Aprendizado Com Elevados Custos na Amazônia
15 de setembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: caso de Paragominas, conhecimento da floresta, depois do faroeste a chegada da disciplina
Um artigo publicado no The Economist dá uma noção parcial e mais recente do que aconteceu na ocupação de parte da Amazônia, com exemplos da região de Paragominas, mostrando que pioneiros tinham conseguido chegar à condição de classe média, com muito sacrifício. E agora estão sendo obrigados a procurar uma maior eficiência nas suas produções de forma sustentável, diante da inconveniência na continuidade da derrubada das florestas. É um aprendizado duro sem se levar em consideração toda a evolução que veio ocorrendo ao longo de muitas décadas, certamente mais de 50 anos. Para quem teve a oportunidade de acompanhar algumas histórias semelhantes por um período mais longo poderia fazer uma avaliação mais completa de todo o drama vivido, que se constituíram em longos e duros aprendizados, dentro das limitações de cada época.
Meu primeiro contato ocorreu em torno de 1960 com um projeto de colonização privada em Açailândia, antes mesmo da construção da rodovia Belém-Brasília. Já havia um pequeno projeto dos primeiros pioneiros que se aventuravam em direção ao Pará, ainda no Maranhão, sem que o objetivo fosse a pecuária ou a exploração madeireira. Visava somente o aproveitamento dos recursos fundiários, com o sonho que poderia se proporcionar melhores condições de vida para estes pioneiros. Portanto, isto antecedia ao início do desmatamento que provocou a implantação das primeiras unidades de pecuária na região de Paragominas. Pouca noção se dispunha sobre o manuseio da floresta, mas o Brasil já contava com uma legislação avançada, mas pouco respeitada que impunha que na Amazônia 50% das áreas deveriam ser preservadas como reservas e nem se cogitava da exploração das suas melhores madeiras. O que se dispunha eram experiências como a da fracassada Forlândia para a produção de borracha e núcleos como Tomé-Açu que serviu para a concentração de imigrantes japoneses que se encontravam na Amazônia durante a Segunda Guerra Mundial.
Criação de gado em Paragominas e início da construção da rodovia Belém-Brasília
Com a construção de Brasília, fora do Plano de Metas de Juscelino Kubitschek, o Brasil ampliava o seu sonho de marcha para o Oeste. Pioneiros como Bernardo Sayão foram designados para a construção da Belém-Brasília, uma verdadeira epopeia, ele que já tinha experiências com projetos ousados na região goiana antes mesmo da construção da nova Capital.
A única atividade econômica possível, na época, em regiões tão distantes dos grandes centros urbanos era a pecuária. E certamente houveram abusos nas derrubadas das matas que eram queimadas para darem lugar para os primeiros pastos, mas o fato é que nada diferente era conhecido ou viável na época. Paragominas tornou-se a região em que este processo foi o mais acelerado.
Hoje, parte destes pastos se tornaram áreas de cultura como da soja, com a chegada das fronteiras agrícolas às bordas da Amazônia, ocupando os estados de Tocantins, Pará, Maranhão e Piauí. Aos poucos, as madeiras passaram a exigir certificações, e, como ressaltado no artigo do The Economist, as disponibilidades dos meios eletrônicos, fotos dos satélites bem como do GPS permitem o melhor conhecimento e controle do que está acontecendo. Certamente, as pressões exercidas pelos ambientalistas estão exigindo substanciais avanços numa exploração mais racional, tentando fazer com que floresta em pé renda mais do que derrubada.
As autoridades federais e estaduais tiveram uma grande parcela de responsabilidade, diante dos pouco racionais projetos de colonização, que sonhavam com pequenos proprietários se realizando com a exploração dos lotes. Grandes ocupações, inclusive irregulares, foram tituladas sem o devido cuidado, inclusive quanto aos percentuais de seus desmatamentos. As diferenças das diversas regiões nem sempre foram adequadamente estudadas.
Ainda existe muito por fazer. Os conhecimentos sobre a biodiversidade da Amazônia que permita o seu melhor aproveitamento ainda são incipientes. Ainda não estão disseminadas as técnicas do manejo eficiente da floresta, inclusive dos seus legítimos recursos madeireiros que permitam a sustentabilidade e sua melhor contribuição para preservação da produção de oxigênio indispensável para a humanidade.
Ainda se cometem barbaridades, mas elas estão diminuindo, multiplicando-se os programas para que toda a população, inclusive dos pioneiros que desempenharam o seu papel, possa aumentar suas eficiências e contribuir adicionalmente na sustentabilidade da região.
O importante parece ser reconhecer que o que se faz é o possível, nem sempre o desejável. Mas constatar que está se avançando no sentido de uma ocupação mais racional e sustentável.