Análise do Partido Comunista Chinês
17 de maio de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura | Tags: análise do Wall Street Journal, como vem funcionando, similaridades com outros
Um interessante artigo de Richard McGregor, do Wall Street Journal, foi publicado no Nikkei, descrevendo o atual funcionamento do Partido Comunista Chinês. Existem muitas dúvidas, no exterior, sobre o seu papel numa economia que utiliza cada vez mais o mercado, existindo muitas empresas privadas, tanto chinesas como de estrangeiros.
O artigo é uma adaptação do ensaio publicado sob o título “The Party: The Secret World of China’s Communist Rulers”, do mesmo autor, que foi chefe do escritório do Financial Times em Beijing. Esclarece uma série de aspectos, que podem ser discutidos, como este partido funciona naquele país, bem como o que parece comum com o que existe em outros países.
O artigo, longo, informa que na mesa dos dirigentes de mais de 50 empresas estatais chinesas existe um telefone vermelho, um “hot line”. Quando ele toca, é melhor atendê-lo. É um telefone com quatro dígitos, dentro de um sistema criptografado. Ele é muito cobiçado, pois denota um “status” de quem o possui, pois só é fornecido pelo governo para os vice-ministros ou superiores.
Ele é criptografado não somente por segurança do governo, mas para evitar possíveis interferências externas. Possuir este telefone significa que este executivo faz parte de uma elite de um pequeno clube de cerca de 300 pessoas que comandam um quinto da humanidade.
O mundo moderno está repleto de redes similares de elite que exercem o poder nos seus bastidores. No Reino Unido, existe o “old-boy network”, dos formados em escolas privadas de alta classe. No Japão, existe a rede dos formados na Universidade de Tóquio, que se situam bem na política, administração pública ou empresas. Nos Estados Unidos, existem os que fazem parte do “military-industrial complex”, entre outros grupos de elite.
O Partido tem 76 milhões de membros e esta rede conta com os dirigentes das empresas estatais, que são apresentadas como entidades comerciais independentes. A China pós-Mao, com Deng Xiaoping no final dos anos setenta, tenta explicar como caracterizar esta economia. Poucos a descrevem como um modelo comunista, nem o Partido Comunista Chinês.
A renovada faceta do maior Estado comunista não é nenhum mistério. O antes partido revolucionário está bem consolidado. O antigo combate à corrupção tornou-se conivente com o câncer que se instalou nele. Nas declarações públicas, o marxismo é exaltado, mas dependem de um cruel setor privado para criar empregos. O partido prega a igualdade, enquanto a China conta com uma renda mais mal distribuída da Ásia. A diferença entre o discurso e a realidade é gritante, mas é preciso continuar a defender o “status quo” político que o partido representa.
A defesa do poder do Partido é a defesa do sistema existente. Daí Bingguo, o mais sênior oficial de política externa, afirmar que “O interesse principal da China é manter o seu fundamental sistema estatal de segurança”, “Soberania do Estado, integridade territorial e desenvolvimento econômico, a prioridade de qualquer país, tudo está subordinado à manutenção do Partido no poder”.
Todas as reformas nas últimas três décadas pousam sobre três pilares: controle dos funcionários, propaganda e o Exército. Para tanto, executou o que outros países comunistas fizeram. O que no artigo é detalhado com muitas explicações.
O artigo resume como o Ocidente tem se curvado, recentemente, com a dimensão chinesa, começando com os Estados Unidos, a França e outros como a Comunidade Européia, citando diversos episódios. Na recente exposição de Xangai, quando representantes de diversos países apresentaram suas reclamações comerciais, Wang Qishan e outros ministros chineses admitiram irregularidades. Mas, para surpresa e concordância dos estrangeiros, afirmou: “o mercado chinês continua com o seu charme irresistível”.