Intercâmbio Cultural do Japão com a Alemanha
30 de agosto de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, webtown | Tags: exposição em Berlim, retrospectiva de Katsushika Hokusai, seus mangás
Se existe uma semelhança da forma de ser dos japoneses com os ocidentais, seguramente a proximidade é maior com os alemães. Ainda que a ligação do Japão durante o longo período do seu isolamento efetuava-se com os holandeses, que mantinham um entreposto em Nagasaki, quando na Era Meiji o Japão voltou a se relacionar com o resto do mundo, procurou na sua modernização utilizar o Código Civil de inspiração napoleônica. No entanto, com o tempo, verificou-se que o direito alemão ajustava-se melhor à forma de ser dos japoneses, acabando por influenciá-la fortemente. Quando a Europa passou a admirar as coisas do Oriente, a Alemanha acumulou uma impressionante coleção de “ukiyoe”, inclusive de Katsushika Hokusai. Quando se comemora os 150 anos das relações de amizade entre os dois países, nada mais justo que uma retrospectiva deste artista que está sendo realizada em Berlim.
No Berlin’s Martin-Groupius-Bau realiza-se a exposição retrospectiva de Katsushika Hokusai, que é o artista japonês mais conhecido no Ocidente, com o patrocínio da Fundação Japão e suporte de diversas organizações culturais e privadas japonesas, que deve se estender até fins de outubro próximo. Entre as obras mais inusitadas serão apresentadas as “Hokusai Mangá”, pouco conhecidas que mostram gravuras com matrizes em madeira já naquela época.
Gravura do Monte Fuji, os mangás e o Berlin’s Martin-Gropius-Bau
Há quem informe que a coleção alemã é mais rica do que se dispõe no Japão sobre este mestre do ukiyoe. De qualquer forma, este evento cultural deve ser considerado da mais alta importância, pois é uma marca da importância que os europeus deram ao Oriente e ao Japão, ainda num período em que pouco se conhecia daquela parte do mundo.
Se muitos dos artistas que criaram a chamada Arte Moderna na Europa, nos anos da virada do século XIX para XX, fizeram constar em seus trabalhos objetos orientais, pode-se concluir o fascínio que eles exerciam sobre todos que estavam na vanguarda das artes.
Os comerciantes europeus que tiveram o privilégio de viajar pelo Japão procuraram estes objetos de arte, que despertavam a sua admiração, por serem totalmente diferentes do que se fazia na Europa, contribuindo para um intercâmbio importante. De outro lado, artistas orientais, principalmente os japoneses, consideravam a Europa a vanguarda do que se poderia conceber na época, não só na França, na Alemanha, na Inglaterra como na Áustria e na Itália.
Era uma época de ouro, quando dois mundos tão diferentes, com suas comunicações precárias, viagens longas e difíceis, procuravam absorver o que havia de melhor, sem nenhum preconceito.
Há que esperar que tais exposições tenham a oportunidade de serem apresentadas também no Brasil, pois somos também herdeiros de uma cultura europeia que despertava o interesse de todo o mundo.