Exageradas Simplificações de Situações Complicadas
22 de agosto de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: análises que simplificam demais os quadros complexos, casos do Brasil, da Índia e da China, dificuldades para a compreensão à distância, do México, wishful thinking
Muitos casos recentes mostram que análises demasiadamente simplificadas de quadros complexos mostram que existem muitos dos chamados “wishiful thinking”, onde os desejos são tomados como realidades por profissionais bem intencionados, mas nem sempre capazes de entenderem à distância todas as dinâmicas situações que são difíceis de serem interpretadas até pelos locais que estão permanentemente envolvidos nestes tipos de avaliações. Um exemplo significativo pode ser o caso do governo de Narendra Modi na Índia, eleito numa arrasadora eleição que pretende varrer do país um longo período de domínio de um grupo político desde a independência daquele país, que acabou disseminando a corrupção e a exagerada presença do Estado. Com uma campanha a favor do sistema privado de mercado com uma bandeira nacionalista, está se constatando que as dificuldades para as mudanças são maiores do que se poderia esperar, num país gigantesco e ainda pobre, mesmo que se disponha de recursos humanos bem preparados até no exterior. O assunto vem sendo divulgados em muitas publicações internacionais.
Narendra Modi, Primeiro Ministro da Índia
No México o novo Presidente empossado em 2012, Enrique Peña Nieto conseguiu a imagem mundial de um ousado reformista, começando pela quebra do monopólio da PEMEX, que nasceu de uma radical campanha nacionalista do controle estatal do petróleo quando aquele país era totalmente dominado pelo PRI – Partido Reformista Institucional. Hoje, como parte da NAFTA – Acordo de Livre Comércio da América do Norte que envolve além do México, os Estados Unidos e o Canadá, proporcionando um dos mais cobiçados mercados do mundo, o país empenha-se para efetuar todas as mudanças indispensáveis para a nova situação, mas encontra uma forte resistência da população, que precisará ser superada com grande esforço. Este assunto também vem merecendo considerações em muitas publicações internacionais.
Enrique Peña Nieto, Presidente do México
Na China que veio comandando o desenvolvimento mundial nos últimos anos o governo presidido por Xi Jinping vem promovendo mudanças para dar continuidade para um crescimento acelerado, superando os problemas como de poluição e corrupção e a exagerada dependência das exportações. No entanto, enfrenta problemas com muitos aperfeiçoamentos em setores importantes como o bancário que conta com um sistema paralelo de grande dimensão, além da exagerada dependência do crescimento aos investimentos que vem sendo efetuados, até com muitos endividamentos com juros elevados.
Yu Yongding, o ex-presidente do China Society of World Economics e diretor do Institute of World Economics na Chinese Academy of Social Sciences, entre outros cargos importantes na China, publica um expressivo artigo no Project Syndicate (https://www.project-syndicate.org/commentary/yu-yongding-warns-that-unless-officials-stem-the-rise-in-corporate-leverage–economic-crisis-is-inevitable) falando das dificuldades ainda persistentes no seu setor financeiro, que mesmo superado diversas vezes e de formas temporárias, ainda necessita de mudanças expressivas para suportar um crescimento econômico acelerado nos próximos anos. Estes tipos de dificuldades, que não ficam claros para os que veem a China do exterior, mostram que existem problemas para as superações das suas limitações.
Yu Yongding, Diretor do Institute of Word Economics
and Politics da Chinese Academy of Social Sciences, entre outros cargos.
No que se refere ao Brasil, diante da substituição da candidatura para Presidente da República nas próximas eleições do elogiado mas falecido Eduardo Campos pela Marina Silva, num arranjo da coligação comandada pelo PSB – Partido Socialista Brasileiro, e das primeiras pesquisas de opinião efetuada pela Datafolha, muitos artigos estão sendo publicados no Brasil e no exterior como uma significativa mudança no quadro político do país, criando um cenário de sua expressiva vitória.
Marina Silva substitui o falecido Eduardo Campos como candidata à Presidente da República
Este tipo de substituição de personalidades políticas muito diferentes não é fácil e nem os resultados podem ser tão claros. Até na ocupação de cargos relevantes na campanha eleitoral já se verifica as primeiras dificuldades de acomodação de organizações partidárias que não possuem a tradição de controles expressivos do poder no Brasil. Muitas incertezas ainda devem povoar o cenário brasileiro nos próximos meses, não sendo tão fáceis como algumas conclusões precipitadas que já estão sendo traçadas, como se milagre existisse.