Discussões Nacionais e Internacionais Sobre os Câmbios
10 de abril de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais | Tags: a valorização exagerada do real, discussões sobre o câmbio, o problema do yuan e do dólar norte-americano | 7 Comentários »
Os noticiários dos jornais nacionais e internacionais apresentam inúmeras discussões sobre os difíceis problemas cambiais e suas consequências. São assuntos complexos, não havendo nem um razoável consenso sobre o assunto entre os economistas. Mas qualquer que seja a posição adotada por um analista, parece evidente que o real está exageradamente valorizado, facilitando as importações que sacrificam empregos locais, e dificultando as exportações brasileiras que criam empregos. No entanto, não existe nenhuma concordância sobre o que pode ser feito para corrigir este desequilíbrio que continua se agravando. O leigo pode entender que o real valorizado significa um benefício, mas nem isto é verdade.
Muitos se queixam que os chineses mantêm o seu yuan extremamente desvalorizado e, para se defenderem, como os norte- americanos, ampliaram brutalmente o montante do dólar no mercado internacional, o que o desvalorizou e continua a fazê-lo, prejudicando os países que ainda o aceitam como referência para os seus negócios. No passado, o câmbio dependia do volume das exportações e importações, mas hoje são determinados pelos fluxos financeiros no mundo globalizado, onde as diferenças de taxas de juros entre os países possuem uma influência decisiva.
Os chineses possuem um controle muito forte sobre a sua economia e seu câmbio. A presença das empresas estatais continua forte em toda a China, bem como os bancos estatais que concedem créditos subsidiados que provocam uma distorção em todo o mercado internacional. Alegam que esta política é vital para a melhoria econômica de sua gigantesca população, que na média continua pobre, prejudicando outros países como o Brasil. Mesmo as teorias econômicas só funcionam quando todos os agentes se comportam de forma idêntica e racional, que não é o caso, destruindo as pretensões políticas e acadêmicas dos favoráveis ao mercado totalmente livre. O que começa a ser recuperado é o estado condutor.
Até os norte-americanos que contam com predomínio dos defensores do mercado livre, que proporciona vantagens para os que chegaram historicamente antes no mercado como eles, resolveram com a ação do seu banco central, o FED, inundar o mercado com uma injeção de US$ 600 bilhões que, fluindo para países considerados promissores como o Brasil, valorizam o real, usando a desculpa que estão se defendendo dos chineses. Eles podem fazer isto porque o dólar continua sendo aceito em outros países.
E por que o Brasil também não pode adotar uma política semelhante desvalorizando o real ? Primeiro, porque o poder do sistema bancário é exagerado historicamente, induzindo o governo a manter uma taxa de juros bem mais elevada que o vigente no resto do mundo. Isto poderia ser necessário quando o país era considerado de alto risco, só atraindo recursos externos pagando juros elevados. Hoje, considerado um país com risco baixo, isto provoca um forte influxo de recursos especulativos, que obtêm lucros expressivos quando comparados dos seus países de origem, sem riscos acentuados.
Mas por que não se baixam os juros internos? Porque a dívida pública é elevada em decorrência dos déficits fiscais ocorridos no passado. Haveria também um aumento acentuado da demanda que não seria possível atender com um aumento da oferta, pressionando a inflação, segundo economistas ligados aos bancos. Uma brusca redução dos juros internos provocaria também um rápido refluxo das aplicações especulativas provenientes do exterior, criando problemas para os bancos e muitas empresas fortemente endividadas no exterior.
O governo brasileiro, por intermédio do Banco Central vem agindo cautelosamente para baixar os juros reais de forma gradativa, mas não deseja que a inflação saia do controle. Vem se anunciando cortes das despesas públicas, para redução da dívida pública, mas muitos economistas colocam isto em dúvida.
