O Que Poderia Ser Feito no Brasil Atual (2)
23 de fevereiro de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: a necessidade de uma proposta da oposição, fazer o que é possível, limitação das condições econômicas e políticas disponíveis, pragmatismo indispensável, situação no quadro econômico e político adverso
Como o assunto é muito extenso, neste artigo será abordado o que oposições poderiam fazer apresentando alternativas possíveis na eventualidade de assumirem o poder.
Uma clara imagem do país do futuro que pretendem construir
Apesar das críticas apresentadas aos aspectos considerados negativos no Brasil, as diversas oposições não conseguiram formar uma maioria nas últimas eleições. Transmitir uma mensagem sobre o país que desejam para o futuro, informando os meios pelos quais conseguiriam alcançar os objetivos almejados, parece ser indispensável. Uma simples apresentação de uma política considerada neoliberal, em contraste com a exagerada intervenção governamental do atual governo, parece não empolgar os eleitores. Principalmente os que foram beneficiados do ponto de vista social pelas últimas administrações, que conseguiram aumentar a nova classe média, tanto nas periferias dos grandes centros urbanos como no desenvolvimento do interior brasileiro, onde novas regiões surgiram com uma rede de cidades neste país.
O exagerado relacionamento destes grupos aos interesses do setor financeiro não parece conseguir transmitir o que seria o novo Brasil, mais eficiente e competitivo no lado real, que consiga se livrar das amarras políticas com o que se considera ultrapassado e comprometido com os vícios da corrupção histórica. Parece necessário que se transmita quais os segmentos de novas tecnologias seriam os carros chefes para impulsionar toda a sociedade, desde os setores industriais como de aproveitamento dos amplos recursos naturais disponíveis, do ponto de vista mineral como da conhecida biodiversidade brasileira, incluindo o dos serviços.
Ainda que as mensagens oposicionistas atingissem os segmentos considerados mais esclarecidos da sociedade brasileira, os que ainda permanecem nas bases menos privilegiadas, que estão deixando as condições da pobreza absoluta, não se sentem empolgados pelos líderes que estão sendo apresentados, ainda ligados a antepassados que já estiveram no poder. Ainda que alguns tenham conseguido imagens regionais e estaduais de administrações com melhores resultados não conseguem ter uma projeção nacional que parece exigir um envolvimento com projetos de mais amplo alcance. Parece que o eleitorado é capaz de diferenciar o que é executado num nível estadual do que é federal, que são de naturezas diversas.
Parece que um desenvolvimento econômico, político e social, de formas sustentáveis e diretamente ligadas aos interesses humanos teriam que ser desenhados de forma compreensível para os eleitores, que aparentam estar saturados com o que experimentaram até o momento. Mas esta visão não poderia ser radical, ainda que continuem evoluindo no tempo pelos partidários de figuras como Marina Silva. Parece preciso observar que muitos brasileiros já consolidados não se empolgam com a bandeira da sustentabilidade, que emociona mais os jovens e alguns grupos isolados, necessitando de indicações que eles lhes proporcionem resultados palpáveis.
Observando o que vêm ocorrendo nas últimas eleições no Brasil e no exterior parece que podem ser colhidas algumas lições, que precisam ser atualizadas com os instrumentos de pesquisas que estão sendo utilizadas pelos marqueteiros eleitorais até com abusos. Com todas as limitações hoje constatáveis, Barack Obama conseguiu as suas vitórias eleitorais com a mensagem do “We Can”, apresentando-se como uma nova figura política, utilizando para a transmissão do seu discurso o que havia de mais atualizado nas comunicações sociais, contra os segmentos políticos considerados tradicionais. Mesmo que não tenha conseguido superar o domínio do Congresso pelos republicados e sua administração tenda a ser considerado um fracasso.
Também Narendra Modi conseguiu na Índia superar as tradicionais lideranças políticas que estavam voltadas à presença mais acentuada do Estado, que costumam gerar corrupções. A partir de uma administração regional considerada um sucesso, voltada para o setor privado e utilização dos mecanismos de mercado, ele continua a ser uma grande esperança da comunidade econômica mundial de tendência mais liberal, diante dos fracassos das políticas intervencionistas que estão sendo escolhidas nos países que contam com eleições livres.
Narendra Modi assumiu o poder na Índia com a imagem de um político a favor do setor privado e da utilização dos mecanismos de mercado num país emergente
No Brasil, o falecido ex-governador de Pernambuco candidato a presidente, Eduardo Campos, aparentava que estava conseguindo parcela substancial do eleitorado brasileiro, utilizando a aliança estabelecida com Marina Silva cuja imagem estava ligada à sustentabilidade, esperando conseguir também os votos dirigidos a Aécio Neves no segundo turno, em oposição à Dilma Rousseff, que já dava sinais de saturação. Apesar de neto de Miguel Arraes, sua imagem não estava tão ligada ao avô, como Aécio Neves está ao tio Tancredo Neves.
