Empresas Japonesas Contratam CEOs Estrangeiros
5 de julho de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, webtown | Tags: artigo do Financial Times, o pioneiro brasileiro Carlos Ghosn, outros na linha da globalização | 8 Comentários »
O brasileiro nascido em Rondônia, Carlos Ghosn, tornou-se o principal executivo da Nissan e obteve grande sucesso na sua reestruturação, tanto que se acabou acumulando a presidência da Renault mundial de origem francesa. Poucos acreditavam que isto fosse possível, pois as empresas japonesas tinham uma cultura muito específica, e enfrentavam dificuldades na sua atuação no mundo globalizado. Mas Carlos Ghosn acabou provando a sua capacidade de incorporação de tudo o que os japoneses tinham de bom, acrescentando uma larga experiência internacional. Ele orgulha o Brasil e a comunidade internacional de executivos, pois acabou abrindo o mercado japonês para executivos estrangeiros no Japão, cujas empresas atuam cada vez mais com os olhos voltados para o mundo, não se restringindo somente ao mercado japonês, bem como seus sistemas de produção.
Carlos Ghosn, Sir Howard Stringer, Michael Woodford e Craig Nylor
Os brasileiros vieram se aperfeiçoando em todo o mundo com os olhos voltados para o mercado internacional, até porque fomos colônia de uma metrópole europeia que tinha na sua retaguarda a Inglaterra, que operava desde onde o sol nascia até onde ela desaparecia. Sempre fomos fornecedores de produtos para o exterior, pois o mercado interno ainda não tinha importância. Esta realidade está se alterando, e todos os países necessitam atuar em todos os mercados, com capacidade de entender cada um deles, suas culturas e formas de trabalhar. As empresas japonesas estão entre as primeiras que sentiram a necessidade de reestruturações de importância, abandonando a forma de atuar somente do Japão.
A Olympus, que trabalha com produtos com câmeras, inclusive de uso médico, no mercado mundial, seguiu os passos da Nissan, contratando o britânico Michael Woodford, e a Sony nada menos que Sir Howard Stringer.
O Financial Times destaca, num artigo escrito por Jonathan Soble, os executivos que estão mais relacionados com os ingleses, ainda que não sejam exclusivos. Assim, Craig Naylor está no comando da Nippon Sheet Glass e também Rolf Eckrodt, todos com currículos espetaculares, com experiências em empresas internacionais de grande prestígio.
Muitos destes executivos estrangeiros eram contratados para executar o trabalho duro de reestruturação, que exigia a demissão de muitos funcionários japoneses ou corte dos chamados overheads, ou seja, custos fixos que foram se acumulando ao longo do tempo, diante do corporativismo dos funcionários das empresas japonesas.
Parece que agora a necessidade se volta para a experiência internacional, onde estes executivos mostram conhecimentos dos mercados com outras visões, que não somente dos japoneses. Evidentemente, estas empresas continuam contando com muitos diretores japoneses, com experiências internacionais, mas não que tinham a força para impor novas medidas para seus colegas, o que pode ser facilitado pelos executivos internacionais que tenham a posição de CEOs, ou seja, o comando executivo das operações destas grandes empresas.
Se de um lado estas experiências estão sendo executadas, nota-se lamentavelmente que muitas empresas japonesas médias e pequenas que se aventuram nos mercados internacionais, tanto para a colocação dos seus produtos como para produção de partes nestes países estrangeiros, ainda não se deram conta que necessitam contar com o comando de executivos locais, que conhecem melhor estes mercados. As dificuldades continuam com o uso de comunicação com o Japão pelo sistema japonês e não internacional como já vem ocorrendo com as grandes organizações japonesas, que estão aumentando também diretores estrangeiros, ou, como chama o Financial Times, gaijins.
Empresas japonesas estão atrasadas em em vários aspectos, sejam administrativos ou produtivos. No que se referem aos contatos internacionais a coisa é ainda pior. Japoneses não gostam de estrangeiros (apenas suportam) e por isso acordaram tarde para a internacionalização dos seus produtos. As mudanças estão sendo feitas a fórceps.
Caro Egregora,
Este seu comentário não se restringe às empresas japonesas. Evidentemente, em todos os países criam-se empresas para utilizar os recursos humanos disponíveis no país. Em alguns casos de operações internacionais, as experiências externas ajudam a resolver alguns problemas, mas é preciso entender que ninguem resolve tudo sozinho. Mesmo Carlos Ghosn teve a habilidade de valorizar a capacidade coletiva da Nissan, acrescentando o seu comando, numa época que aquela empresa japonesa passsava por uma reestruturação. Estes casos não sao fáceis, e é preciso que profissionais nestas atividades ajudem as empresas, de qualquer país, a resolver os problemas bem diagnosticados, encontrando-se os executivos adequados. Muitos apresentam dificuldades de adaptação na cultura de um país. Não subestime uma economia que é a terceira do mundo, contando com poucos recursos naturais, e vivendo num arquipélago.
Paulo Yokota
Também não concordo com o comentário acima do Sr Egrega (um pouco pessoal de mais), não sei qual foi a analogia utilizada, mas não acredito que a administração japonesa esteja atrasada, apenas burocrática e cautelosa.
