Mari Hirata Continua Sendo Uma Nipo-Brasileira
27 de março de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias | Tags: diferenças com os japoneses, limitações pelas quais passam, um depoimento de uma brasileira longamente integrada no Japão
O extremamente interessante depoimento da consagrada chef Mari Hirata que, apesar de residente há longo tempo no Japão, continua visitando regularmente o Brasil, registra na Folha de S.Paulo deste domingo as suas impressões sobre a crise que se abateu sobre o Japão. Apesar de residir em Tóquio, teve que enfrentar uma fila no supermercado para comprar leite, água e ovos, ficando impressionada com a paciência dos japoneses com estes inconvenientes. Ela demonstra que continua nipo-brasileira, mas tem a sensibilidade de apreciar uma prematura florada de uma cerejeira nas proximidades do supermercado, dando um toque agradável ao seu depoimento, uma de suas muitas qualidades.
Ela compara a situação como semelhante a de um filme de guerra, e ela certamente não passou por esta experiência, pois é muito jovem para tanto. Os horrores do desabastecimento, inclusive no Brasil, longe do teatro da guerra, exigiam que todos fizessem filas deste as madrugadas frias, por muitas horas, para conseguir um pouco de pão ou farinha. Ninguém subestima as dificuldades, principalmente nas regiões mais afetadas, inclusive pelas contaminações atômicas, que estão vedadas para o trânsito de caminhões que podem levar estes suprimentos à população.
Mari Hirata, chefe de cozinha nipo-brasileira que vive no Japão
Ela revela que já estava acostumada a terremotos, que em Tóquio atingiu 6 graus Richter, e se mantém informada pelos noticiários da NHK que está disponível no Brasil em japonês, por intermédio deste site. A versão em inglês e até em português é mais limitada agora, não apresentando como a que veiculada no Japão, mais completa, mas que já está voltando ao normal, inclusive com novelas e jogos de beisebol. Ela relata que os japoneses continuam estóicos, mas começa a se notar algumas manifestações de insatisfação, quer com os administradores das usinas de Fukushima e até com a ação de assistência civil do governo.
O jornal Nikkei relata uma pesquisa efetuada pela Kyodo News neste domingo do Japão (há um fuso de 12 horas, e eles estão na frente do Brasil) onde 58% da população se mostra insatisfeita com os administradores da usina e 39,3% com a ação do governo.
O jornal Yomiuri registra a contaminação da água do mar perto das usinas de Fukushima Daiichi, informando que está 1.250 vezes superiores aos admitidos pelas autoridades japonesas, que informam que estão se dispersando pelo oceano, com consequências imprevisíveis sobre os frutos do mar e as algas que são abundantes na região, inclusive para consumo humano.
Informam que a TEPCO, a empresa que opera estas usinas, não alertou devidamente seus funcionários sobre os riscos de contaminação a que estavam sujeitos. Reclamam que os que estão evacuados do raio de 20 quilômetros das usinas, e recomendados para o raio de 30 quilômetros, não estão recebendo informações sobre as novas zonas para as quais devem se deslocar.
Nota-se que, depois de um período de carência, algumas vozes começam a manifestar também suas insatisfações.