Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Os Benefícios de um Evento Como a Copa do Mundo

4 de junho de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias | Tags: a multidão de jornalistas visitando o escrevendo sobre o Brasil, artigo no The Wall Street Journal, uma competição de futebol na selva amazônica | 2 Comentários »

Quem procura acompanhar uma pequena parte do que é publicado nos jornais internacionais, como The Wall Street Journal, sobre o Brasil atual, é surpreendido com um brilhante artigo de John Lyon que traz o título “Beautiful Game”. Relata o que acontece até no interior da Floresta Amazônica, perto de Santarém, no Estado do Pará, nestes períodos da Copa do Mundo. Refere-se às disputas locais de um futebol rudimentar, inspirado pelo que acontece no país com o que empolga o mundo. Nunca se publicou tanto sobre este imenso país, com todas as riquezas e diversidades, bem como os seus problemas, mas de um povo com a alegria de viver com os motivos mais simples. São milhares de jornalistas estrangeiros cobrindo o Brasil, o que não estaria acontecendo sem a Copa.

Existem problemas sim, mas os que vivem nas grandes metrópoles brasileiras não têm noção do que acontece no interior deste grande país. Que continua suportando com suas atividades rurais toda esta economia que acostumou a viver do lucro fácil como das atividades especulativas do setor financeiro, que não ajudam a aumentar a produção. Agora que se adota uma política onde os ganhos são comparáveis com os do resto do mundo, inunda-se o país com críticas, diante da ansiedade criada pelas aspirações populares de melhores transportes, saúde e educação, decorrentes da melhoria de padrão de vida da população. Ainda que existam os benefícios das transmissões da televisão, o que é relevante parece ser a disputa do Norte Brasil e Santos, equipes locais que disputam a Copa da Floresta Ativa, na região da pequena aldeia de Suruaçá, de somente 470 habitantes.

WSJkazu

Mapa publicado no The Wall Street Journal

As equipes viajam muito de barco para as disputas entre vilas que depois dos jogos acabam produzindo casamentos destas populações de diferentes localidades.

Um senhor em torno dos seus 50 anos, Djalma Lima, que atua como técnico, informa que o futebol é uma forma de mostrar para as pessoas de fora que a Amazônia não é só de macacos, onças, pacas e aves, cobras e jacarés. Há também seres humanos que gostam de se divertir, se alegrar, de marcar gols e verificar o que conseguiram.

A aldeia de Suruaçá é um lugar tranquilo às margens do Tapajós, onde as pessoas acordam com os galos, trabalham pequenos lotes agrícolas, e o lanche são frutas como o uxi, que tem o gosto de uma batata. O futebol desperta a rivalidade entre os dois times locais, que existem desde os anos cinquenta, assim como a Argentina e o Brasil, existindo até um time feminino que inclui idosas. A disputa local é mais importante que a Copa do Mundo.

Nem sempre a energia elétrica atende a localidade, que acompanha a televisão com um gerador a diesel. Inspirados na Copa, promove um torneio regional. Os jogadores recebem uma massagem nos pés com as sobras de óleo que fritou as piranhas para o jantar.

Para o tratamento de cortes, eles usam uma solução de cachaça com sementes colhidas na floresta. Os problemas de saúde da população são resolvidos em Santarém, onde se chega de barco, havendo casos de ataque cardíaco, picadas de cobra, mordidas de escorpião e até diarreias fortes. A vítima do ataque cardíaco era um idoso de 74 anos, Domingos Pimentel, conhecido como Pimenta, que luta pela sua vida em Santarém.

Quando a bola foi para fora do campo, uma mulher com sua criança de colo devolveu-a com um chute de calcanhar de forma elegante. Uma mãe goleira notou que as crianças necessitavam de um lanche, apanhou uma vara e colheu os frutos de uma árvore de jambu, que saciaram os jovens. À noite, o jantar foi uma cotia, que alimentou a todos. Mas veio a notícia da tragédia, a morte de Pimenta, e se discutia a suspensão do torneio em seu respeito. Mas, para honrá-lo, Suruaçá deveria ganhar a taça para o velho Pimenta.

O campo era precário, mesmo para os padrões amazônicos. O time de Suruaçá conseguiu evitar um gol e conseguiu outro num contra-ataque e terminou o jogo. A equipe se reuniu em oração, agradecendo ao velho Pimenta.

O técnico do Suruaçá foi visto pela última vez com uma beleza local, desaparecendo na multidão de dançarinos no salão de madeira. Para quem teve a oportunidade de conhecer estas regiões remotas, histórias destas natureza fazem o cotidiano de alegria.


2 Comentários para “Os Benefícios de um Evento Como a Copa do Mundo”

  1. Monja Coen
    1  escreveu às 11:03 em 5 de junho de 2014:

    Há grandes benefícios ao Brasil e a todos brasileiros e brasileiras em sediar a Copa do Mundo.
    Espero que a população das grandes cidades despertem e não sejam manipuladas pelas
    campanhas falsas de politicagem em ano eleitoral.
    O mundo todo disputa por receber a Copa do Mundo e nós reclamamos?
    É momento de refletir, de acolher e de pensar no bem coletivo. Só assim teremos Educação, Assistência Médica, Judicial, Trabalhista adequadas.

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 17:59 em 9 de junho de 2014:

    Prezada Monja Coen,

    Muito obrigado pelos seus sempre ponderados pontos de vista.

    Paulo Yokota