As Mudanças Relacionadas ao Emprego no Japão
27 de julho de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, webtown | Tags: artigo do Financial Times, emprego por toda a vida, mudanças que já ocorreram há tempos | 4 Comentários »
Num artigo escrito por Mure Dickei no Financial Times volta-se à discussão da mudança ocorrida no Japão, quando o emprego tinha a perspectiva de uma carreira ao longo da vida mesmo no setor privado, comportamento que já desapareceu há algum tempo. O artigo refere-se, também, à queda da renda familiar dos japoneses ao longo dos anos recentes. Cita o caso de um casal, onde o marido está no terceiro emprego e sua esposa no sexto, mas pretendem hoje ter um filho, quando antes pretendiam dois. Informa que na geração dos seus pais, isto que está acontecendo agora não era imaginável.
O mundo mudou e o Japão também, sendo que nas últimas décadas a performance econômica japonesa vem sendo inferior a de muitos dos seus vizinhos, principalmente a China, a Índia e a Coreia do Sul, ainda que sua renda per capita continue num nível elevado, e sua população esteja se reduzindo, contando com um patrimônio nacional apreciável. O Japão sempre foi um país onde uma parcela significativa dos investimentos era feita pelas empresas que utilizavam também as poupanças geradas pelas famílias, via mercado de capitais.
Multidão caminha pelas ruas de Tóquio
Conversando com um funcionário público japonês na beira de sua aposentadoria, que ocorre antes dos 60 anos, ele se referia a um quadro dramático. Desde jovem, ele tinha se empenhado para estudar na Faculdade de Direito da Universidade de Tóquio, onde estudava a elite japonesa, ingressou na carreira num importante ministério, onde gozava de prestígio no passado e chegando à beira da aposentadoria muitos conseguiam mais anos de trabalho em entidades públicas ou privadas. Hoje, esta prática é condenada, e os funcionários públicos passaram a ser considerados os responsáveis pelas misérias atuais do Japão, sendo demonizados.
Muitos que se aposentam não conseguem manter um padrão razoável como os que tinham quando na ativa, e estão sendo obrigados a viver no exterior, onde o custo de vida é mais razoável que no Japão, mas não se conta com o conjunto das facilidades públicas disponíveis em sua terra natal.
Muitos idosos que não pouparam o suficiente para se manter adequadamente, ou suas reservas não conseguem manter o valor esperado no passado, estão sendo submetidos a situações constrangedoras, não podendo manter o círculo de amizade que tinham no passado se não contarem com patrimônios deixados pelos seus antepassados, que estão sujeitos a pesados impostos de herança. Seu padrão de vida precisa ser rebaixado.
Os mais abonados efetuam manobras, criando pessoas jurídicas que ficam com tais patrimônios, pois o sistema tributário japonês é baseado no valor histórico, não se tributando os ganhos de valor até a hora da venda. De qualquer forma, o ditado que em três gerações as fortunas desaparecem é uma realidade atual no Japão.
Quando no Japão as mudanças de endereços eram exceções, hoje muitos aposentados escolhem os locais de moradia pelas facilidades oferecidas pelas administrações públicas locais, que se diferenciam regionalmente.
Como os trabalhos coletivos foram sempre muito valorizados na cultura japonesa, os méritos individuais necessitam ser recuperados. Os proprietários de pequenas e médias empresas estão melhores que os empregados das grandes organizações em muitos casos. As grandes organizações estão expandindo suas atividades no exterior, mas nem todos os japoneses se dispõem a se transferir para o exterior na idade madura, ou quando seus filhos estão em idade escolar.
Os japoneses, como é natural, são apegados à terra natal mais que outros povos, e ainda não se acostumaram, na sua maioria, a serem cidadãos do mundo. Todos estes ajustamentos provocam estresse em muitos japoneses, abatendo o seu ânimo até para novas iniciativas, que acabam sendo feitas pelos mais jovens. Mas para os que visitam o Japão, as exuberâncias das riquezas que veem superficialmente não permitem aquilatar as dificuldades pelos quais passam muitos japoneses, independente dos recentes desastres naturais.
Em que pesem todas estas dificuldades, não são comparáveis aos do Japão destruído e derrotado na Segunda Guerra Mundial. Os recursos humanos continuam existindo, os atuais desafios são enormes e a tendência é a reação diante deste quadro, como costuma ser da natureza humana e do espírito japonês, contando com uma longa história e uma cultura admirada pelo resto do mundo. A qualquer momento, algum líder vai romper a mediocridade política e empresarial galvanizando a força de sua população. No mínimo, esta é a esperança, e que os valores individuais voltem a ser considerados.
O Japão sempre teve um fascinio e ao mesmo tempo um temor pelo “estrangeiro”.
Junichiro Tanizaki na sua obra “Naomi” detalhe bem esse dualismo na figura da ocidentalizada menina que começa submissa e termina dominando o seu protetor.
Caro Jose Comessu,
Realmente, mas isto acaba acontecendo com muitos povos. No entanto, as necessidades acabam foçando mudanças, e os japoneses já mostraram capacidade de ajustamento, ainda que forma mais demorada, dentro de uma cultura consolidada.
Paulo Yokota
Ainda levará algum tempo para o Japão valorizar as iniciativas individuais. Um país onde tudo precisa ser feito coletivamente, não irá mudar do dia para a noite. Simplesmente porque toda essas mudanças deveriam começar nas escolas, mas lá, o que se sobressaem continuam sendo “massacrados” pelo sistema, professores e companheiros. A excessiva valorização aos mais velhos não tem permitido ao jovens desenvolverem-se adequadamente.
Caro Egregora,
Já se registram algumas mudanças, forçadas pelas circunstâncias, no Japão. A valorização dos mais velhos vem do confucionismo que determina comportamentos diferentes na Coreia e na China. As escolas japonesas também estão mudando, sendo bem diferentes do que era mesmo logo após o término da Segunda Guerra. No atual mundo globalizado nenhum povo se mantem mais isolado.
Paulo Yokota