreu das limitações do setor externo. Hoje, conta com excessos de influxo de recursos externos, que valorizam exageradamente o seu câmbio, e que necessitam serem disciplinados.
Os interesses dos empresários internacionais pelos países emergentes mostram que há uma mudança na geopolítica mundial. Reconhecem as condições que qualificam a economia brasileira como “investment grade”, e com um grande mercado interno potencial. A estabilidade política é considera como algo consolidada, com uma saudável alternância no poder. Os indicadores macro-econômicos são favoráveis, seus problemas energéticos são estimulantes, os aumentos de produtividades industrial, agropecuária e dos serviços são promissores. A infra-estrutura apresenta muitas oportunidades para investimentos, pois ainda é deficiente. Os problemas existentes são comuns às das economias emergentes e não existem graves problemas estruturais ou institucionais, na visão de uma boa parcela do exterior. As críticas internas são mais rigorosas, pois muitos esperam resultados mais expressivos que estão sendo obtidos.
Os críticos apontam o crescimento das despesas públicas, que reduz a capacidade de investimentos. Os juros poderiam estar ao nível de outras economias similares. Um câmbio menos valorizado poderia ajudar na conquistas de outros mercados externos, aumentando o emprego no Brasil. Nas últimas décadas o aumento da capacidade de produção foram feitos pelo setor privado, com grupos locais e internacionais. Os recursos naturais poderiam ser aproveitados agregando lhes valor adicionado e o meio ambiente mais bem preservado.
Todas estas divergências não são fundamentais. Sempre será possível formular alternativas nas estratégias para resolvê-las. Os resultados almejados podem ser mais ambiciosos ou conservadores. A disputa sobre a sua distribuição sempre existirá. O que não pode se negar é que a discussão sofreu uma elevação de patamar, apesar de algumas vezes inflamadas.
O Brasil começa a se destacar entre os emergentes, para desempenhar um papel mais influente no cenário internacional. Para obter o sucesso sustentável que todos esperam é preciso que haja um grande esforço de qualificação dos seus quadros humanos, tanto para fomento de suas pesquisas e aperfeiçoamentos, como para apresentação de contribuições efetivas para a melhoria da convivência humana neste universo limitado.
A miscigenação étnica e cultural que se processou neste país tropical, com a contribuição das mais variadas correntes gerou uma criatividade que está pronta para ser aproveitada. Que as nossas lideranças sejam capazes de utilizar toda esta potencialidade.