Yoshiaki Nakano Sobre a Independência do BC
13 de setembro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: colocações ponderadas, coluna no Valor Econômico, respostas às criticas dos economistas ligados aos bancos
O jornal Valor Econômico costuma dar oportunidade para economistas de variadas tendências expressarem suas opiniões, e Yoshiaki Nakano, diretor da Escola de Economia de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas, de forma abalizada, expressa seus pontos de vista sobre a discussão que se trava no Brasil. Desde que o Banco Central reduziu a taxa Selic de juros em 0,5%, muitos economistas ligados ao sistema financeiro e consultorias que dão orientações aos que vivem de suas aplicações financeiras passaram a atacar as autoridades monetárias alegando que a instituição perdeu a sua autonomia, dependendo da vontade do governo, de forma injusta.
Nakano expressa, corretamente, que o Banco Central atual não conta mais com diretores representantes do sistema financeiro, que informavam os seus colegas das instituições privadas, utilizavam o chamado Focus para expressar seus pontos de vista que antes eram acatados como se fossem do “mercado”. Neste sentido, o Banco Central recuperou a sua verdadeira autonomia, baseando-se não somente no que ocorreu no passado, mas compreendendo que a sua função de controlar a inflação no prazo médio depende também do comportamento da oferta. As indicações do Banco Central já estão acelerando a queda dos juros no Brasil, que eram recordes no mundo, apesar de todos considerarem que sua economia tinha condições para atrair recursos externos. O mercado antecipa o que tende a ocorrer ao longo do tempo.
Economista Yoshiaki Nakano
Nakano trabalhou com Bresser Pereira e com Mário Covas, mas sempre manteve sua independência dos seus colegas que tinham uma posição ideológica do que informado pelo que se conhece precariamente como teoria econômica. Aliás, Delfim Netto, na sua coluna de hoje no mesmo jornal, expressa as limitações dos conhecimentos desta teoria, sofisticada pelos instrumentos de econometria, da qual foi um dos introdutores no Brasil. É o reconhecimento que os conhecimentos estão se aperfeiçoando, para permitir o exercício da arte da política econômica, respeitando o pouco que se conhece de objetivo em matéria desta área. Muitos continuam presos aos dogmas, como estivessem tratando de religiões.
Joan Robinson ensinava que “a prova do pudim é quando se come”, e os que já se equivocaram no passado continuam insistindo que a inflação tende a se descontrolar, quando o Banco Central já vem acertando sobre a profundeza da atual crise, bem como a tendência de perdurar por um longo período, que inexoravelmente deverá reduzir a pressão inflacionária mundial, que já demonstra que passou pelo seu pico de máxima.
O futuro é sempre incerto, e muitos fatos podem provocar mais distúrbios do que já está se observando. Ninguém os desejam, e se esforçam para reduzir as dificuldades que estão sendo enfrentadas pelo mundo chamado desenvolvido, provocando até a estranha cooperação dos emergentes, principalmente dos BRICs para ajudar a resolver parte dos problemas europeus.
Nos momentos de incertezas, tem razão o Banco Central do Brasil em reservar suas possibilidades para manter um mínimo de crescimento econômico, contribuindo com o que for possível para minorar a tendência à redução das atividades econômicas. Não se justificam juros tão elevados, e mesmo com alguma redução, continuarão acima dos atuais patamares mundiais.
Lula da Silva conseguiu, somente com seus conhecimentos de um líder operário e sua intuição, reduzir o impacto da crise anterior, recomendando que a população brasileira continuasse a consumir para preservar os seus empregos. Parece recomendável que os que continuam ganhando, e muito, no sistema financeiro, tenham a humildade de reconhecer que os interesses de toda a população devem estar acima dos seus, não havendo nenhuma razão para manterem seus serviços indexados inadequadamente aos preços como já ocorreu no passado.