Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Os Dramas das Populações Rurais Chinesas

22 de setembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: desapropriações de suas terras, necessidades das obras de infraestrutura, processo de urbanização

Todos sabem que existe uma relação atávica entre os agricultores e suas terras e o mesmo acontece de forma mais dramática na China. São frequentes as notícias que agricultores desalojados de suas terras, pelas mais variadas razões, acabam preferindo o suicídio. É preciso compreender que para os agricultores suas terras são, além de onde estão suas moradias, também os meios de seus trabalhos pelos quais se realizam como seres humanos. Milhões de pequenos agricultores estão sendo desapropriados de suas terras por duas razões básicas: a China necessita continuar ampliando sua infraestrutura, como a de geração hidroelétrica, e represamentos como as das usinas de Three Gorges, a maior do mundo, acabam desalojando milhões de chineses que viviam nas áreas ribeirinhas hoje inundadas.

De outro lado, a China planeja acelerar o seu processo de urbanização, e as terras que eram rurais estão sendo desapropriadas para a construção de moradias urbanas e outras necessidades, nas periferias dos grandes centros urbanos. As estimativas conservadoras efetuadas pelas Nações Unidas estimaram que mais de 50% da população de mais de 1.300 milhões de chineses em 2010 viviam nas áreas rurais. Estimam que 2030, sem as acelerações que estão sendo promovidas na China, no mínimo 875 milhões dos 1.600 milhões de chineses estarão nos centros urbanos, representando cerca de 55% do total, com redução correspondente da população rural. O grande drama é que não existem terras rurais adicionais para acomodar os agricultores desalojados, e eles precisam mudar seus afazeres para atividades urbanas.

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Desapropriação das terras de agricultores acaba gerando um problema habitacional na China

Ainda que existam alguns casos de residências de chineses que ficam cercados por grandes conjuntos de gigantescos prédios, ou de casas que ficam cercadas por rodovias, estas resistências só são sustentáveis por pouco tempo. Inexoravelmente, eles acabam sendo desalojados.

Quando isto ocorre com os agricultores e seus familiares, as questões se tornam mais dramáticas, pois não se trata somente dos valores envolvidos nas desapropriações que já são discutíveis. Na China, os governos, inclusive locais, continuam extremamente fortes e os cidadãos chineses contam com poucos meios para resistir na defesa dos seus direitos.

Observa-se que mesmo a parte substancial da população aspira mudar de suas atividades rurais que são sacrificadas para empregos urbanos, mesmo na construção civil ou nas fábricas, que exigem grandes esforços. Os salários urbanos são sensivelmente mais elevados do que os rendimentos agrícolas.

Na China, a migração interna ainda não é livre, e os que desejam trabalhar nos centros urbanos necessitam contar com licenças para tanto. Mas existem os que sempre viveram das atividades rurais e não sabem desempenhar outras, havendo limitações para o treinamento para outras atividades. A tendência acaba levando os trabalhadores rurais para atividades de alto risco e pesados, que só aproveitam suas capacidades físicas.

Quando estas mudanças são voluntárias, ainda que dramáticas acabam sendo aceitáveis. Quando são obrigados por atos de força, como as frustrações são profundas, acabando levando a situações extremas como os suicídios, por absoluta falta de alternativa.

Como em tudo na China, as cifras destas pessoas que passam por constrangimentos incontroláveis desta natureza acabam atingindo um elevado número de seres humanos. A eles só se pode prestar solidariedade, principalmente daqueles que conheceram situações menos dramáticas no Brasil.