Contínua Ampliação do Cerrado Brasileiro
23 de dezembro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: artigo na Folha de S.Paulo, o que vem acontecendo no cerrado brasileiro, olhos para ver, superação contínua das dificuldades
Como sempre, no mar do pessimismo cultivado atualmente por muitos analistas com o que acontece no mundo de negativo, fica-se com a impressão que estamos dominados lamentavelmente por uma cultura da “fossa”, que considera um sinal de elevada manifestação de inteligência se aprofundar na depressão, como prevaleceu em alguns períodos que se seguiu à Segunda Guerra Mundial. Ainda que sempre hajam desafios a serem vencidos, como ao longo da história da Humanidade que acabaram sendo superados, parecem que insistem em não ver o que também acontece de positivo.
Um artigo publicado neste domingo pela Folha de S.Paulo, pela jornalista Tatiana Freitas, enviada especial para Balsas no Maranhão, Araguaína e Pedro Afonso no Tocantins, “Cerrado vira terra fértil e se torna nova fronteira agrícola”, na região que passou a ser conhecida como Mapitoba, compreendendo áreas do Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia, antes considerada das mais pobres do país. Minha experiência longa e pessoal é da época em que o Cerrado passava a ser cultivado intensamente em Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, chegando à Bahia. Antes, porém, também o Estado de São Paulo contava com cerrados extensivamente ocupados pela pecuária, que viraram ricas terras de cultura agrícola. E assim vai continuar ocorrendo ainda por muitos anos.
Editoria de Arte/Folhapress
O artigo apresenta um gráfico mostrando que a área plantada com soja, o principal produto cultivado nesta região, dobrou na última década, passando de 1.388 mil hectares em 2002/2003 para 2.870 mil em 2012/2013. A exportação do chamado complexo soja passou de US$ 552 milhões em 2007 para US$ 2.323 milhões em 2.012. Mas também se cultivam outros produtos, como o milho e até o algodão, que exigem técnicas mais diferenciadas.
Historicamente, os imigrantes europeus, como italianos, alemães e até japoneses, ocuparam a região Sudeste/Sul do país até antes da Segunda Guerra Mundial, transformando algumas áreas até em minifúndios com a multiplicação de seus descendentes. As culturas foram se modificando com o emprego de máquinas agrícolas, inicialmente até as fronteiras internacionais, a Oeste.
Muitos destes agricultores tiveram que migrar para o cerrado, onde as terras eram mais baratas e a sua transformação em terras de cultura, notadamente da soja, eram menos custosas. Com a ajuda da Embrapa, foram se desenvolvendo novas técnicas e variedades, que permitiam superar os obstáculos representados pelos solos mais pobres e precipitações pluviométricas diferenciadas.
Houve períodos em que todas estas terras eram somente ocupadas por uma pecuária extensiva, que ao longo do tempo, sempre com novas tecnologias, foram se transformando. As antigas áreas do Sul foram destinadas às culturas de mais alto valor, diversificadas, que, além de algumas criações como de suínos, caminharam para a fruticultura, horticultura e outras atividades de mais alto valor comercial.
O que parece evidente é que sempre houve limitações, como a de tecnologia e infraestrutura de transportes, e todas foram paulatinamente superadas pelas pressões exercidas pelo aumento da produção e oportunidades de novas atividades, como continuará ocorrendo nos próximos anos, agora com crescentes preocupações da preservação do meio ambiente. Em muitas localidades, as irrigações foram também sendo introduzidas, permitindo mais que uma produção durante um ano. Agora, os agricultores brasileiros estão ampliando suas atividades nas savanas africanas, que apresentam condições semelhantes com os cerrados deste país.
Parece fundamental entender que o processo de desenvolvimento envolve esta constante superação das dificuldades, o que acaba ocorrendo com novas tecnologias e recursos humanos cada vez mais preparados. Estes novos agricultores brasileiros estão antenados com o que ocorre no mundo, sabendo as cotações de Chicago e seus novos equipamentos contam com GPS e ar condicionado. O mundo vai mudando, e o setor rural brasileiro acompanha este desenvolvimento, contribuindo com muitas pesquisas, ajudando a alimentar o mundo.
Parece importante que muitos analistas brasileiros deixem seus gabinetes de ar condicionado nos grandes centros financeiros, e vejam in loco o que está acontecendo em todo o Brasil, notadamente nas atividades produtivas. Muitos estrangeiros o estão fazendo, inclusive os do Rabobank, citado no artigo mencionado.