Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Complexos Problemas Geopolíticos no Sudeste Asiático

14 de dezembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: a influência da diáspora chinesa, artigo sobre o assunto no Bloomberg, interesses chineses, interesses nipo-americanos, problemas de segurança e comerciais

O Sudeste Asiático está merecendo uma atenção cada vez maior tanto da China como da aliança nipo-americana envolvendo o comércio, os investimentos e financiamentos, como problemas relacionados com as disputas territoriais, que acabam ampliando as preocupações com a segurança regional. Enquanto as mais altas autoridades chinesas intensificam visitas aos países vizinhos da região, procurando intensificar o seu intercâmbio, o primeiro-ministro Shinzo Abe hospeda a cúpula dos líderes da ASEAN – Associação dos Países do Sudeste Asiático, ao lado do aumento de viagens de autoridades japonesas para a região, procurando ampliar os intercâmbios com investimentos e financiamentos japoneses. Os interesses comerciais regionais de todos com os chineses são substanciais, bem como existe uma diáspora dos imigrantes chineses que representam importantes contingentes populacionais de seus descendentes na região, o que não acontece nem com os norte-americanos nem com os japoneses, o que não pode ser desprezado. Estas tentativas de aumentar suas influências estão se intensificando de todos os lados.

Como se trata de uma das regiões mais dinâmicas do mundo atual, mesmo que seus problemas também sejam monumentais, tanto pelas dimensões de suas populações como portadores de longas historias e consolidadas culturas que voltam a serem valorizadas, estas disputam acabam chamando a atenção mundial. Mas não parece possível simplificar as questões, imaginando que já se caracterizam dois blocos, pois existem variadas sobreposições de interesses, que muitos pretendem simplificar nas suas análises. Um artigo elaborado por Chris Blake e Isabel Reynolds para o site da Bloomberg procura discutir algumas destas complexas situações.

organizao-do-asean-28463882

Segundo as autoras, o aumento das atividades dos três principais atores da geopolítica desta região, a China, o Japão e seu aliado os Estados Unidos trazem a área para um nível de atenção jamais visto desde a Guerra do Vietnã, envolvendo interesses de bilhões de dólares.

Se de um lado Shinzo Abe hospeda a reunião com a cúpula do ASEAN, o secretário de Estados dos Estados Unidos John Kerry visita as Filipinas e o Vietnã. Existe um evidente esforço para formar uma frente única contra a nova zona de defesa aérea da China no Mar da China Oriental, que abrange ilhas hoje controladas pelo Japão, com o respaldo dos Estados Unidos. Mas a maior potência do mundo está desgastada com as custosas intervenções que fizeram no Iraque e no Afeganistão, principalmente, necessitando que os seus aliados regionais contribuam mais com os gastos necessários para a defesa da região.

Os chineses também enviam o presidente Xi Jinping e o primeiro-ministro Li Keqiang para visitas aos países da região, informando sobre a disposição de ampliar suas cooperações econômicas para os projetos de diversos países da região.

Os países da região estão preocupados com o risco de terem que fazer uma escolha entre o lado da China ou Japão – Estados Unidos, quando seus interesses estão em ambos os lados. A região do ASEAN desperta uma clara atenção, pois, além de contar com 600 milhões de habitantes, sua crescente classe média atual de 40 milhões de pessoas deve passar a mais de 85 milhões até 2017, com um crescimento expressivo segundo o Banco Asiático de Desenvolvimento.

Os japoneses estão acenando com suas capacidades de financiamento utilizando suas reservas externas, que são a segunda no mundo, nos casos de emergência. Mas os chineses contam a maior reserva mundial, que estão também utilizando para finalidades semelhantes. Alguns países expressam ainda que existem problemas de confiança decorrentes do passado que também dificultam os entendimentos.

As instituições financeiras privadas da região também estão se envolvendo em consonância com as atividades governamentais, que revelam a disposição de uma ação conjunta no confronto com a China. Até equipamentos militares estão sendo oferecidos para os países que contam com pendências com a China. Mas ninguém espera que o conjunto do ASEAN tome somente o partido de um dos lados.

A China continua com o seu comércio exterior em ampliação e acaba sendo um mercado que interessa para todos, inclusive ao Japão e aos Estados Unidos, ainda que existam problemas de disputas de ilhas. Também os chineses estão aumentando a sua capacidade militar na região, inclusive com a criação de uma nova zona aérea que gera reações de muitos países, inclusive do Japão como da Coreia do Sul, apoiados nos Estados Unidos.

Em tudo isto, os especialistas continuam entendendo que as relações comerciais acabarão sendo importantes, procurando-se criar áreas de livre comércio como as que se consolidaram na Europa, mesmo com todos os seus problemas. Muitos apontam que as atuais tensões não são convenientes para a consolidação dos interesses comerciais, em ambos os lados. Trata-se, portanto, de um complexo problema de geopolítica, onde tende a prevalecer formas de convivência, ainda que existam pontos de divergências.