Censo do IBGE Revela Brasil Indígena
13 de agosto de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: Censo de 2010, dados importantes, etnias e línguas, população indígena no Brasil
Um precioso conjunto de artigos foi publicado pela Folha de S.Paulo de 11 de agosto último com base nos dados divulgados pelo IBGE sobre o Censo de 2010. Um artigo é da jornalista Denise Menchen sobre estes importantes dados divulgados sobre o Censo, outro de Spensy Pimentel, pesquisador do Centro de Estudos Ameríndios da USP, fazendo uma análise rápida do assunto e outro de Felipe Luchete sobre a situação específica de Pernambuco. Os abundantes dados do Censo permitirão muitos estudos importantes para melhor compreensão que não eram nem de conhecimento dos especialistas no assunto.
Os dados revelam uma rica sociodiversidade brasileira pouco conhecida, mostrando mais brasileiros que passaram a admitir que são índios, abandonando o estigma que havia sobre esta condição. O Censo chegou a 896.917 índios, que representaria 0,47% da população brasileira, dividida por Estados e regiões, sendo que cerca de sua metade não vive em suas terras que somam 106,7 milhões de hectares, 12,5% do território nacional, sendo que cerca de 20% deles encontram-se no Estado do Amazonas. Comparado com os dados dos censos anteriores, observa-se um crescimento que não decorre somente da sua fecundidade mais elevada, mas com a admissão desta qualificação indígena nos centros urbanos.
Com base nas informações dos estudiosos sobre o assunto, estimava-se que haveria cerca de 220 etnias e 180 línguas. Mas o Censo identificou por autoclassificação 305 etnias e 274 línguas, sendo que algumas correm o risco de se perder, pois só são conhecidos por cerca de 10 indivíduos. Dos que viviam nas áreas demarcadas em 2010, 89,5% informaram que sabiam a sua etnia e 57,3% falavam a língua nativa, enquanto estes mesmos percentuais baixam para 55,2% e 12,7% fora de suas terras, mostrando a importância das reservas para a preservação de sua identidade cultural.
A pesquisadora do IBGE, Nilza Pereira, afirmou que esta entidade está revelando um país que nem os especialistas conheciam. A presidente da Funai – Fundação Nacional do Índio, Marta Maria do Amaral Azevedo, afirma que alto número de etnias identificadas pode estar relacionado com a passagem do reconhecimento como índios, quando comparado com os censos anteriores, que não eram tão minuciosos.
Entre as 10 etnias que contaram com mais indivíduos figuram os tikunas com 46 mil, guaranis kaiowá com 43,4 mil, kaingangs com 37,4 mil, seguidos de makuxís, terenas, teneteharas, yanomanis, potiguara, xavantes e pataxós, estes últimos chegando a 13,6 mil. Dos índios identificados no Censo, 36,3% vivem nas áreas urbanas, 63,8% em áreas rurais, sendo 57,7% em terras indígenas.
Na análise efetuada por Spensy Pimentel, informa-se que no Brasil os indígenas da região Centro-Sul do país superam os da Amazônia Legal, com destaques nos estados de Mato Grosso do Sul, Bahia e Pernambuco, fora os do Norte. Os amazônicos contam com 98% das terras, notadamente nas suas reservas. Tudo indica que há mais índios aculturados nas outras regiões, mas que não se autoidentificam com esta qualidade.
Os dados que estão se tornando disponíveis constituem uma verdadeira festa para os especialistas, notadamente os antropólogos, devendo estimular muitos estudos sobre esta importante sociodiversidade, que desempenha um papel importante no Brasil, ainda que sejam ainda menos de 0,5% da população total.
Para os que se orgulham de serem brasileiros, além da ampla biodiversidade encontrada no país, somam-se dados insofismáveis sobre a rica diversidade étnica e cultural, que certamente ajuda na formação de uma nova população miscigenada com etnias provenientes das mais variadas regiões do mundo. Esta riqueza de recursos humanos certamente não se encontra em outras partes do mundo, mesmo considerando os grandes países asiáticos ou africanos.