As Dificuldades da Gestão
23 de julho de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: as dificuldades existentes, críticas generalizadas das gestões, experiências passadas
Se existem críticas quase consensuais sobre determinados assuntos, um deles parece ser sobre a gestão no Brasil, que além do setor público atinge também serviços privatizados. Raríssimos são os elogios formulados, até porque os que estão conseguindo resultados positivos preferem tirar partido da situação, sem alardear as razões do seu sucesso, para não serem imitados, reduzindo os méritos que eles obtêm. Muitas razões podem ser apontadas como as que determinam esta lamentável situação, mesmo reconhecendo que as experiências positivas obtidas no exterior também apresentam algumas inconveniências, não decorrendo somente da insuficiência no preparo local dos recursos humanos.
Os que administraram grandes organizações, públicas ou privadas, relatam as suas experiências mostrando que nenhum executivo pode comandar um número exagerado de subordinados diretos. Quando são obrigados a tanto por organogramas pouco racionais, acabam concentrando a atenção a uns poucos, ficando os outros com despachos eventuais. Parece ser o caso do gabinete do governo federal, que teoricamente somam algumas dezenas de ministros, mas a presidente Dilma Rousseff rotineiramente só transmite suas orientações a poucos auxiliares diretos.
Esplanada dos Ministérios em Brasília
Sabemos que herdamos da cultura portuguesa uma parte de um sistema burocrático exagerado, do tipo cartorial, onde o poder deriva da possibilidade de decisão sobre alguns assuntos. Acaba tendendo a criar obstáculos que precisam ser superados ou contornados, tanto na administração pública direta como na que deveria ser descentralizada, para proporcionar maior agilidade. O sistema não favorece a delegação com a cobrança dos resultados, pois os mandatos não são claros, nem existem metas estabelecidas. Isto tende a acontecer também nas grandes organizações privadas, onde acaba se desenvolvendo um corporativismo, com grupo dominando determinadores setores da organização global. Até existe uma especialidade do assunto, que se denomina antropologia organizacional, como a que é lecionada na London School of Economics.
Inúmeras foram as tentativas de reorganização, racionalização, desburocratização ou qualquer nome que se pretenda dar na administração pública brasileira. Sempre existiram formas de estabelecer o ingresso por concurso, estabelecimento de carreiras, onde parte das promoções deveria decorrer dos méritos. Pouco se conseguiu de aperfeiçoamentos, consagrando-se o chamado direito adquirido de muitos funcionários, que só agigantam os custeios.
Somem-se a isto os inúmeros cargos que são preenchidos por conveniências de variados tipos, onde se destacam as políticas. Salvo honrosas exceções, os cargos chaves são preenchidos por funcionários considerados de confiança, em número exagerado. Poucos são os organismos que os escolhidos necessitam ser entre os de carreira.
Mas é evidente que existem interesses que movem a burocracia, até a pública. Sem dúvida, uma parcela importante do poder decorre das verbas com que as instituições possuem, e na medida em que ser percebe que determinadas personalidades contam com maiores facilidades para a sua obtenção, até organismos subordinados a outros ministérios tendem a ser agregar aos comandos dos que contam com estas características.
Há muitas experiências concretas em que dezenas de organismos públicos de diversas áreas se aglutinavam a um determinado programa, na medida em que ele era comandado por alguém que tinha acesso ao poder central. Em que pesem as dificuldades, sempre existe formas de algumas soluções.
Multiplicaram-se as agências reguladoras, mas além delas acabarem sendo coptadas pelas entidades que deveriam ser fiscalizadas, a falta de uma clara definição dos seus mandatos resulta, em muitos casos, reduzindo a sua eficiência. São problemas complexos, mas que necessitam ser atacados, pois o país parece estar sofrendo, mais que outros concorrentes, dos males de uma gestão ineficiente, que podem ser corrigidos.
No caso das grandes empresas privadas, como seus objetivos fundamentais são os resultados, na medida em que eficiência da gestão fica comprometida, os seus controladores tendem a promover alterações, o que é mais difícil no setor público.