Parte dos Complexos Problemas Econômicos Chineses
6 de julho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: análises dos próprios chineses, as autoridades locais, dificuldades fiscais e creditícios, os bancos e as operações fora dos bancos, os problemas políticos
Muitos sabiam que o exuberante crescimento da economia chinesa nos últimos anos estava aumentando exageradamente muitas das distorções existentes naquela economia, que agora passa por críticas apontadas internamente, quando se discute as reformas que se tornaram indispensáveis. Zhang Monan é fellow da China Information Center, da China Foundation for International Studies e pesquisadora da China Macroeconomic Research Platform e vem escrevendo muito sobre assuntos econômico-financeiros daquele país, atuando em Beijing. A maioria das análises que apontam muitas dificuldades é elaborada no exterior ou em Hong Kong, e o artigo dela está sendo publicado no prestigioso site do Project Syndicate que costuma selecionar os seus autores entre os mais credenciados no mundo, com o título de Finanças Arriscadas da China.
Ela apresenta alguns problemas que estão sendo apontados por outros autores, informando que os esforços das autoridades chinesas podem descarrilar, exigindo que medidas prudenciais devam ser tomadas para evitar seus agravamentos. Ela aponta como um dos maiores problemas a médio e longo prazo o problema fiscal que recebe uma garantia implícita do governo central sobre os volumosos débitos das autoridades locais. É sabido que estes vieram executando muitos projetos de infraestrutura, bem como concorrendo com a implantação das indústrias, que eram utilizados para avaliar estas autoridades locais, que poderiam ser promovidas para posições mais relevantes. Eles tomaram na esteira da crise financeira recente cerca de US$ 1,7 trilhões dos bancos, segundo a autora, que dificilmente poderão ser honrados e terão que encontrar uma solução das autoridades centrais. Estes serviam como incentivos para a competitividade dos produtos chineses no mercado internacional.
Zhang Monan, do China Information Center
Os chamados LGIVs – Local Government Investiments Vehicles foram limitados para novos empréstimos bancários, para evitar o aumento dos riscos. Eles quase não cresceram em 2012, e estão evitando que cresça neste ano de 2013. Mas cresceram muito no ano anterior, 2011, com base nos títulos variados das autoridades locais, que compensaram as quedas das receitas fiscais da reforma tributária de 1994, e custearam parte de suas despesas.
As lacunas foram preenchidas pelas autoridades locais com as vendas de patrimônios imobiliários, o que vem decrescendo nos últimos anos. As medidas das autoridades centrais para controlar os preços dos imóveis vai reforçar esta restrição. Para complicar o quadro, na China existem volumosos empréstimos não bancários, que não figuram como dívidas explícitas, havendo um sistema que chamam de sistema bancário sombra, que não envolve somente o setor público, mas o privado e industrial.
Existem muitos mecanismos para a operação deste sistema paralelo, que não fica sobre o controle das autoridades monetárias, que, segundo a articulista, aumentou 400% no ano passado, gerando riscos de insolvência significativos. Ainda segundo ela, tudo poderia provocar uma crise sistêmica abalando toda a China, obrigando as autoridades centrais a utilizarem as garantias implícitas.
Alguns bancos podem incluir estas inadimplências nos seus balanços, para protegerem a sua reputação, mas não é o caso de todos. Uma política generosa aumentará as pressões inflacionárias alimentando bolhas de ativos. O aperto das autoridades poderá aumentar a inadimplência. Não parece haver uma solução fácil.
A autora recomenda que as autoridades centrais necessitam adotar políticas macroeconômicas prudentes para evitar a escalada dos riscos. Mas, o primeiro-ministro Li Keqiand insiste em manter um crescimento mínimo para a China manter a sua estabilidade política que já vem sendo contestada pelas manifestações populares em diversas regiões que não são abertamente divulgadas no exterior, mas são vazadas por meios camuflados na internet.
Existe também uma grande disparidade de situações entre os diversos locais, dadas às diferenças dos impactos das receitas tributárias da desaceleração que já se observa naquele país. As despesas precisam ser contidas, mas também atuam no sentido da maior desaceleração do seu crescimento econômico.
Tudo isto exige uma melhoria da gestão orçamental e financeira, que sempre é difícil em qualquer país, notadamente nos emergentes que vieram sendo beneficiados por um crescimento rápido, que se esgotou. Ela recomenda também um novo sistema para o financiamento da infraestrutura, que também tem seus limites, na medida em que o influxo de recursos externos para a China também se reduziu drasticamente.
Muito à semelhança com o Brasil, uma política monetária eficiente necessita de um forte apoio do setor fiscal, o que se torna difícil nesta situação mundial. Mas todos sabem que uma crise bancária de proporções chinesas pode abalar o mundo de forma mais aguda. Sem uma visão clara das autoridades chinesas sobre este quadro, segundo Zhang Monan, o futuro da economia global da China vai acabar pesando na balança mundial, como parece evidente.
Como nenhum país no mundo é suicida, tudo indica que os problemas como os de segurança que envolve a China e os Estados Unidos, principalmente, mas também todos os seus aliados, podem ser amainados, sem o que acabaria ocorrendo algo como a dissolução da URSS na corrida armamentista provocada pelos norte-americanos, que também não andam numa situação muito confortável.