Parece que somente a imagem do sucesso estadual não seja suficiente para eleições presidenciais. Coseguir projeção nacional parece exigir uma clara imagem no mínimo regional, como do Nordeste que conta com um peso eleitoral respeitável e o pretendente necessita contar com uma capacidade de comunicação com os segmentos mais modestos, como Lula da Silva vem demonstrando, tendo como contraprova Dilma Rousseff, que não consegue empolgar as massas populares, que se identifique com ela. A disposição de diálogos verdadeiros com segmentos com os quais não se concorda também parece ser uma necessidade, sendo desejável uma experiência no Parlamento, que permite identificar auxiliares que tenham um bom conceito nestes afazeres.
Parece indispensável que os segmentos oposicionistas consigam fornecer imagens que são capazes de fazer mais pelo desenvolvimento brasileiro do que os que estão na situação. Isto implica contar com uma ampla equipe de abrangência nacional, que seja capaz de fornecer uma visão de longo prazo, com a clara definição da estratégia a ser adotada, ainda que seja numa coligação. Os setores prioritários necessitam estar claros, bem como os cortes que necessitam ser efetuados, sobre os quais todos os candidatos evitam falar, imaginando que perderiam potenciais eleitores.
Os equacionamentos dos programas de longo prazo, tanto os de infraestrutura, educação, saúde, concessão dos benefícios sociais precisariam estar claros, definindo de onde os recursos necessários seriam provenientes. Não parece mais possível elevar a carga tributária nem o endividamento público e seria indispensável contar com investimentos do setor privado, inclusive do exterior.
Algumas vacas sagradas que continuam como monopólios do governo necessitariam ser privatizadas, como no caso do setor petrolífero, começando com setores de amplos impactos como os de gás e petroquímico. Não parece fazer mais sentido o que seria relevante no passado, como se observa no México. Não podem ser substituídos por monopólios do setor privado que são mais danosos do que os públicos, gerando possibilidade de escândalos como os que estão sendo observados.
Haveria que se deixar claro que as mudanças propostas seriam sensivelmente diferenciadas das atualmente vigentes, dando elevada prioridade para o setor privado e o uso dos mecanismos de mercado, ainda que não se deva recorrer a simples contenção da economia, mas criar as condições para a sua expansão usando as energias disponíveis na sociedade brasileira.
O aproveitamento racional da floresta amazônica precisaria contar de um programa
O aproveitamento sustentável da ampla biodiversidade brasileira parece um filão que não tem sido aproveitado, ainda que as condições geográficas tenham sustentado o desenvolvimento recente, necessitando contar com base nas pesquisas, e não de simples aproveitamento das aspirações nacionais e mundiais. O Brasil continua com a imagem que dispõe das maiores florestas mundiais, bem como ampla disponibilidade de águas superficiais como subterrâneas cada vez mais escassas no mundo. Haveria que transmitir à população a existência de formas adequadas dos seus aproveitamentos, tanto para benefício dos brasileiros como até contribuindo para o mundo.
Apesar de contar com um dos litorais mais apreciados tanto pelas populações locais como pelos estrangeiros não se conseguiu deixar claro as suas formas de aproveitando que não se resumem somente nos programas de aproveitamento das potencialidades do turismo. A criação de peixes e outros frutos do mar apresentam amplas oportunidades, muitas frutas como o coco e sua água estão com crescentes demandas no mundo, muitas algas poderiam ampliar as ofertas de produtos alimentícios, entre outros programas.
A piscicultura e sua potencialidade ainda não estão sendo aproveitada adequadamente
A energia eólica e solar ainda não estão sendo totalmente usadas nas suas potencialidades, onde o litoral brasileiro apresenta grandes possibilidades. Os portos naturais disponíveis no Brasil também oferecem alternativas de escoamento e a navegação costeira poderia desafogar muitas das rodovias congestionadas e poluentes. Entidades de pesquisa, inclusive nas universidades, poderiam ser estimuladas para elaborarem projetos de alguns destes programas, ajudando no aperfeiçoamento dos recursos humanos.
Parece indispensável que as considerações de caráter sistêmico sejam disseminados entre os brasileiros que parecem considerar isoladamente somente alguns aspectos, sem a falta de uma visão global, num entrosamento do setor público com o privado. Sem a elaboração de estudos de programas e projetos, detalhados e tecnicamente preparados parece difícil que o Brasil venha a executá-los com eficiência, principalmente quando o setor privado fica inibido com as irregularidades em que acabaram sendo envolvidos.
Estas parecem ser alguns dos temas que teriam ser apresentados pela oposição que tem se concentrado somente nos desvios que estão ocorrendo na economia brasileira.