Mudanças Políticas no Japão
2 de junho de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: novas lideranças, PDJ, queda do premiê Yukio Hatoyama
Era previsível a queda do primeiro-ministro japonês Yukio Hatoyama, que contava com menos de 20% de suporte dos eleitores do Japão, como já postado neste site. Na realidade, as vitórias eleitorais do PDJ – Partido Democrata do Japão foram mais pelos desgastes do PLD – Partido Liberal Democrata que se manteve no poder na maior parte do tempo, desde o término da Segunda Guerra Mundial, do que pelos méritos da oposição.
O antigo líder do PDJ, Ichiro Ozawa, não pode se tornar primeiro-ministro, pois é acusado de escândalos políticos, na parte dos recursos financeiros das campanhas. Ele se livrou até agora das acusações, passando a responsabilidade para seu funcionário do setor, que foi punido. O mesmo aconteceu com Yukio Hatoyama, cujo tesoureiro foi condenado por motivo semelhante. Portanto, a sua queda não pode ser atribuída somente à questão da base militar de Futanma, em Okinawa. Seu curto governo não conseguiu avanços na superação da crise em que está envolvido o Japão.
A queda de Hatoyama que arrastou também Ozawa resolve os problemas? Há pressões para que novas eleições sejam convocadas, pois a atual renúncia do primeiro-ministro está sendo considerada uma manobra para o PDJ manter-se no poder, mesmo com as próximas eleições na Câmara Alta. Só os eleitores japoneses podem definir as orientações que devem ser adotadas para superar tanto a sua crise econômica como a questão da base militar em Okinawa.
Tudo indica que esta experiência da oposição ter assumido o poder que era detido pelo PLD não resultou num programa para resolver os problemas japoneses, que não são fáceis. Todos entendem que o acordo militar japonês com os Estados Unidos é indispensável, tanto para o Japão como para a segurança da Ásia, mesmo arcando com parte substancial dos seus custos, que a economia americana e seus aliados não suportam. Mas não desejam bases militares norte-americanas perto de suas residências.
A esclerose que tomou conta da economia e sociedade japonesa exige medidas drásticas, redefinindo o papel que devem desempenhar nas tentativas de acordos asiáticos, principalmente com a China e a Coreia. O modelo que vinha sendo utilizado pelos nipônicos parece desgastado, necessitando que estabeleçam novas orientações, se desejam evitar um processo de contínua deterioração.
A longa tradição de trabalhos coletivos acabou inibindo os méritos individuais, tanto nas atividades econômicas como políticas. Parece que não existem lideranças fortes que possam provocar uma verdadeira renovação do Japão, bem como o surgimento de um grupo capaz de formular um programa para execução no longo prazo.
No mundo globalizado, altamente dinâmico, parece que o Japão ainda não encontrou o papel que deseja desempenhar, apesar de continuar contando com uma dimensão econômica que o coloca entre os primeiros, superado pelos Estados Unidos e pela China.
Estas mudanças políticas que está sendo obrigado a enfrentar pode ser uma oportunidade para uma profunda discussão nacional que estabeleça as diretrizes a serem perseguidas nas próximas décadas. Seria um desperdício para o mundo deixar deteriorar tudo que já se acumulou naquele país, que continua sendo admirado por muitas outras nações. Suas lições estão sendo aproveitadas por muitos emergentes, tanto pelas consequências positivas como pelas dificuldades.