O sistema bancário mundial se coloca contra medidas de controle dos exageros dos fluxos financeiros internacionais, ainda que admitido por um expressivo número de autoridades. Para tanto, utilizam os seus fortes lobbies disseminando pela imprensa notícias que não são inteiramente verdades, ainda que mesmo estas sejam controvertidas.
O China Daily, importante jornal daquele país, publica um artigo de Ahmed Sule informando que os BRICs podem construir uma moeda comum para as operações entre eles. Seria uma defesa com relação a desvalorização do dólar, mas o que aconteceria com o yuan?
Deve-se admitir que este artigo tenha uma abordagem extremamente simplificada, procurando utilizar uma linguagem compreensível para os leigos, mas procura-se mostrar que o assunto é um pouco mais complexo que parece.
Sr° Paulo Yokota,
Eu não sou economista, curso engenharia.
Mas até onde eu saiba, esta alta inflação decorre porque o crescimento da demanda não acompanha o da oferta.
Em curto prazo aumentar os preços dos produtos parece ser viável por solucionar o problema mais rapidamente, mas a acredito que a raiz da questão esteja nas indústrias e na infraestrutura.
Pois se a demanda é maior que a oferta talvez o numero de industrias não seja suficiente pra suprir a necessidade do país, somado a péssima qualidade das estradas em um país continental sem ferrovias, dificultando o fluxo de mercadorias das industrias para o comercio.
Assim não dá! As projeções sempre vão apontar pra um falta de estoque nas prateleiras dos supermercados.
Caro Tiago,
Não é preciso ser economista para compreender estas coisas. Salvo a pequena confusão no seu texto, o seu raciocínio está correto.
Mesmo na engenharia existem possibilidades de elevar a oferta, ou seja, a produção, pelo aumento da eficiência ou melhoria da tecnologia, com a mesma quantidade de fatores de produção, ou seja, resumidamente, capital e mão de obra. Mas como V. está percebendo as pressões inflacionárias decorrem dos preços dos produtos agropecuários e matérias primas, como minérios, e estão sendo importadas do exterior. A oferta pode ser aumentada via importação. Existem muitos meios para resolver estes problemas, mas na sua maioria demanda algum tempo.
A infraestrutura é vital para a logística, que permite disponibilizar os produtos ofertados onde estão sendo demandados. O longo período de baixos investimenos na área resultaram na sua deficiência, mas o governo está atento ao problema, inclusive com a utilização dos mecanismos chamados público-privados, e até mesmo a privatização, como deve ocorrer nos aeroportos.
Infelizmente, tudo demanda um tempo, que no caso asiático, está sendo abreviado. Podemos absorver uma parte destas tecnologias.
Paulo Yokota
Paulo,
Afinal por que não se baixam os juros internos?
1.Você disse: “Porque a dívida pública é elevada em decorrência dos déficits fiscais ocorridos no passado”.
Oras, por que não se tentou eliminar o deficit nominal no governo Lula?
Ademais, o superavit primário diminuiu acentuadamente nos últimos tempos, só não diminui mais graças à artifícios contábeis duvidosos, como o lucro obtido com a venda das ações da Petrobras e lançada como superavit primário pelo governo, sendo que o próprio tesouro financiou parte da compra das ações.
Na verdade, o gasto público continua elevado, apesar do superavit primário.
2.Você disse: “Haveria também um aumento acentuado da demanda que não seria possível atender com um aumento da oferta, pressionando a inflação, segundo economistas ligados aos bancos”.
Será ? Com a queda dos juros os investidores não imigrariam para a poupança, onde é isento de imposto ?
Alias, no passado o governo levantou esta preocupação, inclusive existiu uma proposta de um imposto sobre a poupança, que foi bastante criticada pela mídia e a oposição, sendo cancelado pela própria base governista.
Outra coisa, a demanda poderia ser suprida por produtos importados, de forma seletiva, restringindo setores onde não há demanda excessiva e liberando onde existem problemas. ( de fato isto já está acontecendo, vide recorde de importação em 2010).
