Dificuldades Que se Somam no Brasil
6 de dezembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: algumas compensações, atrapalhadas do governo, dificuldades econômicas, presença marcante da imprensa internacional
Existem vantagens e desvantagens com a atual presença maciça da imprensa internacional no Brasil. Com o período passado que parecia promissor para o país, destacando-se como dos maiores potenciais entre os países emergentes, democráticos e de grandes dimensões geográficas, importantes organismos da imprensa internacional instalaram seus profissionais no Brasil, que, além de cobrir os assuntos locais, também seriam bases para informar sobre outros países da América do Sul. Os eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas ajudaram a acrescentar a presença destes jornalistas, que aproveitam a oportunidade para destacar potenciais notícias como protestos populares que possam ocorrer durante os mesmos. No fundo, não faltam notícias do Brasil, num período de entressafra de notícias marcantes no mundo, quando a imprensa mundial passa por duros ajustes com reduções de suas receitas publicitárias e sofre a concorrência dos meios eletrônicos on time de informações.
E de bandeja, o governo brasileiro, com algumas de suas recentes atrapalhadas, acrescenta uma farta pauta para revistas ávidas para criticarem as exageradas presenças governamentais em assuntos econômicos. O The Economist registra no número desta próxima semana uma ampla matéria com destaque sobre o crescimento lento da economia brasileira, a inflação teimosa e os déficits crescentes. Um lamentável equívoco fez com que a presidente Dilma Rousseff fornecesse numa entrevista para o jornal espanhol El País uma incorreta informação de que, com a revisão das contas nacionais elaboradas pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 2012 o crescimento econômico passaria de 0,9% para um fraco 1,5%. Quando houve o anúncio oficial da nova estimativa, só tinha chegado a 1,0%, constrangendo a presidente, ao mesmo tempo em que no terceiro trimestre deste ano, o PIB encolheu 0,5%.
É verdade que no quarto trimestre deste ano o PIB deve ter um desempenho melhor, mas as estimativas para o ano não devem superar os 2,0%. Com a rígida política monetária do Banco Central elevando os juros, mesmo com efeitos defasados, a inflação tende a decrescer um pouco. Ainda que o déficit fiscal, quando pagos os juros, deve subir, mas medidas duras já foram tomadas como a suspensão da possibilidade do Município de São Paulo contrair novos empréstimos, ainda que extremamente estratégico para as eleições. Os leilões de Libra devem fornecer novos recursos, e a China parece interessada em suprir o Brasil de financiamentos, ainda que suas contas externas não estejam brilhantes. Os leilões de rodovias privatizadas estão começando a dar melhores resultados, com as correções efetuadas.
Mas as comunicações do governo, mesmo com intensas publicidades, não melhoraram, como no caso do aumento da gasolina e do diesel, que derrubou as ações da Petrobras em mais de 10% num dia. Os combustíveis continuarão a ser reajustados, mas sem dar a impressão de indexação. O governo está se esforçando para melhorar o diálogo com o empresariado, que parece estar voltados para os leilões como das rodovias.
E no meio de tudo isto ocorre o desastre como na construção do estádio de Itaquera, onde ainda deve ocorrer a inauguração da Copa, mesmo com a insatisfação dos seus vizinhos. A notícia foi divulgada em todo o mundo, aumentando a dúvida do cumprimento dos prazos para a conclusão até dos estádios, ainda mais da infraestrutura necessária. Arrastões como os que ocorrem nas praias do Rio de Janeiro, bem como as prisões dos envolvidos no mensalão, acabam percorrendo o mundo.
E a bola da Copa de 2014 batizada de Brazuca ficou com menor peso do que a utilizada na última Copa da África do Sul, que já foi motivo de reclamação de muitos jogadores. Na realidade, a Copa do Mundo não está sendo comandada pelo Brasil, mas pela FIFA – Federação Internacional de Futebol, que se move por interesses publicitários, e não representam sequer os do futebol. Algumas partidas serão disputadas sobre o sol a pino, por conveniência da televisão europeia. Os estádios exagerados para as exigências brasileiras não terão utilização total no futuro. Os estádios de algumas regiões brasileiras serão verdadeiros fornos, com coberturas que impedem a ventilação natural que é importante no Brasil.
Mas quem acabará sendo criticado é o país, suas autoridades e a população brasileira, pois a imprensa mundial se interessará pelos desconfortos do público, sem que os patrocinadores que também sustentam os veículos de comunicação sejam incomodados.
Seria da maior importância que o Brasil tenha a consciência de uma filosofia esportiva, utilizando estes eventos para provocar as melhorias intangíveis, como já temos insistido neste site, para compensar em parte as falhas que não somente de nossa responsabilidade, inclusive no campo econômico e político.