Filme Japonês é Premiado no Festival de Berlim
21 de fevereiro de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Livros e Filmes | Tags: de Tahahisa Zêze-2010, NHK-News, Revistas Eiga Geijutsu e Kinema Junpô, “Heaven’s Story”
Pelo terceiro ano consecutivo, um filme japonês recebe o prêmio da Federação Internacional de Críticos de Cinema, no 61º Festival de Cinema de Berlim. Os anteriores foram Parade, de Isao Yukisada (2008), e Love Exposure, de Shion Sono (2009). Heaven’s Story, do diretor e ex-produtor porno-soft Takahisa Zêze, é um drama épico de quatro horas e meia, que retrata vida de uma dezena de personagens cuja tragédia comum é a violência traumática a que são submetidas pessoas que tiveram entes queridos assassinados.
Dizendo-se profundamente comovido com a apreciação que o filme recebeu da audiência internacional, Takahisa Zêze acrescentou que se baseou em ocorrências reais acontecidas no Japão nesta última década. Enquanto filmava, ponderou sobre como as pessoas deveriam encarar a vida, apesar da crueza a que possam ser jogadas. O filme tenta refletir sobre o abismo a que estamos todos caminhando. Zêze almejaria que pudéssemos evitá-lo, “antes que o mundo seja destruído pelo ódio”.
Cenas do filme Heaven’s Story, de Takahisa Zêze
Produto claramente sem fins comerciais, o filme impressiona pela integridade artística e pela audácia, segundo a crítica. Embora assassinatos sejam o tema de “Heaven’s”, violência e morte são sobrepujadas pela essência da vida, da recuperação e da redenção dos que perderam familiares, e dos que cometeram os crimes. É como se o olhar do céu velasse o andar de cada um. Contando histórias de uma década em nove episódios, a filmagem levou um ano, justamente para captar as mudanças das estações: a gloriosa beleza da natureza contrastando com o sombrio cenário de periferia urbana abandonada e o clima austero do norte do Japão. Cerejeiras em flor se entremeiam com brancura inóspita da neve. Com recursos que lembram construção de teatro grego misturado a ritual de dança e simbolismo de troupes em máscaras fantasmagóricas que remetem a lendas e ao teatro clássico japonês, Zêze estiliza metáforas do bem e do mal. Em “Okuribito” (A Partida, Yojiro Takita, 2008), o tema da morte também atravessa o filme. Mas longe de ser um filme mórbido, a atmosfera é de luminosidade e vida, em que compaixão se une a sentimento de perdão e de ser perdoado, culminando com a redenção final. Tudo acompanhado pela belíssima fotografia e paisagem que corre paralela.
Em duas das principais publicações especializadas do cinema japonês, a obra de Zêze consta entre os 10 melhores filmes de 2010: em 1º lugar na Eiga Geijutsu, e em 3º lugar na internacionalmente prestigiada Kinema Junpô. Detalhe: Norwegian Wood, baseado no best-seller homônimo de Haruki Murakami, não consta entre os 10 melhores filmes de 2010 no Japão. Mas possivelmente os brasileiros terão oportunidade de vê-lo: além do carisma, Murakami tem no elenco Rinko Kikuchi no papel da angustiada Naoko. A bela atriz ganhou destaque no cinema mundial pelo denso trabalho em Babel (Alejandro Iñarritu, 2006), em papel indicado para Oscar de atriz coadjuvante daquele ano. No circuito comercial, garantem bilheteria.
Se o próprio diretor admite que Heaven’s Story não é filme para atrair bilheteria, talvez nunca venhamos a conferir sua qualidade e os valores nele incutidos. É torcer para que seja incluído em alguma programação alternativa da próxima Mostra Internacional do Cinema, na cidade de São Paulo.