O Problema da Formação dos Economistas
13 de janeiro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: artigo na Folha de S.Paulo, distorções na compreensão da economia, Valor Econômico entrevista Alan Greenspan
Dois artigos publicados na imprensa brasileira acabam enfatizando indiretamente as distorções existentes sobre a compreensão do papel da economia e dos economistas no mundo atual. O suplemento Eu & Fim de Semana do Valor Econômico publicou uma magistral entrevista de Robinson Borges com Alan Greenspan, que comandou o FED – Sistema Federal de Reservas, o Banco Central dos Estados Unidos, num período crucial de expansão e posterior dificuldades, que comenta a política no qual teve papel relevante, falando também da nova presidente Janet Yellen. A Folha de S.Paulo publica artigo de Marina Carneiro e Érica Fraga sobre a nova safra de economistas brasileiros, resumindo o perfil de dez deles que consideram com grande potencial, informando que muitos deles se dedicam a novos campos que não eram abordados pelos economistas mais conhecidos, todos com sólidas formações acadêmicas no exterior.
Na realidade, parece que há hoje um exagero na importância do sistema financeiro em todo o mundo, que, apesar de seu relevante papel, não deveria dominar os avanços tecnológicos que são mais relevantes nos aumento das eficiências na produção. O setor financeiro deveria ser, na nossa modesta forma de pensar, somente um braço para auxiliar esta produção que vai permitir a melhoria do padrão de vida da população, com a eficiente utilização de todos os fatores disponíveis. Dos jovens economistas, hoje mais aparelhados para as análises econômicas, não se destaca nenhum que esteja diretamente ligado com a produção e o aumento da eficiência.
Alan Greenspan
O foco da entrevista do Valor Econômico está no problema gerado pelo sistema bancário, a partir dos financiamentos imobiliários, que resultou na crise de 2007/2008 que abalou o mundo, e a responsabilidade do FED. As colocações de Alan Greenspan são expressivas, quando responde sobre o assunto e a contribuição daquele organismo para a crise: “… não termos percebido que os contratos subprime seriam tão tóxicos quanto foram. Mas nenhum dos órgãos reguladores dos EUA percebeu (o surgimento da crise). A regulação é um esforço conjunto”.
Tudo indica que também nos Estados Unidos a exagerada especialização não permitiu a compreensão adequada que estes problemas econômico-financeiros necessitam de uma abordagem multidisciplinar, onde a política tem a sua importância, mas exige outras que acabam sendo resumidas, como as relacionados com a gestão de programas e projetos.
A importância que o sistema financeiro ganhou no mundo não vem permitindo uma regulamentação adequada, como dos fluxos financeiros internacionais, que tendem a agravar os problemas com grande velocidade. Nem o BIS – Banco Internacional de Compensações, o Banco Central dos Bancos Centrais, não consegue o seu conhecido intento, diante do poder político que as instituições bancárias conseguiram no mundo. Também o BCE – Banco Central Europeu vem insistindo nos assuntos que afetam profundamente países emergentes como o Brasil, notadamente quando FED adota a easing monetary policy que acelera estes fluxos, provocando a necessidade de uma guerra cambial.
Os instrumentos econométricos que ganharam exagerada importância nas possibilidades de formação das expectativas futuras e redução dos riscos vêm mostrando as limitações nos seus usos, na medida em que as hipóteses implícitas não são devidamente discutidas. Exagera-se na existência de um produto potencial como se existisse uma função de produção capaz de relacionar os fatores de produção com o resultado de sua aplicação.
Ninguém duvida que os economistas mais jovens tiveram as oportunidades de importantes estudos em instituições de ensino e pesquisa no exterior. Mas muitos revelam incompreensões sobre as condições vigentes no Brasil, cenário principal onde os seus trabalhos são executados, cuja vivência nem sempre conhecem in loco, mas somente por intermédio de duvidosos estudos acadêmicos.
Como regra geral, observa-se uma lacuna na compreensão humanística de todos os conhecimentos indispensáveis, como a história, a sociologia, a antropologia, a política, psicologia etc. bem como a vivência com ampla diversidade que se encontra neste Brasil, muitas vezes simplificadas por considerações globais.
São comuns as críticas sobre os trabalhos dos economistas, quando eles também atuam junto com profissionais de outras formações, havendo muitos que se originaram no campo das ciências exatas, quando as sociais dependem dos comportamentos dos seres humanos, que nem sempre são racionais.
Tudo indica que os exageros na especialização generalizada pelas universidades norte-americanas acabaram por limitar a capacitação dos economistas, que, no passado, estudavam mais a chamada Economia Política, ainda sem os instrumentais disseminados pelo uso da informática.
As limitações não se restringem hoje ao campo da economia, mas até da imprensa, voltada como regra geral ao curto prazo, não sendo criticável que seus profissionais tenham limitações de conhecimentos mais amplos. Muitos dos campos atualmente estudados, como da educação, da saúde, necessidades de assistência social, distribuição de renda, realidades regionais também foram objetos de estudos passados, de forma interdisciplinar.
É preciso observar também que o modismo que frequenta outras ciências também afetou a economia, e algumas revistas acadêmicas só publicavam artigos que estivessem na linha das colocações dominantes dos seus controladores. Estes são assuntos que têm sido objeto de estudos de antropologia, pois tais comportamentos parecem constatáveis desde grupos primitivos como até nas organizações mais sofisticadas do ponto de vista científico.
Parece que a tarefa da Janet Yellen de ajustar a política do poderoso FED a toda esta complexa realidade, que não se resume ao campo da economia, acabará ficando importante para o mundo e Alan Greenspan sabe de suas qualificações acadêmicas como da longa vivência com as autoridades monetárias, que não cuidam somente dos aspectos relacionados com os controles das moedas.