Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Judô Como Mecanismo de Romper o Isolamento

17 de junho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: depoimento de Robert Jones, o esporte judô como forma de criar relações, publicado no Japan Times

Muitos esportes são mecanismos importantes para estimular a sociabilidade. No Japão atual, muitos professores de inglês são convidados para passar uma temporada no interior do Japão para ensinarem o seu idioma de forma autêntica, pois muitos dos japoneses ainda preservam alguns vieses, assim como os brasileiros. Isto está sendo corrigido pelos jovens atuais que contam com possibilidades de “home stay” em países onde o inglês é o idioma original. Nesta situação, muitos acabam isolados, sem terem com quem conversar com pessoas que dominam completamente o seu idioma, cercados que ficam com seus alunos e a comunidade local.

Robert Jones trabalha em Hanamaki, província de Iwate, e contava com poucas oportunidades para encontrar estrangeiros como ele, e sua adaptação com a comunidade local foi acelerada pela sua prática com judô. Ele escreveu um artigo interessante publicado no Japan Times relatando a sua experiência. Depois de meses sem contato com pessoas que dominavam completamente o inglês, ele foi praticar o seu judô num dojo local (lugar adequado para a prática deste esporte). Houve um torneio e ele foi convidado a participar, e era de uma equipe contra outra, o que não era costume na sua Califórnia, onde a prática era mais individual.

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Fotos da pequena cidade de Hanamaki Japan

O torneio envolvia a comunidade local, e mesmo que ele não tenha ganhado nenhuma das disputas, num país de onde se originou o judô, que não é um mero esporte, mas um caminho para a vida, ele aprendeu um pouco da filosofia e cultura japonesa. Segundo ele, os japoneses não apreciam ganhar por pontos, mas com um golpe fatal, denominado ippon. E o torneio é destinado para o congraçamento de toda a comunidade.

Como originalmente, não é pela força bruta, mas pela técnica que se disputa, com os valores fundamentais do verdadeiro judô. Hoje, vendo pela televisão algumas disputas internacionais, fica-se triste porque estes fundamentos filosóficos já não são considerados.

Ensinando as crianças, ele recebeu estímulos para se empenhar, o famoso “gambaré” dos japoneses, o que o fez sentir que estava ficando suas raízes no Japão. Ainda que tenha contatos com outras pessoas em Iwate, é no judô que os seus verdadeiros amigos se encontram. Isto o fez parte de uma comunidade, para discutir estratégias de negócios com os colegas da Universidade de Fuji, como andar de skate ou escolher os eventos musicais.

Ele tem consciência que muitos estrangeiros no Japão se sentem isolados e recomenda o judô como mecanismo para estabelecer relacionamentos sadios, ao mesmo tempo em que toma conhecimento da verdadeira cultura japonesa.

Neste esporte não importa a idade, ganhar ou perder, pois está enriquecendo a sua vida, segundo ele. Todos os estrangeiros em qualquer país tendem a sentir este isolamento. O esporte é um meio adequado para a integração com a comunidade local, e melhor ainda se existe atrás dele uma filosofia clara, como tende a acontecer em muitas que parecem lutas.

Para os que não contam com a familiaridade com a língua japonesa, a terminação “do” significa caminho, ou seja, uma filosofia. Judô, kendô, aikindô, e muitos outros, não são meras disputas para vencer. Trata-se de formas para aperfeiçoamento de sua personalidade. É por isto que muitas consideradas lutas marciais têm origem nos templos, não só no Japão como em toda a Ásia.