Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

As Dificuldades da Governança Mundial

25 de setembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: evidências explicitas na Assembleia Geral da ONU, o mundo forma e real, poderes efetivos de alguns segmentos

Ainda que o mundo em rápida mudança aspire uma melhor governança com a ajuda dos organismos internacionais, a atual Assembleia Geral das Nações Unidas está explicitando a falta de correspondência entre a realidade e a formalidade. Os analistas mais competentes estão admitindo que o eixo do mundo esteja se deslocando fazendo com que a Ásia ganhe maior importância real, mas o que se observa é que a África, pelo seu elevado número de países, continua formalmente com maior número de votos na ONU, que se tornou irrelevante, lamentavelmente. Para se ajustar melhor à realidade, procura-se concentrar o poder efetivo no Conselho de Segurança da ONU, que foi formado depois da Segunda Guerra Mundial, fazendo com que alguns países considerados como vencedores tenham o poder de veto e outros são membros permanentes, ainda que hoje tenham menor importância.

Em muitos organismos que fazem parte da ONU, como a UNESCO, a FAO e muitos outros, como a representação africana é numerosa, países econômica e politicamente desistiram de sua participação efetiva, não contribuindo para os seus orçamentos e estas entidades encontram-se relativamente esvaziadas, só cuidando de honrarias sem maior expressão econômica ou política. Ainda que a presidente Dilma Rousseff tenha usado o privilégio brasileiro do primeiro discurso na Assembleia Geral, que decorre do prêmio de consolação por não ter sido incluído como membro permanente do Conselho de Segurança, a contribuição brasileira só tem o papel de contar com um palco para apresentação de sua posição aos meios de comunicação mundial e as numerosas, mas inexpressivas delegações da totalidade dos países membros da ONU.

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Presidente Dilma Rousseff durante discurso na Assembleia Geral da ONU

Mesmo os atuais problemas mais cruciais estão sendo decididos à margem da ONU, como no caso da Síria que decorreu basicamente de um entendimento entre os Estados Unidos e a Rússia, com a simples aceitação parcial dos outros, sem que Barack Obama se mostre totalmente submetido à decisão mesmo do Conselho de Segurança, reservando-se a uma eventual ação militar isolada. Outro fato relevante foi a nova posição do Irã, que também se altera cuidadosamente, com uma paciência oriental, não se precipitando no contato com o presidente norte-americano, já considerado como um lame duck, no declínio natural do seu governo.

O professor Delfim Netto, na sua coluna semanal na Folha de S.Paulo, expressa a sua opinião que nem o FMI – Fundo Monetário Internacional ou entendimentos mundiais como os que permitiram a existência do BIS – Banco Internacional de Compensações, o banco central dos bancos centrais, não tem mais a importância que deveriam contar na governança mundial. Uma simples decisão do FED – Banco Central dos Estados Unidos acaba influindo de forma decisiva no mercado financeiro e cambial que afeta a todos os países, notadamente o Brasil.

Num plano mais elementar, as decisões sobre a Copa do Mundo, as Olimpíadas ou competições automobilísticas, como da chamada Fórmula 1, também não dependem dos organismos internacionais onde os governos dos países membros tenham o poder de decisão. A FIFA – Federação Internacional de Futebol é privada, o COI – Comitê Olímpico Internacional não é governamental e a FIA – Federação Internacional de Automobilismo é dominada por interesses privados, ainda que tenham o poder de decisões que afetam os diversos países. Estádios inviáveis como o de Manaus, Cuiabá e Natal acabam sendo impostos com padrões incompatíveis com as capacidades financeiras e o número de espectadores potenciais.

Organismos vinculados à ONU, como a OMC – Organização Mundial de Comércio, não conseguem avançar com os programas para facilitar o comércio internacional, sendo substituídos por entendimentos regionais ou bilaterais que deixam à margem os interesses da maioria dos países do mundo.

Fernando Rodrigues expressa na sua coluna semanal na Folha de S.Paulo a opinião que o saudoso jornalista Paulo Francis tinha, ainda que seja a lamentável realidade: “A ONU é uma ficção. Não serve para nada. Quem manda lá são os Estados Unidos e seus satélites”.

Outras organizações procuram meios para conseguir uma governança mundial mais razoável, como o G-20 que reúne os 20 países hoje considerados mais importantes, tanto do ponto de vista econômico como político. Também não conseguem decisões de importância que vinculem todos os seus membros para uma política que atenda aos interesses da maioria.

Estão sendo preparados por diversas instituições importantes de cientistas em todo o mundo os estudos preparatórios para o IPCC – Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas organizado sob o patrocínio da ONU, na tentativa de convencer a mídia, os políticos e o público sobre a gravidade do aquecimento global, que estaria agravando as irregularidades climáticas que estão provocando desastres em todo o mundo, inclusive no Brasil. Mas as esperanças que metas objetivas sejam estabelecidas são mínimas, como está colocado por Alex Morales, da Bloomberg, assunto que será tratado em artigo separado neste site.

Ainda que existam todas estas dificuldades, é preciso continuar acreditando que a Humanidade não é suicida. Os seres humanos parecem ser dotados do instinto da preservação da espécie e o mínimo para a sua sobrevivência continuará sendo feito, mas sempre é necessário sonhar que muitas coisas poderiam ser feitas melhores, com maior eficiência.