Na verdade, a demanda aumentou mesmo com os elevados juros, graças aos gastos públicos e agravado com uma política de aumento salárial acima da inflação.
3.Você disse: “Uma brusca redução dos juros internos provocaria também um rápido refluxo das aplicações especulativas provenientes do exterior, criando problemas para os bancos e muitas empresas fortemente endividadas no exterior”.
Em termos, com a valorização do Real a dívida das empresas em dolares até diminuiu, quanto aos bancos, na última crise em 2009, depois do crash nos EUA, os bancos brasileiros foram mais resistentes que a maioria dos grandes bancos americanos e europeus…
Enfim, a questão principal dos juros está na política economica errada do governo !
Pois não existe uma certa incoerência na política de aumento das reservas cambiais ?
Ao comprarmos dolares, estamos buscando no mercado Reais a custo de altos juros em troca de dolares que renderão baixíssimos juros.
Pior, com o aumento das reservas em dolares, atraimos mais especuladores, devido a segurança que uma enorme reserva trás, criando um circulo vicioso.
Além disso, a política dos gastos públicos centrados em aumentos salariais, subsídios e ajuda social estaria incentivando o consumo, criando uma demanda que cresce mais que a oferta, pressionando a inflação e obrigando um novo aumento dos juros.
Não é à toa que Lula se tornou tão popular, pois o aumento da Renda se deve a política populista do governo e não ao aumento da produtividade, não é?
Caro Massa,
Pelo visto V. trabalha no setor financeiro, ou numa consultoria cujos interesses estão sendo afetados. Na minha opinião, e não desejo ficar somente numa discussão de duas pessos de posições diferentes, existem economistas que estão ligados ao setor financeiro (e eu fui diretor do BC na antiguidade) mas com preocupações mais relacionadas ao lado real da economia, e os que se preocupam com a produção. O objetivo da política econômica é o desenvolvimento, e se não houver demanda tudo fica mais difícil, como no Japão. Havendo demanda, os empresários na procura de resultados, tende a elevar a oferta. Desequilibrios momentaneos podem provocar pressões inflacionárias que só são danosos se existe uma tendência persistente de aumento de preços. Economistas mal preparados inventaram que o Brasil tem um potencial de produção limitado, quando a realidade vem mostrando a sua resposta aumentando a produção de commodities agrícolas e minerais, bem como aumentando a oferta de energias, duas das fontes principais de pressões inflacionárias que ocorrem em todo o mundo atual.
O que economistas como nós não conseguimos, um operário sem nível universitário como Lula da Silva conseguiu. Ele melhorou a distribuição de renda, e os que se situam nas camadas mais desfavorecidas melhoraram de situação. Lamentavelmente, o setor financeiro que deveria ser um instrumento para financiar o aumento da produção, vem se dedicando somente à especulação, arbitragens, aumentos dos fluxos financeiros internacionais, aumentando os seus lucros. Mesmo em 2008 obtiveram lucros, utilizando um poder de oligopsônio, aumentando suas margens e aumentando as suas taxas de serviço, e ameaçando a economia com uma crise sem precedentes.
O BC mantinha uma relação espúria com os bancos, dando informações que retornavam para as autoridades por intermédio das pesquisas que acabavam sendo aceitas pelo Focus. Meirelles sempre representou os bancos privados. O que mudou agora no Banco Central é que não temos mais diretores provenientes de bancos privados, somente funcionários de carreira do BC, na tentativa de redução da influência do sistema bancário. E o mundial provocou a crise de 2008, continua não aceitando uma regulamentação dos fluxos financeiros, e até inventaram a expressão de "medidas macro prudenciais" que são mais velhas que a minha participação no BC. Não é preciso ficar somente no "samba de uma nota só" de elevar os juros, pois isto prejudica o aumento da oferta, que poderia ajudar a resolver os problemas de parte das pressões inflacionárias, e aumenta o diferencial de juros que estimula o influxo de capitais especulativos. Os que desejam investir no lado real, desejam juros mais baixos. E uma parte substancial do atual déficit do conjunto das autoridades, é que somos obrigados a arcar com este diferencial de juros da sustentação das reservas, para não permitir a ampliação da oferta monetária.
