Yangtsé, Amarelo, Mekong: Grandes Rios da China
6 de maio de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: afluentes (Min, barragens, diques, explosões de corredeiras, Han, Jialing), Qinghai, Sichuan, Simon Winchester, Xangai | 10 Comentários »
Xangai – “acima do mar”, sobre águas – fica à beira do Mar Oriental da China, junto ao imenso delta e foz do Rio Yangtsé (no qual está sendo construída a gigantesca Usina de Três Gargantas), e à margem de um afluente deste, o Rio Huangpu. A 300 quilômetros de distância rio acima, na cabeceira do delta, ergue-se soberana e bela a antiga cidade imperial, Nanjing – “Capital do Sul”. E muitas outras grandes metrópoles compõem este mega pólo comercial, industrial, econômico e cultural que rivaliza com outro influente pólo, a da capital Beijing – “Capital do Norte” – a 1.400 quilômetros, próximo de onde deságua o Rio Amarelo, o segundo maior rio da China.
Quando atinge Nanjing, o Yangtsé, o maior e mais extenso rio chinês, já percorreu 6.000 quilômetros desde as suas nascentes no maciço de Kunlun, no Planalto Tibetano, província de Qinghai. Coincidentemente, dois outros grandes e importantes rios chineses, o Mekong (Lacang) e o já citado Amarelo (Huang He), nascem na mesma região de Qinghai, próximo do Himalaia, recentemente abalada por um sismo de 6.9º Richter.
A maioria dos rios chineses corre de Noroeste para Sudeste, do planalto para a planície central, indo desaguar nos grandes rios, que por sua vez desembocam nos Mares Amarelo, Oriental, ou Sul da China. O Rio Yangtsé, ao fazer a curva para o leste, recebe as águas de um grande afluente, o Rio Min, na altura da cidade de Yibin, Sichuan. A escritora Jung Chang (Cisnes Selvagens) descreve a confluência desses rios com rara emoção, lembrando a saga de seus pais durante a Revolução Cultural. Quilômetros adiante, em Chongqing, outro grande afluente, o Jialing, deságua no Yangtsé, e muitos outros como o também volumoso Rio Han farão o mesmo, antes de atingir as majestosas Gargantas do Yangtsé.
O Yangtsé seria como o Amazonas, recebendo inúmeros grandes afluentes ao longo do seu percurso. Só que o Amazonas, rio de planície, corre plácido até o Atlântico: as enchentes que ocorrem durante a época das chuvas são expansões de água “naturais” do rio. O que não acontece com os rios chineses que nascem em maciços montanhosos e descem com ímpeto. Sua vazão se torna avassaladora no verão, quando ao degelo na cordilheira se junta o fenômeno das monções, ventos que sopram do mar para o continente trazendo ar úmido e quente, e chuvas torrenciais. Os rios então cobram vidas, engolem barcos, inundam vilas. Como relata Jung Chang, o ímpeto das águas tornava impossível a construção de pontes antes dos rios atingirem as planícies mais amenas. Somente balsas e barcaças de junco ligavam as duas margens e as vilas ao longo do Yangtsé.
Quando atinge a planície, o Yangtsé espalha-se e serpeia irrigando vastas áreas de terra agrícola e plana. No verão, os campos de arroz se enchem de água, grandes áreas viram pântano. A planície de Sichuan é uma das áreas mais férteis da China, conhecida como o “Celeiro do Céu”: o clima temperado e nublado torna o lugar ideal também para o cultivo de chá de excepcional qualidade.
Segundo Simon Winchester (O Homem que Amava a China), sinólogos concordam que a lendária natureza tirânica dos imperadores muitas vezes se calcou na inexorável realidade: quem controlasse as águas da China disporia de poderes para fazer com a China o que bem entendesse.
Não sem razão, os chineses perceberam que os prejuízos ou benefícios que as cheias dos rios causavam a vastas áreas e a imensas populações, eram problema de política nacional mais ampla, com necessidade da criação de uma entidade nacional forte encarregada dos recursos hídricos, sob rígido controle burocrático. Os engenheiros hidráulicos começaram a gozar de poderes absolutos quando tinham êxito em seus projetos. Li Bing foi um deles: na dinastia Qin, há mais de 2.300 anos, criou um gigantesco sistema de contenção e irrigação no Rio Min. Sem contar com ajuda sequer de dinamites nem de quaisquer outros recursos tecnológicos, Li Bing projetou explosões de rochas para desviar a corredeira do Min para um grande reservatório. Ele levou mais de 7 anos para terminar a obra, que funciona ainda hoje. O povo, agradecido, construiu um templo em sua homenagem, onde até hoje é reverenciado.
Olá,
gostaría de registrar meus parabéns pelo excelente material. aprendi bastante a respeito dos rios da China.
parabéns!!
Que ótimo V. ter apreciado os rios da China. Poderosos e majestosos, eles arrebatam a todos nós.
esses rios da China tem muitas curiosidades
Sim, Caro José Alison, e muitos impactos – e este post foi apenas introdutório, para apresentar a Parte II.
Apreciamos teus comentários!
Prezado(a) Senhor(a)
Indique-me por gentileza livro que relate detalhes sobre a construção, história e funcionamento da usina hidrelétrica de Três Gargantas e sobre a formação das principais bacias hidrográficas chinesas (rios da China).
Renato Monteiro
Curitiba – Paraná
Caro Renato,
Infelizmente, não conheço nada em português. Entrando na Google pelo Three Gorges Dam V. vai encontrar algumas indicações que parecem atende as suas necessidades. V. pode traduzir utilizando o sistema da Google, mas as traduções são extremamente imperfeitas, pois efetuadas eletronicamente.
Paulo Yokota
bem eu achei muito interessante , pois estava fazendo um trabalho para a escola e entrei nesse site e realmente eu admiro muito esse país (china )…
Cara Mariana,
Como em todos os países, existem muitos aspectos positivos como negativos. Procure aprofundar os conhecimentos de outros países e culturas.
Paulo Yokota
Não entendo, em sites que procurei aparece Yangtze e no seu Yangtsé?
Qual é o certo?
Cara Victória,
Muitas palavras em idiomas asiáticos, como o mandarim ou o japonês possuem diversas convenções para serem usadas em português. Tenta-se procurar verter pelos sons, que apresentam diferenças.
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Paulo Yokota