Não é que o japonês não gosta de estrangeiros, apenas desconfiados principalmente com Latino Americanos, talvez pelo histórico, credibilidade é tudo nos negócios internacionais.
E por último, com relação a internacionalização dos produtos japoneses, você encontra várias marcas japonesas fortes internacionalizadas e espalhadas pelo mundo. Ex: Toyota, Honda, Sony, Nintendo, Ajinomoto, NEC, Mitsubishi, Toshiba, própria Nissan…entre várias outras, e onde estão as marcas brasileiras? Havaianas? Gurgel? Positivo? Dafra? Desculpe…
Caro Hirano,
Obrigado pelos seus comentários que enriquecem o debate. Não pretendo defender o Sr. Egregora, mas conheço a maioria das empresas japonesas que V. mencionou. Elas não estão satisfeitas com a sua performance atual no mercado internacional e procuram se tornar mais competitivas no mundo. Quanto as empresas brasileiras, temos que reconhecer que somente nas últimas décadas é que estão mais atuantes no cenário internacional, mas já temos a Vale, a Petrobrás, a Ambev, a Odebrecht, a Embraer, a Cutrale e outras que nos seus setores encontram-se entre as que mais crescem no mundo. As economias emergentes estão ganhando terreno, mais do que as empresas dos países chamados industrializados, mas ainda temos muito que fazer.
Paulo Yokota
Dizer que japoneses apenas suportam estrangeiros é superficial e até maldoso.
Existem casos e casos.Alguns xenófobos não devem afamar um país inteiro, isso é cruel!
Naquele canto da Ásia é o país que mais tem estrangeiros residentes.Só de brasileiros há mais de 250mil, enquanto na Coréia há menos de 500 (quinhentos).
Inclusive o Japão é um lugar onde há muitos norte-coreanos comunistas e militantes, que jamais ousariam pisar na Coréia do Sul, onde seriam moralmente perseguidos.
Falo por experiência que eles tratam muito bem quem é respeitoso e procura se “enturmar”.
Sabe-se de casos onde brasileiros acionaram a Justiça japonesa, por sofrer racismo vindo de japoneses, e venceram.Esse país é xenófobo?
Não, esse país é maduro, mas que, como acontece em qualquer lugar, tem suas ‘laranjas podres’.
Pois bem, agora imagine um americano no comando da Vale?Um canadense à frente da Embraer?Ou um, talvez, argentino presidindo a Ambev?
Pois então, isso seria um choque cultural imenso.Coisa que, veja você, os japoneses já superaram ou caminham para superar completamente.
No esporte, muitos estrangeiros defenderam e defendem o Japão: futebol, patinação,sumô,MMA, etc.
Na música, artistas coreanos e americanos vendem até mais que muitos colegas japoneses em solo japonês.
Na TV, muito apresentadores são ‘gaijin’, etc.
E assim vai, poderia ficar horas aqui citando casos parecidos.
Me arrisco a dizer que esse processo começou em 1945, com o general Douglas McArthur.
Apesar de impor a maior derrota da história do Japão, ele era visto como homem sério e trabalhador.Foi até apelidado de ‘Maka-san’ ou ‘Gaijin Shogun’.
Mas, refente às corporações, não acho que “acordaram agora”para o mundo.Elas já fazem parte do jogo há muitas décadas.O que acontece é uma renovação de estratégias, que podem demandar um comandante competente, seja ele estrangeiro ou não.
Veja a Sony:é sabido que muitos desaprovam a gestão de Stringer, o inglês.Nas mãos dele a Sony está cada vez mais letárgica, uma pena.
Algumas corporações sofrem mas é até esperado em empresas enormes onde os fundadores já até morreram.Vide Detroit.
O que me anima muito é ver que inovações tecnológicas voltaram a “pipocar” no Japão, tanto na mão de grandes empresas como da parte de inventores e microempresários, mesmo.
Caro Raphael Keiti,
Obrigado pelos comentários. Parece evidente que as empresas japonesas contavam com relativamente poucos executivos estrangeiros, e com o atual processo de globalização os mercados externos se tornaram importantes, talvez mais que o mercado interno japonês. O aumento de executivos estrangeiros, tanto como CEOs ou outros dirigentes parece que os facilitam a se manterem competitivos, pois em alguns setores suas performances nos últimos anos tornaram-se mais modestas.
Paulo Yokota
Sr. Paulo Yokota,
Excelentes os seus artigos no site Asia Comentada.
E sobre as empresas japonesas, realmente hoje em relação ao Brasil, depois do malogrado Plano Cruzado, os japoneses se retrairam e praticamente somente agora, estão tentando retorno e ainda com excesso de cautela. Enquanto os coreanos e chineses estão “ invadindo“ o Brasil, com veiculos e diversos outros produtos de alto valor agregado.
Com os japoneses dificilmente teremos a cultura do quebra-galho.
Se for para fazer, tem que ser de alta qualidade para total satisfação do consumidor.
Caro Yoshio Hinata,
Existem boas e más empresas em qualquer país. Esperamos que as que se instalam no Brasil tenham as melhores qualificações.
Paulo Yokota