O Comercio Marítimo no Sudeste Asiático
2 de dezembro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Depoimentos, Editoriais, Notícias | Tags: artigo do site Ocidente Subjetivo, navegação no Sudeste Asiático | 3 Comentários »
*Por Bruno Banha, publicado originalmente no Ocidente Subjectivo, de Portugal
*Mantida a ortografia oficial de Portugal, que ainda não aderiu ao acordo ortográfico
A região Ásia-Pacífico pode ser identificada como um centro gravitacional de comércio, demonstrado pela dimensão das frotas regionais, pelos grandes portos (8 dos 10 maiores portos do mundo encontram-se na região e de salientar que 6 são na Republica Popular da China) e pelo número de navios que navegam na região, no entanto várias rotas marítimas, com maior densidade de tráfego, atravessam uma região com algumas disputas territoriais entre vários Estados, pelo que a consequente instabilidade tem prevalecido (Geise, T., p6, 2011).
Este estatuto como centro gravitacional segue o crescimento de toda a região. A RPC é, sem dúvida, o driver mais relevante nessa matriz, não podendo descurar, no entanto, as economias do Japão, Coreia do Sul, Taiwan, bem como toda a sub-região do Sudeste Asiático com a sua elevada dependência do comércio marítimo. Este crescimento regional tem provocado uma crescente demanda por contentores e navios para transportá-los, fazendo aumentar o volume de negócios dos portos regionais e do tráfego marítimo regional, estimulado por uma contínua intensificação das trocas comerciais inter e intra-regional. Este crescimento regional, além disso, desencadeou demandas crescentes de energia, necessária para sustentar esse crescimento, dependências que variam entre os 60% e 90% para os Estados do Nordeste Asiático, o que explica porque o aumento do tráfego de contentores é acompanhado por um aumento no tráfego de petroleiros (Geise, T.,p6, 2011).
Cerca de 80% da região do Sudeste Asiático é constituída por mar, as ilhas e penínsulas da região estão situadas entre os oceanos Pacífico e Índico, sendo como uma fronteira para principais artérias de comunicação e comércio mundial. De acordo com a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), o crescimento económico e o comércio de mercadorias por via marítima estão intimamente relacionados. Nos últimos anos, a quota da Ásia no total de mercadorias transportadas por mar a bordo dos navios aumentou para 41 por cento, seguido, por ordem decrescente, pelas Américas, Europa, África e Oceânia.
O sector de transporte marítimo que mais tem crescido é o de contentores, o qual a Ásia detém cerca de 60% do global, segundo o “Relatório do transporte marítimo de 2010”, tendo sido a sua quota, em 1995, de 50%. Este é o tipo de transporte, dos principais tipos de carga (granel, petróleo e contentores) que mais tem crescido nos últimos anos. Outro factor importante, que demonstra a importância que a região Ásia-Pacífico tem no comércio marítimo mundial é o facto de 8 dos 10 portos mais movimentados no mundo estarem localizados na Ásia oriental, tal como referido anteriormente e como demonstrado na tabela abaixo.
Dependência de Petróleo Importado na Ásia, 1971 – 2030.
Hoje em dia a população do Sudeste Asiático reside ou depende economicamente do mar que é contudo, ao mesmo tempo, a fonte de uma multiplicidade de ameaças e factores de instabilidade que colocam em perigo não só a prosperidade das populações locais como também ameaçam directamente a segurança dos Estados (Bradford, J. F., p1, 2005).
Cerca de 2/3 do abastecimento de recursos energéticos pela Coreia do Sul e mais de 60% por parte do Japão e de Taiwan transitam anualmente pela região do Sudeste Asiático. Por outro lado, pensa-se que o Mar do Sul da China poderá conter uma larga variedade de recursos energéticos (incluindo petróleo e gás natural) e minerais, mas a sua exploração tem sido comprometida pelo conflito existente entre diversos países em torno de reivindicações de soberania.
Interessantíssimas e oportunas ponderações de Bruno Banha, mais ainda se fizermos a correlação existente da situação atual dessa região como “centro gravitacional de comércio” com a que já florescera entre os anos de 1403 e 1419: quando o almirante Zheng He, a serviço do imperador Yong Le (dinastia Ming), estabelecia a chamada Rota da Seda Marítima pelo Mares do Sul da China-Pacífico-Índico, contornando a Índia e atingindo a costa oriental africana, quiçá explorando o litoral atlantico (Gavin Menzies, “1421”). Estaleiros de Nanjing construiram embarcações de até 3.000 toneladas; Nanjing era dos maiores portos do mundo então (o que Xangai seria hoje). Foi a época dourada da navegação exploratória e comercial chinesa, mas já séculos antes, o império mongol chines de Kublai Khan tentara dominar os mares do leste asiático: tendo conquistado o reino da antiga Coréia, fez várias tentativas de anexar o Japão.
Foi também os tempos em que os portugueses partiram para as grandes descobertas e conquistas por mares nunca dantes navegados – e que dominaram. Enquanto o poderio da China declinava e se recolhia, e Yong Le transferia a capital, de Nanjing, para os imensos palácios de Peking.
O site foi feliz em manter a ortografia oficial de Portugal neste artigo: nos dá oportunidade de comparar as línguas de Portugal e do Brasil: lá, a soberana língua de Camões se mantém clássica, conservadora, “vetusta” (com o maior respeito), e soa “saborosa” e nostálgica para nós brasileiros. Cá, a língua portuguesa brasileira, aberta, atrevida e sem preconceitos inova a cada dia, deixando os portugueses “estupefactos com a elasticidade dada pelos brasileiros à língua” – como disse a visitante de Braga, Helena Alves.
Ora, pois. Saudações a Bruno Banha.
Caro Paulo Yokota,
O Acordo ortográfico está em vigor em Portugal, pelo menos no ensino,o que acontece é que muitos portugueses estão contra esse acordo, inclusive eu, pois não vejo porque não se mantenham as diferenças. Eu bem sei que com o tempo a nossa lígua tem sofrido muitas alterações, mas o facto, (não fato, pois para nós fato, é para os brasileiros, terno , vestuário masculino) 🙂 de termos de mudar “abruptamente” a nossa escrita vai ao encontro de uma descaracterização da língua mãe. Penso que se deveria manter e como diz Naomi Doy, a parte da inovação foi e é inerente ao Brasil. Nós por cá somos um bocadinho “botas de elástico” e manter o classicismo seria muito bom!
Cara Helena Alves,
Muitos concordam que o Acordo Ortográficico foi precipitado, havendo que se respeitar as formais locais de expressão. Mesmo no Brasil, um país mais amplo, existem acentuadas diferenças, principalmente na linguagem falada pela população. Para uma comunicação adequada, principalmente entre simples rurículas, tive que utilizar interpretes, ou gastar muito tempo de conversa para que eles entendessem que sou um simples brasileiro, mesmo quando fui autoridade e tivessa a cara de um japonês (como muitos indígenas brasileiros).
Paulo Yokota