O Difícil Problema de Hong Kong
3 de outubro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Política | Tags: artigo no The Economist, as manifestações populares em Hong Kong, grandes repercussões no mundo, um problema não só da China | 3 Comentários »
Um problema complexo como o que está ocorrendo em Hong Kong com as manifestações populares exige que apreciações experientes sejam consideradas na sua análise, como a do The Economist que lhe dedica a capa da edição que deve circular neste fim de semana, bem como artigos de profundidade inseridos na edição impressa. Quando Hong Kong acabou sendo absorvido pela China em 1997, saindo do controle inglês, admitindo-se um país e dois sistemas econômicos, eram previsíveis as dificuldades que surgiriam com o passar do tempo. Na ocasião pretendia-se manter Hong Kong como uma abertura chinesa para o resto do mundo.
A revista considera que o atual problema tem a importância do desafio ocorrido em 1989 na Praça Tiananmen na Capital Beijing. Mais de 100 mil manifestantes, liderados pelos estudantes, exigem a ampliação do seu regime democrático neste território, permitindo que seja eleito seu governador aqueles que desejarem se candidatar, independentemente da indicação do Partido Comunista Chinês comandando por Beijing. No dia 1º de outubro zombou-se do líder do território, Leung Chun-ying que hasteou a bandeira nacional.
As manifestações em marcha estão sendo chamadas de “revolução do guarda chuva”, tanto pelas chuvas que estão precipitando sobre a cidade como por serem meios de proteção contra os gases sprey lacrimogentes que estão sendo lançados pelas forças policiais para conter os manifestantes.
Mesmo com o controle que se exerce na China sobre as informações para a população, variados meios acabam transmitindo para todo o país o que está ocorrendo em Hong Kong. As possibilidades que estes tipos de reivindicações acabem se espalhando são elevadas, o que seria difícil de ser admitindo pelo poderoso Presidente Xi Jinping e o Partido Comunista que não pretendem a implantação do regime político vigente nos países considerados democráticos.
As autoridades estão revelando a possibilidade de uma repressão mais dura, afirmando que podem chegar a situações extremas pelas quais os manifestantes seriam os responsáveis. Algumas organizações como o Occupy Central Love and Peace parece sugerir que seriam semelhantes ao que ocorreu em Wall Street, havendo também os que agrupam estudantes com líderes que estão se tornando conhecidos.
O centro das reivindicações são pelo aumento das liberdades políticas, mas existem protestos de insatisfações econômicas, e veem envolvimentos de milionários chineses manifestando simpatia pela repressão aos manifestantes.
O que se sente é que as autoridades nada podem oferecer para a redução da reivindicações. Há os que pedem a renuncia do atual responsável por Hong Kong, mas o que haveria seria somente a sua substituição por outro que seria indicado pelo governo central.
O fato apontado pelo The Economist é que a situação não apresenta uma saída do impasse. No entanto, a volta das atividades normais em Hong Kong em áreas estratégicas mostram que o pico das manifestações pode ter sido superado, podendo haver um esvaziamento gradual. Mas, parece que há alguns grupos de estudantes que procuram intensificar as pressões, como ocupando edifícios governamentais, forçando uma repressão mais forte que poderia provocar o agravamento da situação. Pode haver uma tendência que resíduos das dificuldades continuem sendo mantidos, com a disseminação destas notícias pelo China e pelo exterior, acabando por fomentar outros centros de insatisfações.
Caro Paulo Yokota.
Li uma materia que complementaria essa sua do blog, a do valor econômico (ontem ou antes de ontem). Me chamou a atencao.
Democracia requer liberdade (em todos os sentidos), sera que a China conseguira conviver com um capitalismo não democrático?
Hoje muitos estudantes chineses visitam e creio que tem mais acesso a viagens a países cuja liberdade de expressão e etc.. encontram outros modelos em contraponto com o Comunismo. Quando voltam aos países de origem existe com certeza questionamentos.
Será que essa transição será tranquila?Pessoalmente acho que não e afetará o mundo inteiro (economicamente falando).
O que o prof. acha?
Abs
Frank Honjo
Caro Frank Honjo,
A melhoria do nível de bem estar de qualquer população tende a aumentar as aspirações por mais liberdade. As mudanças sempre acabam sendo com poucos ou mais problemas. Acredito que a China já conta com bastante liberdade ao nível local. No caso de Hong Kong, por ter sido uma região de controle inglês antes de ser absorvido pela China num sistema duplo, sempre gozou de maior liberdade, que se pretende ampliar, retirando a possibilidade de interferência do Partido Comunista, o que tende a ser imitado por diversas regiões chinesas. Ainda que as autoridades chinesas estejam preparadas, sempre haverá dificuldades, que se espera possam ser superadas pelas negociações. Como comentou o The Economist, 100 mil estudantes é menos do que um décimo dos manifestantes que ocorreu no Brasil. Acredito que acabarão se acomodando, pois nenhuma das partes não conta com suicidas, mas exige um pouco de paciência.
Paulo Yokota
Além da economia, há outros fatores que levam Hong Kong e Macau a serem praticamente um país à parte, e portanto teria feito muito mais sentido que fossem emancipadas (ou eventualmente anexadas por Taiwan) ao invés de entregues à ditadura comunista chinesa. Considerando que, apesar das populações dessas cidades serem etnicamente chinesas, há muitas diferenças culturais e até a questão da infra-estrutura rodoviária, tendo em vista que não só Hong Kong como ex-colônia britânica permanece usando a mão inglesa de direção mas Macau também adota esse sistema apesar de Portugal ter adotado a mão francesa em 1928. Há até alguns nativos de Hong Kong e Macau que preferem que seja mantida a mão inglesa por teoricamente desencorajar um aumento no fluxo de motoristas da China continental, que são vistos como mal-educados (ainda que uma eventual emancipação política das regiões administrativas especiais pudesse facilitar a adesão à Convenção de Viena tanto das mesmas quanto da China continental).