Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Rivalidades Sadias da Malásia com Cingapura

28 de março de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: artigo no Nikkei Asian Review, Mahathir Mohamad e Lee Kuan Lee, Malásia e Cingapura, vizinhos diferentes

clip_image001Malásia e Cingapura já foram por um curto período de tempo um só país que ficou independente do Reino Unido, mas estão separados, com características bem diferentes. Mas se desenvolvem a taxas elevadas, com dois líderes fortes que competiam entre si.

Mahathir Mohamad foi por muito tempo primeiro-ministro da Malásia

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Lee Kuan Yew foi por muito tempo primeiro-ministro de Cingapura, falecido recentemente

Malásia e Cingapura que já foram um só país, como Federação Malásia, depois da independência do Reino Unido, são hoje dois países totalmente diferentes, com características próprias. Mas conseguem manter um elevado crescimento invejável para os países da América Latina, notadamente o Brasil, que passa por um momento difícil.

A Malásia conta com um território de cerca de 330 mil quilômetros quadrados, dividido em duas partes, uma no continente e outra numa grande ilha que divide com a Indonésia. Tem uma população de predominância malaia, que adota uma religião muçulmana moderada de cerca de 28 milhões de habitantes. Seu PIB per capita, segundo o Banco Mundial, gira em torno de US$ 10 mil, um pouco abaixo do Brasil. A região aparenta o norte do Brasil, algo como o Estado do Pará, tendo uma grande produção de borracha, mas hoje está bastante industrializada.

Cingapura é uma cidade-estado que se separa da Malásia por um estreito canal, com somente 716 quilômetros quadrados, ou seja, cerca de 0,2% do seu vizinho, com uma população de aproximadamente 5,4 milhões de habitantes, cerca de 20% da Malásia. Seu PIB per capita, pela mesma fonte, é de cerca de US$ 55 mil, pouco acima dos Estados Unidos. Com estas características, apresenta algumas semelhanças com Hong Kong e Taipé e sempre foi um porto estratégico que liga o Oriente Médio com a Ásia.

Com o recente falecimento de Lee, Mahathir expressou suas condolências à família, e informou ao mundo pelo seu blog que, apesar das diferenças de algumas concepções que os dividiram politicamente, admitia que o ex-primeiro-ministro de Cingapura teve um papel de suma importância para a região do Sudeste Asiático. Na realidade, Mahathir sempre propôs que os malaios tivessem um tratamento prioritário na Malásia, enquanto Lee entendia que deveria haver uma igualdade, pois Cingapura contava também com muitos descendentes de chineses e hindus.

Ambos foram políticos autoritários, que mantiveram o poder no seu país por cerca de duas décadas, transformando-os de regiões ainda subdesenvolvidas para atingir níveis respeitáveis. Suas políticas econômicas e sociais tiveram grandes avanços, e a ordem que impuseram às suas populações acabou gerando criticas como dos europeus e até norte-americanos, que apreciariam uma política mais liberal e orientações econômicas sem grandes interferências dos governos.

O ADB – Asian Development Bank estima que o PIB da Malásia cresceu 4,7% em 2013, 6,0% em 2014, estimando-se que possa obter 4,7% em 2015 e 5,0% em 2016, que são cifras expressivas. Cingapura, por sua vez, cresceu 4,4% em 2013, 2,9% 2014, devendo chegar a 3,0% em 2015 e 3,4% em 2016. Existem também estimativas pelo PPP – Poder de Paridade de Compra, pois tanto os câmbios oficiais como os custos de vida destas regiões apresentam diferenças.

O que poderia ser aprendido com estas experiências é que países emergentes precisam contar com programas de longo prazo, para superarem problemas de competitividade com aqueles que chegaram antes aos níveis elevados de desenvolvimento e industrialização. Regimes políticos autoritários facilitam estes processos, mas não se pode exigir as mesmas crenças políticas para países de culturas diferentes, muitas etnias e variadas religiões, que também possuem longas histórias, e que já foram colônias de metrópoles europeias.

Estes países devem ser considerados democráticos, com respeitáveis margens de liberdade para acomodarem as tendências políticas que vão se consolidando ao longo de suas histórias. Parece ser difícil exigir que todos tenham formas de pensar iguais e há que se respeitar as opções de outros povos.

Mas também se observam que há uma tendência de crescimento decrescente nas evoluções das rendas per capita, tanto quando os países e as economias que chegam a uma renda média exigem reformas para a sua superação. Com melhor nível de vida, vai ampliando as aspirações por maior liberdade.