60 Anos de Exportação da Vale Para o Japão
29 de maio de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: a mais importante parceria feita pelo Brasil com outro país, o sistema logístico que se tornou um exemplo no mundo, primeira exportação da Vale para o Japão ocorreu há 60 anos
A Vale pretendia exportar o minério de Minas Gerais e o Japão pretendia expandir o seu setor siderúrgico depois da Segunda Guerra Mundial no início da década dos anos sessenta do século passado. A visão de estadistas de algumas personalidades permitiu viabilizar um dos empreendimentos bilaterais mais desafiantes do mundo.
Exportação de minério de ferro de Carajás pelo porto de Itaqui
O minério de ferro é um dos produtos de peso específico mais pesado e de menor valor por tonelada. Tornar viável a sua exportação do Brasil para o outro lado do planeta foi um dos desafios que alguns empreendedores como Eliezer Baptista, do Brasil, e Toshiwo Doko, do Japão, enfrentaram, transformando os dois países em sócios num dos sistemas logísticos que impressionaram o mundo, sendo copiados por outros, como os australianos. O quadro econômico de então era muito mais difícil que o atual.
A então Companhia Vale do Rio Doce, hoje somente Vale, buscava aumentar a sua produção e exportação. O Japão pretendia expandir a sua siderurgia no após guerra. Mas a distância que os separavam era a maior do mundo. O problema só poderia ser resolvido utilizando portos eficientes capazes de manipular grandes volumes, navio de grande porte e o sistema só se tornaria possível havendo cargas de retorno em volume e em fluxos expressivos.
E o Brasil não possuía recursos para pesados investimentos e o Japão só dispunha de tecnologias para a construção de navios. A solução tornou-se possível com a montagem de um sistema logístico que transportava o minério que vinha de Minas para o porto de Tubarão no Espírito Santo utilizando a ferrovia Vitória-Minas, que seria dotada de equipamentos de alta capacidade para embarque destes minérios para navios denominados “ore-oil” de grande porte. Seriam levados para portos japoneses como de Oita, ao lado das usinas siderúrgicas japonesas e lá desembarcados. Estes navios, carregados de água (não podem navegar vazios) iam até o Golfo Pérsico, onde eram esvaziados e carregados de petróleo que o Brasil necessitava importar na época. Eles eram transportados para os portos brasileiros, fechando todo o circuito. Os navios precisavam ser de grande porte para terem custos baixos, e começaram com os de 170 mil TDW e chegaram a 400 mil. Um acordo de exportação de longo prazo foi firmado, e serviram de garantia para os bancos que financiaram o projeto.
O Brasil tornou-se competitivo na exportação de minérios para o Japão, com relação a outros potenciais fornecedores como a Austrália, a Índia e o Canadá que estavam mais próximos dos portos japoneses e cujos custos de transporte eram, por consequência, mais baixos.
Depois do início do funcionamento deste sistema, o Brasil passou a utilizar também o porto de Mindanao, nas Filipinas, para viabilizar a exportação para outros consumidores de minérios como a Coreia do Sul e a China que ainda trabalhavam com volumes menores do que o Japão. Países com a Austrália copiaram este sistema para poder continuar no mercado mundial competindo com os brasileiros.
Uma adaptação deste sistema viabilizou também a exploração do minério de Carajás, construção da ferrovia até o porto de Itaqui, no Maranhão, e sua exportação para o mundo. O mesmo esquema de financiamento foi estabelecido, com um contrato de longo prazo que permitia o financiamento de todos os investimentos necessários.
Quando alguém afirma que não podemos exportar para a Ásia outros produtos, deve se lembrar sempre de que qualquer um deles contém mais valor adicionado que o minério de ferro, e costumam pesar menos. Hoje, muitas das exportações e das importações são feitas com o uso de contêineres e sempre existem possibilidades técnicas para transportá-los até em navios que exportam granéis sólidos como cereais ou minérios.
Como afirmou Eliezer Baptista numa entrevista concedida a Francisco Góes, do jornal Valor Econômico, o Brasil necessita caminhar na mineração para a produções mais sofisticadas como as terras raras, que podem ajudar a produzir metais de alta tecnologia. A cooperação nipo-brasileira, que está sendo efetuada para os estudos da Elevação Rio Grande, apresenta estas possibilidades e, havendo personalidades com pensamentos de estadistas, pode ser que venham a ser possíveis, até para as à Ásia, tendo contêineres asiáticos com produtos industriais.como cargas de retorno Estamos precisando destes estadistas, pois tecnologia para tanto está disponível, havendo também recursos financeiros abundantes para projetos de infraestrutura.