Evolução Política Brasileira
28 de março de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: compressão adequada do momento, entrevista de Lula da Silva para o Valor Econômico, qualificações políticas de Lula, reeleição de Dilma Russeff
Existem pessoas que sempre subestimam os que não possuem educação de nível universitário, ainda que muitos exemplos concretos demonstrem que suas capacidades não dependem destes diplomas, havendo muitos que possuem uma inteligência inata com elevada capacidade política. É o caso de Lula da Silva com o qual muitos não concordam e que acaba de conceder uma longa entrevista exclusiva ao Valor Econômico, o primeiro desde que deixou a Presidência da República. Ela foi efetuada pela Vera Brandimarte, nada menos que a diretora de redação, junto com Cristiane Agostine e Maria Cristina Fernandez. Sua leitura seria útil até para os seus adversários políticos, pois os chineses sempre ensinaram que para disputar com seus adversários, uma das condições indispensáveis seria o bom conhecimento deles.
Lula da Silva, que começou a sua vida profissional como um simples metalúrgico, demonstrou a sua capacidade de liderança como sindicalista e montou uma equipe de admiradores que sempre reconheceram a sua qualidade, pois os que conviveram com ele desde aquela época admitiam que acertava em diversas orientações muito mais que os outros que se tornaram os seus liderados, possuindo uma capacidade inata. Descoberto pelos que entendiam que o sindicalismo brasileiro não poderia ser monopólio dos que adotavam ideologias marxistas, medidas foram tomadas para a sua promoção, pois ele era de origem católica, que teve tanto sucesso que chegou à Presidência da República, e continua sendo um influente político que consegue selecionar candidatos que possuem a habilidade de atender as aspirações populares, ainda que combatido por muitos da elite econômica brasileira e os que vivem dos privilégios proporcionados pelo sistema financeiro nacional. Muitos que admitem estas qualidades de Lula da Silva, compreendendo também seus defeitos, são confundidos como lulistas, ainda que sejam analistas independentes. Infelizmente, a disputa política nem sempre se realiza com a racionalidade desejada.
Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foto: Márcio Fernandes/Estadão Conteúdo
Ele admite que teve um período interrompido na sua vida política para tratamento de sua saúde, e, ainda que totalmente recuperado, admite que tem ainda limitações para o uso de sua voz, indispensável para seus discursos que despertam a identificação do eleitorado popular com suas falas que atingem como poucos os anseios, principalmente dos mais humildes.
Ele analisa o período da administração de Dilma Rousseff, e ainda que tenha algumas restrições particulares, decorrente das naturais diferenças de estilo pessoal, reafirma que sua escolha para a sua candidatura a sucesso foi a mais adequada, entendendo que uma obrigação de um político é tentar a sua sucessão com um candidato adequado. Admite que mesmo com dois mandatos não pôde fazer tudo que desejava, ainda que tenha provocada uma melhoria na distribuição de renda no Brasil como poucos estadistas.
Ele aperfeiçoou sua capacidade de entender a ação dos seus adversários, como muitos empresários que continuam combatendo Dilma Rousseff, com baixos investimentos diante da falta de confiança no governo, ainda que contem com os mercados atraentes e recursos financeiros disponíveis, o que não acontece hoje somente no Brasil. Ele destaca que o Brasil continua recebendo investimentos estrangeiros como poucos países.
Ele observa que Dilma Rousseff está aumentando seus contatos com os empresários, políticos e até sindicalistas, parte por sua recomendação como seu mentor político. E admite que a possível reeleição dela conte com respeitáveis adversários políticos que se preparam para outras eleições posteriores.
Nas entrelinhas de sua entrevista, ele faz suas críticas a Fernando Henrique Cardoso, um vaidoso colecionador de diplomas e títulos, tem feito pronunciamentos que ele não entende que ajudem o Brasil no exterior. É duro para FHC que se considera o pai da estabilidade monetária ainda que tenha iniciado o processo de baixa competitividade externa da economia brasileira, intelectual reconhecido internacionalmente, contar com menor prestígio popular que um político de origem humilde, que nem tem um diploma universitário.
Ele admite que o PT – Partido dos Trabalhadores terá que fazer muitas alianças, admitindo que mesmo contando com importantes aliados jovens com elevada potencialidade, não poderá ganhar muitas eleições estaduais, havendo necessidade de preservar o intenso relacionamento com o PMDB.
Às críticas que vem recebendo, ele responde que deseja vender o Brasil em muitos países do exterior, ainda que tenha que partilhar suas viagens com empresários para conseguir obras em outros países, ou vender o que seja possível dos produtos brasileiros. Demonstra o pragmatismo que tem sido a marca mais forte de Dilma Rousseff quando precisa adotar políticas que não são de sua preferência pessoal ou ideológica.
Sobre questões incômodas que continuam evoluindo como no Judiciário, relacionado ao chamado mensalão, ele se reserva ao direito de fazer os comentários depois do término definitivo deste longo processo. Não usou dos argumentos que tais processos começaram antes com seus adversários, inclusive com mudanças constitucionais que permitiram a reeleição presidencial.
A entrevista demonstra o cuidado político que ele aumentou com a sua experiência, incorporando até alguns conhecimentos que são mais acadêmicos, como a citação de Maquiavel e suas lições. É de se acreditar que mesmo os seus adversários admitam que Lula da Silva venha amadurecendo e ainda não se considera carta fora do baralho.