O novo governo está controlando mais as despesas, não aceitou, ainda que impopular, o aumento maior do salário mínimo e fez cortes no orçamento (que muitos não acreditam, mas vai acabar ocorrendo), esforça-se para conter a pressão política para criar mais despesas. Dilma Rousseff está consciente que os juros devem baixar e a inflação precisa ser contida, mas a política econômica é uma ARTE que precisa combinar muitos instrumentos, e considerar todas as informações internas e externas. Está se contrariando o sistema financeiro, que é poderoso, e sustenta um forte lobby crítico ao Ministro Mantega e ao Banco Central, mas nesta queda de braços, esteja certo, o governo é mais resistente e poderoso. Não subestime a Dilma, pois seria um grande erro, pois ela estuda o dossie e aparenta alguma semelhança com a Dama de Ferro, a Margareth Thatcher.
Os japoneses estão ajudando o Brasil. Os fundos deles possuem investimentos financeiros de cerca de US$ 80 bilhões no Brasil que devem retornar aos poucos para o Japão para financiar o seu programa de reconstrução. Isto pode reduzir o esforço do BC na manutenção de um real mais razoável, ainda que as incertezas estejam sendo aumentadas para os agentes financeiros. No passado, os investidores estrangeiros obtiveram grande lucros, pois tinham juros assegurados e tendências de valorização do câmbio. Estas certezas estão sendo desmontadas, cuidadosamente, com cautela.
Se os investidores migrarem para a poupança seria uma grande coisa. Em todo o mundo, as poupanças populares são relativamente baratas e estáveis, fontes importantes de financiamentos de prazos mais longos para a produção.
Medidas de fortalecimentos dos bancos brasileiros foram tomadas antes da crise.
Tenho um amigo meu que sabiamente informa. Quando V. pensa que alguem está errando sistematicamente, preste atenção, pois a sua análise é que não está entendendo o que está se perseguindo, como acontece agora com muitos analistas.
O governo não faz somente o que quer, mas o que pode. Pode ser um grande erro subestimar o governo e o Banco Central, ainda que existam fortes interesses do sistema financeiros que acabarão sendo afetados.
Não acho que esta discussão esteja sendo interessante para todos. Se desejar podemos continuar pelo email, mas preciso cuidar de muitos assuntos e não ficar como um professor particular para V. Gostaria que V. enviasse um pouco do seu curriculum, e pode estar certo que o setor financeiro vem cometendo mais erros que o governo, estando se fragilizando e causando grandes prejuizos para a sociedade.
Paulo Yokota
Caro Paulo,
Obrigado pela ótima análise !
Desculpe, sou engenheiro e não trabalho no setor financeiro [risos].
Apenas quis mostrar um outro ponto de vista no seus comentários econômicos, tentanto enriquecer este site com idéias que diferem um pouco da sua linha de pensamento.
De fato não vale a pena ficarmos discutindo esse tema tão complexo, assim sendo, agradeço pela atenção especial que você deu a mim.
Estarei de olho nas outras análises economicas que você fizer, recentemente fiquei conhecendo esta página e espero que continue assim.
Enfim, é gratificante saber que existem pessoas importantes neste país que ainda estão interessados com o Japão.
Morei muitos anos no Nihon trabalhando como engenheiro, tenho vários parentes e amigos naquela "pequena" ilha.
PS:Sou um crítico racional do governo petista, mas estou consciente que a presidenta Dilma é competente para o cargo, acredito que a melhor maneira de distribuir renda é através do controle inflacionário rígido e uma política economica que incentive a iniciativa privada, com um Estado que priorize a regulação e fiscalização da economia, focando mais na educação, saúde, e segurança.
Até mais.
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Senhores,
Obrigado pela menção.
Paulo Yokota