Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

G-20 Estaria Sendo Esvaziado?

20 de fevereiro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: as decisões isoladas dos países desenvolvidos, dificuldades de entrosamento dos emergentes, problemas na governança mundial em tempos de crise, próxima reunião do G-20

Ainda que o mundo esteja se tornando mais complexo, com uma recuperação mais lenta dos países desenvolvidos, uma desaceleração do crescimento das economias emergentes além das expectativas, parece lamentável que decisões cruciais para todos estejam sendo tomadas com prioridade absoluta para os problemas internos de cada país sem considerar seus impactos no resto do mundo. O site da Bloomberg publica um artigo elaborado por Simon Kennedy, Sharmim Adam e Jeff Kears informando que a competente nova presidenta do FED – Sistema Federal de Reservas dos Estados Unidos, Janet Yellen, comparecerá na reunião do G-20 informando que estará empenhada na recuperação da economia norte-americana, que mais vigorosa estará ajudando a todos. Os norte-americanos, com a easing monetary policy, inundaram o mundo com dólares, provocando a desvalorização do dólar, que corresponde às valorizações das demais moedas, prejudicando suas contas comerciais externas. Na medida em que começa a reduzir este substancioso incentivo monetário, provoca críticas como os da Índia e da Turquia que enfrentam dificuldades para os financiamentos de suas necessidades.

O argumento de Janet Yellen é que se todos estivessem executando as políticas corretas, com as reformas indispensáveis, estas medidas norte-americanas poderiam ser neutralizadas sem maiores problemas, com as variações cambiais, o que não é uma realidade tão definitiva. Muitos países emergentes não poderiam colocar restrições unilaterais restritos aos influxos dos recursos externos, acabando por valorizar seus câmbios, que não foram neutralizados por reformas que mantivessem sua competitividade. Agora, quando o problema começa a se reverter e de forma brusca, com a agravante das atuações do sistema bancário internacional, as desvalorizações são violentas, criando problemas das pressões inflacionárias, além da elevação dos juros para conseguirem financiamentos externos. Ela tem razão que muitos países não conseguiram cuidar adequadamente dos seus problemas fiscais, que não ajudam o quadro geral, exageradamente dependente da política monetária. Como no Brasil.

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O desejável é que organismos internacionais como o FMI – Fundo Monetário Internacional tivessem condições de organizar estes fluxos financeiros que são de volumes astronômicos. Mas o sistema bancário mundial opõe-se a qualquer tipo de regulamentação, sendo mais poderoso que as autoridades da maioria dos países, de forma isolada. Tanto que, mesmo nos Estados Unidos, os bancos que foram os responsáveis pelas crises que começaram em 2007/2008 acabaram recebendo substanciais assistências governamentais para enfrentar os problemas usufruindo lucros fabulosos, tanto para os bancos como os seus dirigentes, ao qual se somam irregularidades como as manipulações das taxas de juros como o Libor e dos câmbios.

A governança mundial tendia a uma maior participação dos países emergentes no passado, mas parece que hoje os chamados desenvolvidos continuam insistindo em manter o seu poder, considerando que os emergentes contam com muitos problemas internos, gerando uma instabilidade que se propaga por todo o mundo, que não favorece o clima empresarial. Mas, também não existe um consenso muito claro mesmo nos desenvolvidos.

As dificuldades são muitas e por todos os lados, e ninguém pode se alvoroçar que está fazendo todas as coisas corretas, pois até os Estados Unidos insistem em adiar as tomadas das correções a que foram condenadas pelo OMC – Organização Mundial do Comércio, como o caso do algodão com o Brasil.

Todos sabem que quem pode toma medidas para salvaguardar seus interesses mesmo com prejuízos para outros, não havendo formas práticas para interferir nestas questões. Um mínimo de ordem para organizar estas confusões poderia ajudar a todos, mas não parece que as autoridades dos países poderosos estejam dispostas a arcar com seus custos, alegando terem outras prioridades nacionais.

Somente quando o quadro se torna incontrolável, como com o aumento das irregularidades climáticas severas, parece que começa a se vislumbrar a possibilidade de um mínimo de entendimento de longo prazo, com medidas que ajudem a preservar o mundo do aquecimento global. Mas desejam liberdade para as tomadas de suas decisões.

Será que teremos que chegar a situações limites para medidas mais sensatas que beneficiem a todos sejam tomadas? Tudo indica que mesmo no G-20 avanços significativos ficam no campo das aspirações mais etéreas.