Complexidades da Política Econômica na Prática
31 de outubro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: o caso da meta inflacionária no Brasil, o conjunto dos objetivos, os reajustamentos salariais no Japão
Dois artigos apresentados no Valor Econômico mostram as complexidades da política econômica que tem objetivos múltiplos, quando alguns instrumentos foram especializados para determinadas finalidades específicas. Um artigo de Eduardo Campos informa que o diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central do Brasil, Luiz Awazu Pereira, estaria propondo, com base nos estudos efetuados por ele com Pierre Richard Agénor, da Universidade de Manchester, uma meta que se chamaria inflação integrada, incorporando explicitamente preocupações com a estabilidade financeira.
Outro artigo de Yoko Kubota e Maki Shiraiki, originário da Reuters, informa que o governo estimula as empresas a aumentarem os salários dos seus empregados, para que não haja uma redução do poder de compra, tanto com a inflação que estaria eliminando a deflação como com os aumentos dos impostos de vendas que passaram dos 5 para 8% no primeiro momento, tentando evitar que haja um acentuado crescimento da dívida pública com relação ao PIB daquele país. Ambas as preocupações indicam que os objetivos da política econômica são múltiplos e complexos, exigindo uma adequada coordenação de setores do governo, não resultando em resultados satisfatórios com segmentos do governo atuando com objetivos restritos ao seu setor, como seria o caso das autoridades monetárias.
No mundo atual, as políticas monetárias acabam sendo executadas por um Banco Central independente que recebe metas inflacionárias estabelecidas por outras autoridades, no caso brasileiro pelo Conselho Monetário Nacional. No entanto, manipulando somente seus instrumentos sem a ajuda de uma adequada política fiscal, entre outros instrumentos, acaba-se ficando com uma tendência para sacrificar o nível de atividade econômica para reduzir as pressões inflacionárias, da qual depende o crescimento do emprego, que costuma ser também um dos objetivos do governo.
As expansões creditícias também são importantes, pois havendo diversos bancos oficiais, mesmo com a elevação dos juros tendo como indicador principal a Selic, no caso brasileiro, pode-se contar com uma liquidez exagerada em todo o sistema. As considerações com relação aos fluxos financeiros internacionais acabam também sendo relevantes, pois muitas empresas atuam no mundo globalizado.
No caso do Japão, passa-se por uma fase excepcional com a política que ficou conhecida como Abeconomics. Depois de um longo período sem crescimento econômico, com uma deflação, procurou-se ativar a sua economia, ainda que o país conte com uma elevada dívida pública com relação ao seu PIB, mesmo financiada internamente.
Com o Banco Central do Japão, o The Bank of Japan, imitando os Estados Unidos e provocando a chamada easing monetary policy, provocou-se uma desvalorização cambial do yen, visando tornar a economia japonesa mais competitiva com relação ao exterior, perseguindo-se uma inflação de dois por cento no longo prazo.
O risco é que o consumo local venha a cair, principalmente com a elevação do imposto sobre as vendas que passaram de 5% para 8% numa primeira etapa. A inflação também corroeria o poder de compra das famílias japonesas, pois muitos dos produtos importados estão tendendo a elevar os seus custos com o novo patamar cambial.
Com o nível de desenvolvimento da economia japonesa, as organizações sindicais dos trabalhadores do país perderam a agressividade que tinham no passado. Assim, as autoridades estão induzindo as empresas a promoverem aumentos salariais para compensar a nova situação. O correto é que os salários fossem aumentados com o aumento da produtividade dos recursos humanos, e os empresários ainda temem que a situação seja instável, preferindo conceder bônus com base nos resultados obtidos, e não aumentos dos salários que ficariam difíceis de serem revertidos numa eventualidade.
Tudo isto parece indicar que a política econômica é uma arte que persegue objetivos múltiplos de uma sociedade, e o exagero de especialização acaba tornando a coordenação do seu conjunto de maior complexidade.
Estas discussões acabam ficando relevantes para o Brasil que também enfrenta outras dificuldades, onde a compreensão das complexidades nem sempre são fáceis, por muitos analistas que ficam focados somente em determinados aspectos.