Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Heitor Villa-Lobos na sua Essência Brasileira

21 de abril de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: apresentações mais constantes, Choros nº 10 Rasga o Coração na Osesp, obras de sua fase mais expressiva, ótima aceitação do público atual

Tive o privilégio de assistir à Osesp – Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo apresentar na Sala São Paulo, junto com os coros da Osesp e Acadêmico da mesma instituição, uma soberba apresentação. Tratava-se do Choros nº 10 Rasga o Coração do mais consagrado compositor brasileiro, Heitor Villa-Lobos, que no texto de apresentação constante da Revista Osesp, escrita pelo professor Paulo Renato Guérios, da Universidade Federal do Paraná, e autor de Heitor Villa-Lobos – O caminho sinuoso da predestinação (FGV , 2003) classifica como o ápice de uma das suas fases mais prolíferas e inventivas, ao lado do Choros nº 3 e nº 8. Depois de sua participação na Semana da Arte Moderna de 1922, ele foi a Paris, que estava efervescente com a participação de artistas do mundo todo, que apresentavam suas contribuições com o que dispunham em cada país.

O Choros nº 10 teve uma rica apresentação orquestral regida entusiasticamente por Yan Pascal Tortelier, que já foi o regente principal da Osesp e ainda tem uma presença regular. A exuberante parte coral está no seu final que recebeu uma ovacionada manifestação de toda a plateia. Villa-Lobos conseguiu a herança musical brasileira, que envolve “variedade de pássaros, rica em número e gênero, que existe em todo o Brasil”, com o “misto de melopeia primitiva e canto pentatônico dos índios brasileiros” e “uma melodia lírica e sentimental extraída de uma canção popular, com letra do poeta seresteiro Capitulo da Paixão Cearense, denominado ‘Rasga o Coração’”.

Heitor-Villa-Lobos-compositor-brasileiro

Heitor Villa-Lobos

Na música lírica de muitos países existem os aproveitamentos dos temas que tiveram origem nos seus folclores. Villa-Lobos procurava se definir com um compositor brasileiro, incorporando nas suas obras temas do cotidiano, do que entendia que provinha da essência do Brasil, conseguindo dar uma roupagem que o tornou famoso internacionalmente.

Poucos sabem que é no Japão que existe o mais importante fã clube de Villa-Lobos, e o seu prestígio não somente entusiasma os brasileiros, mas apreciadores da música erudita em todo o mundo. O Choros nº 10 é considerado o que este autor tem de mais da marca do Brasil.

Ele que já tinha este espírito de valorizar o que havia de melhor no Brasil, deixando de reproduzir somente o que era importado, foi sofisticar-se na Europa para se tornar internacional, mas sempre deixou em seus trabalhos as fortes influências e raízes brasileiras.

Quando se fala da Música Popular Brasileira ou Tropicália, que também recebe roupagens eruditas,, parece importante recordar que mais de 40 anos antes, Heitor Villa-Lobos já vinha plantando este reconhecimento das coisas brasileiras, marcando o seu pioneirismo que ainda continua sendo lembrado até no exterior.