Dúvidas Sobre o “Quantitative Easing”
10 de abril de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: aplicação no Japão, começando nos Estados Unidos, dúvidas sobre a política de quantitative easing, necessidades políticas de crescimento, política econômica coordenada, problemas na Europa
Confesso que, apesar de ter sido diretor do Banco Central do Brasil quando ainda ele tinha outras atuações além da política monetária, tenho uma visão não acadêmica mais desenvolvimentista, acreditando que a monetária e creditícia necessitam estar adequadamente coordenadas com o restante de todos os demais instrumentos que colaboram na formulação da política econômica, para uma ação governamental eficiente. O que significa que a independência do Banco Central não é uma necessidade fundamental.
Haruhiko Kuroda, governador do Bank of Japan
A revista The Economist publica um artigo aventando a possibilidade de aprofundamento das divergências entre o primeiro-ministro Shinzo Abe e o governador do Bank of Japan, Haruhiko Kuroda. Sou daqueles que sempre tiveram dúvidas sobre o chamado “quantitative easing”, que começou a ser aplicado pelo FED – Banco Central dos Estados Unidos, vem sendo adotado no Japão e agora está se tentando incluí-lo na Comunidade Europeia pelo Banco Central Europeu.
Se o “quantitative easing” tivesse o poder de ativar uma economia sem nenhum outro custo a não ser o de aumentar o volume de recursos da autoridade monetária, ampliando o crédito disponível, tudo seria muito simples. O mínimo que isto provoca é uma guerra cambial como está se verificando no mundo, pois acaba causando a desvalorização da moeda do país que adota esta política, e seus concorrentes tendem a fazer o mesmo para não serem prejudicados na economia global. Se todos tomam estas medidas, o jogo acaba ficando empatado, sem nenhum ganho para ninguém. Infelizmente, como nem todos os países possuem moedas de aceitação no exterior, estes acabam sendo prejudicados, como vem acontecendo com o Brasil, que fica obrigado a desvalorizar a sua moeda com outras medidas, para continuar competitivo.
Estamos vendo agora que a recuperação dos Estados Unidos tende a ser um voo de galinha, pois seus principais parceiros também estão desvalorizando suas moedas. O Japão não consegue superar a sua estagnação saindo da deflação e a Comunidade Europeia ainda enfrenta muitas dificuldades, mesmo admitindo que as medidas monetárias exijam tempo para provocar seus efeitos.
Na realidade, todos os países necessitam de crescimento, o que parece ser possível somente com o aumento dos seus investimentos, de sua eficiência e utilização de todos os recursos que dispõem, tanto naturais como humanos. Se contarem com demandas para as suas exportações, o seu caminho fica mais fácil, mas não contando com elas de forma estimulante, acabam necessitando ampliar as demandas internas para absorverem o aumento das ofertas. Com reformas, como vem ocorrendo na China, sempre de forma muito complexa, pois nem mesmo onde se conta com elevado poder central, todas estas coordenações são fáceis.
Nos países emergentes, que estão procurando desenvolver-se tardiamente quando comparados com os industrializados que já consolidaram suas posições mundiais, as dificuldades são maiores, exigindo ações estatais que nem sempre são eficientes e tampouco provocam a descentralização do poder, que seria uma marca das liberdades políticas aspiradas por muitos. Há que se considerar ainda que as aspirações por maior igualdade de oportunidades são crescentes. Onde o setor privado já é expressivo e ativo, a sua ajuda facilita o processo.
Não parece restar senão um elevado pragmatismo, procurando aproveitar todas as oportunidades que se oferecem, tanto no mercado internacional como localmente. O desenvolvimento pode ser o máximo possível, dentro do amplo quadro das limitações existentes.
Quando tudo está funcionando adequadamente, o Banco Central pode contar com o luxo de uma política monetária independente. Mas o usual parece ser o das aspirações da população serem superiores aos recursos disponíveis, exigindo que as autoridades, em consonância com a opinião pública, estabeleçam uma escala de prioridades nos objetivos a serem perseguidos. No mundo econômico, as limitações sempre existem, infelizmente.