Ainda as Dificuldades da Concorrência do Trem Bala
23 de fevereiro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: construção civil e aproveitamento dos pontos de venda, novo edital, redução dos riscos, separação da tecnologia e operação
Um artigo abrangente publicado por Daniel Rittner e André Borges no Valor Econômico informa que um novo edital do trem bala reduz risco cambial e de demanda, ajudando a estimular a concorrência de grupos internacionais no fornecimento de tecnologia e experiência de operação. Eles ficariam separados da construção civil e aproveitamento imobiliário das proximidades das estações, que dependeria de um projeto executivo de engenharia. Segundo o ministro dos Transportes Paulo Sérgio Passos, o assunto estaria pronto para uma reunião envolvendo todos os organismos governamentais relacionados com o projeto, visando a aprovação final da presidente Dilma Rousseff.
Em que pesem os avanços obtidos, ainda cabe uma consideração sobre a forma de financiamento de um empreendimento desta magnitude. Verificando-se as histórias dos projetos ferroviários, sempre se considerou a valorização das regiões beneficiadas como forma de arcar com parte destes elevados custos. Algumas áreas foram destinadas às atividades urbanas e agropastoris, e outras visaram o melhor aproveitamento imobiliário de áreas já existentes nas ferrovias, como pátios, armazéns e demais áreas com elevados potenciais de valorização imobiliária.
Ministro dos Transportes Paulo Sérgio Passos
Das explicações contidas no artigo, pode-se concluir que as autoridades estão tentando minimizar os riscos que não permitiram os concorrentes internacionais participarem das tentativas de concorrências anteriores. De um lado, está se proporcionando os recursos para a aquisição antecipada dos trens e todas as tecnologias envolvidas, proporcionando a redução dos riscos cambiais.
Normalmente, os recursos provenientes do BNDES previstos em R$ 22 bilhões só são destinados às aquisições feitas no Brasil, mas parece que está se prevendo a possibilidade de serem utilizados para as importações.
Outra dificuldade decorre das estimativas do custo do projeto todo, e o ministro de Transportes espera que com o projeto executivo pronto, a sua variação que vai de R$ 34 a 50 bilhões seja reduzida.
De outro lado, está se reduzindo o risco da falta de demanda, vinculando o pagamento da outorga ao número de passageiros efetivamente transportados, pois existem diferenças dependendo dos trechos. Com isto o governo estará correndo parte do risco.
Com a sistemática atualmente cogitada, estará se separando a primeira parte da concorrência para a tecnologia dos trens rápidos, o seu fornecimento e sua operação. Alguns grupos alegam que este modelo exige um custo de manutenção elevado, cuja tecnologia é difícil de ser transferida. No caso japonês, por exemplo, as velhas técnicas de toques nos equipamentos determinam quais necessitam ser revistos pelo som.
A segunda parte da concorrência seria da construção da ferrovia e exploração dos seus arredores. Mas com o traçado determinado, passando por áreas novas, não se vislumbra ganhos com o uso de áreas hoje mal aproveitadas pelos antigos traçados das ferrovias existentes.
O governo espera que grupos estrangeiros tenham interesse na primeira etapa, e o artigo cita: franceses liderados pela Alstom, alemães liderados pela Siemens, japoneses liderados pela Hitachi-Mitsubishi e Toshiba, e finalmente os coreanos liderados pela Hyundai e Samsung.
Na segunda fase, os fornecedores de tecnologia e operação fariam os entendimentos com as construtoras pesadas, associação que terá estar esboçada mesmo na primeira parte, onde a coordenação entre os dois grupos é sempre difícil. Na eventualidade de problemas com as operações, as responsabilidades ficarão com as estrangeiras, que não se beneficiam dos ganhos imobiliários?
Mas o ponto fundamental da atual separação em dois blocos é a hipótese que tudo terá que ser arcado com financiamentos e riscos do governo. Haverá orçamento suficiente para tanto ao longo de 40 anos? A escassez de recursos públicos é que tem levado os projetos do passado para a possibilidade de aproveitamento do ganho de capital.
É preciso recordar que somente dois trechos no mundo de trem rápido vêm apresentando resultados positivos: de Paris à Lyon e de Tóquio a Osaka. Todos os demais são deficitários. Haja orçamento público para tanto por décadas.