Desenvolvimento Coreano Estudado no Brasil
21 de agosto de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: artigos no O Estado de S.Paulo, discussões conjuntas de coreanos e brasileiros, evento na FEA-USP, outras considerações
A jornalista Raquel Landim publicou no O Estado de S.Paulo dois artigos sobre o surpreendente crescimento econômico coreano, apresentando numa reunião conjunta de especialistas coreanos e brasileiros na FEA – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. Cita como um “milagre” o que aconteceu depois da Guerra da Coreia (1950-l953), quando, de uma situação como de uma favela, Seul passou a ser uma moderna metrópole, ainda que enfrente os seus problemas como de um intenso tráfego. O que houve foi muito trabalho, compreendendo as limitações coreanas.
Algumas observações, como da professora de língua e cultura coreana, Yun Jung Inn, sobre suas muitas guerras, além do professor Gilmar Masiero, coordenador do Programa de Estudos Asiáticos da FEA-USP, além de José Luís Fiori, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sobre a política industrial enriquecem os artigos, que tenta também explicar a evolução das suas “chaebol” naquele país, que vem executando planos quinquenais desde 1962.
Fotos do rio que cruza o centro de Seuol, em 1950, e como está hoje
Venho acompanhando a evolução da Coreia do Sul desde 1960, quando ajudei a trazer o primeiro grupo de imigrantes daquele país para o Brasil, dentro do programa de assistência aos refugiados de guerra da ONU. Até uma visita recente ao embaixador brasileiro naquele país, Edmundo Fujita, quando percorremos até a zona desmilitarizada que separa o país da Coreia do Norte. Não há dúvidas sobre a sua impressionante evolução, que acompanhei quando uma trading brasileira possuía um escritório em Seul, que também supervisionei.
É preciso compreender que o país é pequeno e recebeu um forte suporte dos Estados Unidos e do Japão para se firmar como um dos primeiros “tigres asiáticos” com sua economia voltada para a exportação, dada às dimensões modestas do seu mercado interno.
As “chaebols” são adaptações dos grandes conglomerados japoneses que antes da Segunda Guerra Mundial eram conhecidas como “zaibatsu”, e acabaram sendo divididas em muitas empresas durante a ocupação norte-americana. Os ganhos de escala e de aglomeração são importantes para a sua competitividade internacional. E o seu pragmatismo permite que não se percam nas burocracias naturais das grandes organizações.
Um povo que sofreu mais que uma guerra (e a atual com a Coreia do Norte ainda não teve um término oficial) tende a ser mais fácil de ser aglutinada, principalmente dentro de um regime militar porque passou e que enfatiza o seu nacionalismo. Até hoje existem problemas com os japoneses, tanto decorrente do longo período de sua ocupação (que vem do início do século XX até o final da Segunda Guerra Mundial), das escravas sexuais que sofreram com os soldados japoneses, como disputas de algumas pequenas ilhas.
Além dos grandes aglomerados coreanos conhecidos pelas suas marcas em todo o mundo, estimulam-se hoje as pesquisas que promovem o seu desenvolvimento tecnológico, desde as indústrias de base como a Posco – uma grande siderurgia de porte internacional que conta com uma usina no Brasil, até as suas pequenas e médias empresas. A sua educação fortemente influenciada pelo confucionismo ajuda a estabelecer uma sociedade hierarquizada e disciplinada.
A Coreia do Sul é obrigada a manter a sua competitividade internacional, o que vem fazendo com garra, superando até as orientações do FMI – Fundo Monetário Internacional, quando recebeu a sua assistência.
Há muito que se aprender da sua experiência, mas constatar também que as diferenças de condições entre a Coreia do Sul e o Brasil são imensas. Mas existem intercâmbios que sempre serão uteis, como suas tecnologias de grande economia de energia e seu foco atual na sustentabilidade. Eles podem ser também grandes parceiros na exploração da ampla biodiversidade disponível no Brasil, e sua imigração por todo o mundo ajuda a detectar as oportunidades de negócios no mundo globalizado.