Foreign Affairs Sobre o Japão e a China
18 de outubro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: apreciações isentas, dificuldades de longo prazo, os problemas existentes nas relações sino-japonesas, posições de jornalistas do Newsweek | 4 Comentários »
Takashi Yokota é editor chefe do Newsweek Japão e Kirk Spitzer é jornalista especializado em defesa, que colabora com o Newsweek e com o Time. Juntos elaboraram o artigo publicado no prestigioso Foreign Affairs, tendo perspectivas para análises fundamentadas. Eles informam que o governo japonês está procurando adotar uma posição mais dura sobre o problema das ilhas Senkaku/Diaoyu, mudando sua política externa e de defesa.
Mas, segundo os autores, este movimento não é tão agressivo como possa parecer. Todos sabem que a aquisição da ilha feita pelo governo japonês decorreu da atitude do governador de Tóquio, Shintaro Ishihara, que se preparava para fazer o mesmo, criando problemas mais graves, decorrentes de sua posição política mais radical. Eles acreditam que a população japonesa está tendendo para uma posição mais à direita, diante das disputas territoriais não somente com a China, mas com a Coreia do Sul e com a Rússia.
Takashi Yokota Kirk Spitzer
O primeiro-ministro japonês Yoshihiko Noda, no último mês, prometeu que não se comprometerá com os chineses sobre a ilha de Senkaku, o mesmo acontecendo com a sua oposição no partido LDP – Partido Liberal Democrata. O governo vem expressando uma nova interpretação da Constituição japonesa, com uma estratégia dinâmica de defesa, deixando de somente cuidar da defesa com o seu SDF – Força de Auto Defesa do Japão. Está elevando o seu orçamento militar para reequipar com mais 100 navios de guerra, ao mesmo tempo em que substitui seus aviões de caça, tendo mobilizado mais de 100.000 soldados no episódio de Fukushima.
Os japoneses estão reagindo ao aumento do poder militar da China, efetuando também exercícios militares conjuntos com os Estados Unidos. Ainda assim, são movimentos táticos, sem uma importância estratégica, segundo os autores. Dentro da atual Constituição japonesa que é defensiva, só podem reagir diante de ataques.
Tudo isto não é expressivo, e os japoneses ainda estão perdidos dentro de complexos problemas das realocações das tropas norte-americanas dentro do seu território. Os sucessivos ministros de defesa do Japão não conseguem se consolidar. Para piorar o quadro, parece que o povo japonês não se conscientiza que está cercado por potências nucleares, como a Rússia, a China e até a Coreia do Norte.
A China e a Rússia estão com planos consistentes para aumentar a sua influência na região, com medidas concretas ampliando o seu poder militar nas áreas próximas, aumentando os seus orçamentos e instalando seus foguetes balísticos de longo alcance. Infelizmente, todas as alternativas precisam ser examinadas, inclusive de um conflito entre os Estados Unidos e a China.
Ainda que seja complexo, o Japão necessita rever a sua Constituição, segundo os autores, para o que necessita de dois terços da Dieta e aprovação num referendo nacional. Segundo pesquisa efetuada pelo Asahi Shimbun, 55% dos japoneses aprovam esta revisão. O primeiro-ministro Yoshihiko Noda referiu-se ao aumento dos desafios militares que precisam ser encarados, segundo os autores.
Outros analistas das complexas situações de segurança no mundo entendem que o Japão não pode contar permanentemente com o guarda-chuva dos Estados Unidos, necessitando se aparelhar adequadamente para cuidar da sua própria, no caso de uma emergência, para poder se considerar uma nação independente.
Esse assunto me interessa muito.
Olhando o passado militar e nacionalista do Nihon, as vezes me pego pensando se os Japoneses realmente não possuem armas nucleares.
As magoas referente a segunda grande guerra ainda são fortes nos corações chineses e coreanos. O Japão não tem saida, é se armar ou correr o perigo de sumir do mapa a qualquer instante.
É necessario reafirmar o nacionalismo japones e bater o pé em relação as ilhas Senkaku e as ilhas ao norte de Hokkaido.
Grande Abraço e parabéns pelo blog!
Caro Isaque Doi,
Apesar do acordo militar do Japão com os Estados Unidos preverem que armas atômicas não possam entrar em território japonês, há muita desconfiança que aviões e navios militares dos norte-americanos que frequentam as bases militares instaladas por lá transportam sigilosamente estes armamentos. O problema é que os Estados Unidos não estão em condições de suportar custos elevados no Pacífico, e estão encarregando seus aliados como a Austrália, Japão e Tailândia destes encargos. Tudo indica que os japoneses terão que, algum dia, tomar a responsabilidade de cuidar de sua defesa por conta própria, mas necessitam superar as resistências internas.
Paulo Yokota
Sr. Yokota,
Andei pesquisando sobre a questão das ilhas Senkaku/Diaoyu, porém não encontrei nenhuma proposta. Parece-me que a questão está sendo utilizada para gerar tensões, no entanto, quais seriam as possíveis saídas diplomáticas?
A existência de poços de petróleo e gás natural, além das terras raras, são indícios de que os interesses são fundamentalmente econômicos, e os termos que mais definem a situação são palavras pesadas, como “reinvidicação, posições mais duras, soberania”, o que nos faz pensar que a diplomacia não consegue articular um argumento superior ao poder econômico e ressentimentos do passado.
No entanto, se a questão fosse apenas a necessidade energética, não haveria meios da diplomacia encontrar entendimentos, tal qual houve na construção da usina de Itaipu, em que o Brasil e Paraguai, mesmo com ressentimentos do passado, conseguiram chegar a um acordo, visto que ambos sairiam ganhando com a geração de energia?
Quanto ao petróleo e gás das ilhas de Senkaku/Diaoyu, seria impossível tentar uma solução parecida com a de Itaipu, com acordos entre os dois países, só que ao invés de extrair esses combustíveis fósseis, tentar implementar produção de energia limpa, como solar e eólica ou até mesmo atômica, já que esses painéis solares e hélices estão sendo produzidos, o que não havia na época em que ocorreram os incidentes e ressentimentos passados, ou nem mesmo há duas décadas?
Afinal, todo intercâmbio científico é bem aceito, então quando a diplomacia não consegue resolver um problema, talvez seja adequada a tentativa de resolver a questão entre cientistas, que sempre estão interessados em desenvolver e implementar tecnologias mais eficientes.
Caro Rafael Sugano,
O problema principal é sobre a soberaria das águas territoriais que envolvem estas ilhas. Tanto a China como o Japão não possuem tradições para resolver estes problemas de forma diplomática, como o Brasil, que tradicionalmente resolveu estes problemas utilizando estas negociações. Não se trata de questões econômicas, que contam com potencialidades das águas profundas da região. Só haveria uma perspectiva de solução dimplomática se os dois países aceitassem uma arbitragem de terceiros, mas não existe nenhum país ou entidade que ambas as partes aceitam. Lamentavelmente, as partes envolvidas, inclusive seus aliados estão aumentando o poder militar na região, que sempre foi um dos meios para resolver problemas de baixo crescimento da economia. Ainda que sejam meros afloramentos de pedras, como designou o The Economist, é preciso lembrar que os próprios ingleses foram à guerra na disputa com a Argentina pelas ilhas de Folkland/Malvinas. Até agora não se visualiza uma linha de trabalho que permita entendimentos entre os dois países, e os danos estão se ampliando, sendo que os japoneses têm mais que perder.
Paulo Yokota