Os Critérios de Escolha dos Líderes Chineses
28 de agosto de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: estudos efetuados e publicados no Vox, indicações das eficiências nas gestões provinciais, relacionamentos com os líderes anteriores, um sistema de meritocracia | 2 Comentários »
Um grupo de pesquisadores formados por Ruixue Jie, professora assistente na Escola de Relações Internacionais e Estudos do Pacífico da Universidade da Califórnia, San Diego, Masa Kodamatsu, professor assistente do IIES da Universidade de Stockholm, e David Seim, professor assistente em economia da Universidade de Toronto, publicaram em conjunto um interessante trabalho sobre quem chega ao topo da política chinesa. O trabalho foi publicado no Vox, que divulga os estudos e análises feitas por reconhecidos economistas com base em pesquisas realizadas. Eles procuraram preencher uma lacuna existente sobre como são escolhidos estes líderes da China, país que tem uma importância econômica e política no mundo atual, mas que não conta com um sistema eleitoral amplo, mas restrito ao comando do Partido Comunista Chinês, não sendo um processo transparente.
Eles constaram que os escolhidos não foram somente os leais e incompetentes, como costuma ser usual nos sistemas autocráticos, mas há uma rotação dentro do Partido, o que ajuda os que trabalham em conjunto com os líderes, permitindo que a cúpula escolha os mais competentes entre um grupo de subordinados de confiança. Evidentemente, são indicações importantes que não esgotam todos os dados, como sobre os cursos que efetuaram nem os estágios iniciais de suas carreiras, mas os resultados econômicos que obtiveram nas administrações provinciais e os relacionamentos que tinham com os componentes da cúpula partidária.
Ruixue Jia Masa Kidamatsu David Seim
As análises não envolvem um período muito longo, informando que as mudanças dos principais líderes ocorrem a cada década a partir de 1990, sendo que a última ocorreu em 2012 com as escolhas de Xi Jinping à frente, tendo havido a exclusão de Bo Xilai, que era considerado um candidato promissor, mas está atualmente sendo acusado por corrupção, tendo sido expulso do Partido.
Eles mencionam que existem estudos anteriores, como os que foram feitos por Hongbin Li e Li-Na Zhou em 2005, informando que o crescimento econômico conseguido nas províncias foram decisivos para as escolhas. Como os de Vitor Shih, Adolph Chistoper e Liu Mingxing em 2012 que informam que as conexões com os principais líderes eram os fatores mais importantes. Os estudos agora efetuados pelos três pesquisadores mostram pelo gráfico abaixo utilizado que os dois fatores combinados é que resultaram nas escolhas, diferenciando o grupo dos conectados e não conectados, que são gritantes, considerados os resultados de suas administrações provinciais.
Foram analisados os dados bibliográficos de políticos chineses juntamente com as estatísticas econômicas do período 1993-2009. Abrangeram os líderes políticos das 31 províncias, incluindo cinco regiões autônomas como o Tibet e quatro municípios como Xangai. Chegaram à conclusão que somente as conexões não garantem as suas escolhas, como resultados econômicos sem conexões também não são suficientes.
Na realidade, os líderes provinciais para obterem sucessos econômicos já dependiam da boa vontade da cúpula para o fornecimento das condições necessárias para tanto. Por exemplo, os dois secretários-gerais do Partido, Jiang Zemin, era conhecido como do grupo de Xangai, e Hu Jintao, era da Liga da Juventude Comunista, mostrando que os líderes políticos estavam conectados com membros do Comitê Permanente do Politburo, órgão maior do Partido Comunista Chinês.
Os resultados econômicos se mostram relevantes, mas as conexões mostram que os escolhidos são os mais eficientes e leais e que não apresentam possibilidades de ameaças para a sobrevivência política dos que os escolheram.
Há, portanto, evidências que no passado recente a meritocracia funcionou na China. Seria interessante incluir que, na tradição histórica cultural da China, os que cercavam os antigos imperadores eram os mandarins, que eram escolhidos já pela meritocracia para desempenharem todos os trabalhos burocráticos indispensáveis, e eles detinham uma parcela relevante do poder.
Interessante porque essa pesquisa unifica as duas hipóteses anteriores, de que o critério de escolha era o de desempenho econômico versus a de conexões. Uma dúvida é se há outros indicadores envolvidos além do econômico, por exemplo de saúde ou educação, particularmente pela possibilidade de comparação com Cuba onde estes indicadores aparentam bom desempenho em relação àquele.
Caro Rubens,
Obrigado pelo comentário. No que se refere à educação e a saúde, na China ela tem sido razoável dentro das possibilidades, pois não está concentrada nos grandes centros, mas espalhadas por todo o país, utilizando muito dos conhecimentos da Tradicional Medicina Chinesa e as orientações de Confúcio para a ampliação dos conhecimentos.
Paulo Yokota