Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Ainda o Trem Rápido de Campinas-São Paulo-Rio de Janeiro

9 de julho de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: dificuldades ainda existentes, projeto do trem rápido brasileiro, tentativas de correção do processo

Uma notícia elaborada pelo jornalista André Borges, publicada no Valor Econômico deste fim de semana, coloca algumas discussões sobre o assunto do projeto do trem rápido ligando Campinas ao Rio de Janeiro, passando por São Paulo e o aeroporto de Guarulhos para chegar ao Rio de Janeiro, numa ordem mais razoável, mas ainda deixa dúvidas. Anuncia-se uma licitação internacional para a execução do projeto executivo de engenharia do projeto, pois os concorrentes dos editais anteriores reclamavam, com razão, que sem saber exatamente o que seria executado não havia como apresentar suas propostas. Informa-se, agora, que o Brasil não conta com grupos capacitados para elaborar tais estudos, sendo necessário que absorvam experiências acumuladas no exterior, com a possibilidade de montagens de consórcios.

O que ainda parece confuso na notícia é que se pretende licitar outros aspectos fundamentais, paralelamente, como quem vai executar as obras e quem vai operar o sistema, inclusive com a tecnologia que vai suportar o projeto. Evidentemente, isto parece incongruente, pois o projeto detalhado de engenharia deve supor uma tecnologia e não há como determinar quem poderá executá-lo, e nem como haveria possibilidade de escolher o operador do sistema, pois nada pode ser independente da tecnologia que seria utilizada. Espera-se que estes aspectos sejam totalmente esclarecidos, agora que se admite que o cronograma não seja mais exequível para atender a Copa do Mundo ou as Olimpíadas.

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Tudo indica que o desejo de contar com um sistema de trem rápido ligando São Paulo e Rio de Janeiro, as duas grandes metrópoles brasileiras, suplantou as necessidades de conhecimentos técnicos, divulgando-se tumultuadamente alguns editais que só revelaram o desconhecimento das autoridades brasileiras sobre o assunto. Vão se acumulando despesas, cogitando-se da criação de uma estatal para cuidar deste assunto. Parece que estes projetos gigantescos, envolvendo somas astronômicas de recursos necessitariam de considerações mais cuidadosas.

Todos sabem que existem grupos internacionais como os que executaram os projetos dos trens rápidos na França, na Alemanha, na Coreia, no Japão e na China. Estes projetos, além de envolverem somas incríveis de investimentos, acabam sendo de rentabilidade duvidosa, informando-se que somente o trecho de Paris a Lion e de Tóquio a Osaka são positivos, e outros apresentam déficits operacionais que necessitam ser cobertos por outros mecanismos. Certamente promovem a melhoria da tecnologia, mas a sua execução acelerada apresenta muitos riscos, e para reduzi-los os investimentos acabam sendo maiores.

É preciso reconhecer que a intensidade de tráfego no Brasil não é tão elevada como nas regiões que são consideradas superavitárias, e tudo indica que soluções parciais e menos sofisticadas poderiam ser mais recomendáveis. Existem muitas outras necessidades de transportes de massa, tanto de passageiros como de cargas, inclusive de líquidos ou gases que podem ser resolvidos por dutos.

Tudo isto parece exigir discussões técnicas mais amplas, menos apaixonadas, onde todos os problemas envolvidos sejam equacionados, atingindo-se um consenso mínimo. Existem outros desafios que podem estimular inovações tecnológicas no Brasil, mas sempre exigirá um núcleo mínimo de brasileiros, principalmente autoridades, para encaminharem projetos que talvez tenham maior prioridade.