Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Política Chinesa Com Relação ao Brasil

19 de julho de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, webtown | Tags: abastecimento de produtos alimentares, energia, logística necessária

Na competente série de artigos de Marli Olmos, decorrente de sua visita à China, mostrando que as autoridades daquele país possuem uma visão estratégica dos investimentos que estão efetuando no Brasil, fica evidente que eles agem conscientes das condições indispensáveis. Cientes que existem limitações para a aquisição de terras cultiváveis neste país, montam uma adequada estrutura de agrobusiness e um sistema logístico que lhes garantam o abastecimento de que necessitam.

Assista também ao vídeo de Marly Olmos no http://www.valoronline.com.br/video/22566

Ainda que seja de conhecimento dos especialistas, o grande público e mesmo os profissionais mal preparados não sabem que parte substancial dos preços dos produtos agropecuários exportados pelo Brasil, bem como minérios e produtos que contém energia, não decorrem da produção. Os sistemas logísticos e as intermediações necessárias no comércio internacional acabam ficando com a parte do leão. Chegam a ser de 20 ou 30% para os produtores e 70 a 80% para estes demais custos, mesmo quando não se tratam de mercados distantes como os asiáticos.

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Vice-ministro das Relações Exteriores da China, Zhang Kunsheng

O vice-ministro de Relações Exteriores da China, Zhang Kunsheng, recebeu um grupo de jornalistas latino-americanos em Beijing, para esclarecer aspectos que interessavam aos convidados. Ele mostrou que alimentar todos os chineses é uma tarefa difícil e precisa contar com o abastecimento proveniente de países como o Brasil.

Mas mostrou que está consciente que não pode adquirir terras cultiváveis como a China vem fazendo em alguns países africanos. Todos os investimentos que eles vêm fazendo tanto no seu país como financiando os necessários no exterior preparam um sistema logístico eficiente para fazer chegar estes produtos, de forma competitiva no outro lado do mundo. Eles melhoraram sensivelmente os seus portos, contam com equipamentos adequados nestes pontos vitais, aumentam substancialmente seus navios para a marinha mercante, dão prioridade para os escoamentos das zonas produtoras até os portos de embarque.

Sabem que precisam contar com complexos de agrobusiness para competir com outros operadores internacionais para adquirirem os produtos que necessitam. Aprenderam com o “Nixon shock” que estão sujeitos a boicotes, e precisam contar com fontes de fornecimentos diversificados, operando amplamente no mercado internacional, para garantirem o atendimento de suas necessidades.

De forma similar, os chineses têm necessidade de energias importadas de variadas fontes, e estão investindo para contar com produções feitas em parcerias, e parecem dispostos a continuar aumentando seus relacionamentos com empresas brasileiras como a Petrobras. Contam com recursos para tanto, como os US$ 10 bilhões que já adiantaram para o Brasil, via aquela estatal.

Os chineses estão se empenhando no desenvolvimento tecnológico com investimentos para abastecer parte do mercado brasileiro, para produtos em que estão se tornando altamente competitivos, pois contam com um mercado interno invejável e montam produtos para empresas multinacionais reconhecidas mundialmente. Estão se dispondo a investir adicionalmente para assegurarem parte destes mercados em países emergentes como o Brasil, que já importam muitos dos seus produtos industriais.

Mais que os países industrializados, as necessidades internas da China se assemelham às brasileiras, pois contam com um expressivo mercado de uma nova classe média que continua crescendo a uma velocidade espantosa. Portanto, produtos eletrônicos ou automóveis de baixos custos acabam ganhando prioridade, sendo mais competitivos que os produtores internacionais tradicionais.

O Brasil necessita aprender com estas estratégias de longo prazo que estão sendo implantadas pelos chineses, pois não podemos continuar concentrados nas exportações de produtos primários, mas adicionar valor agregado nos que são colocados no exterior.

O mercado internacional acaba resultando no intercâmbio de produtos do mesmo setor, além da complementaridade que também pode ser explorada. Mas o equilíbrio adequado deve ser procurado.