Elevados Custos Chineses Com a Migração do Campo
2 de maio de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: artigo longo no Financial Times, o custo do que proporcionou o desenvolvimento chinês, um caso concreto
Um artigo com a qualidade de um livro foi publicado por Jamil Anderlini no Financial Times, onde é chefe da sucursal em Beijing, e mostra com toda a dramaticidade o elevado custo pago pelos migrantes chineses, do meio rural para os centros urbanos, que propiciaram o desenvolvimento chinês.
Foto que ilustra o artigo do Financial Times com a migrante Xiang Ju e seus parentes
Aproveitando os feriados do Novo Ano Lunar chinês, Xiang Ju, que trabalhava em Beijing, viaja para sua terra natal, uma distância de 1.500 quilômetros para encontrar os seus parentes. Seu plano é retornar definitivamente para a área rural da qual migrou para Capital. Cerca de 170 milhões de seus patrícios também fazem esta viagem neste período do ano, representando o maior movimento da população neste feriado conhecido no mundo.
Além de enfrentar um emprego que lhe pagava um baixo salário, se sujeitou à poluição e acabou se acidentando na neve, passando a necessitar de muletas para a longa caminhada, onde a sua fragilidade a deixava a mercê dos assaltantes, segundo ela. A longa viagem foi acompanhada pelo jornalista inglês. Ela morava às margens do rio Tangtse, perto da gigantesca barragem das Três Gargantas, cujo represamento obrigou milhões de chineses a se deslocarem para outras áreas.
Deixou seu marido com o qual mal se corresponde (e que suspeita que ela tenha um caso em Beijing), duas filhas e alguns parentes distantes, mas, como muitos outros chineses, chegou à conclusão que a migração não lhe compensou. Os baixos salários deles propiciaram o desenvolvimento chinês das últimas décadas, mas agora estas atividades estão se transferindo para outros países asiáticos que ainda mantêm seus salários baixos, o que deixou de prevalecer na China.
A situação dramática em que viviam cerca de 20% da população nas cidades chinesas em 1978, hoje já chegou a 55% nos centros urbanos, mas desta migração eles não podem deslocar suas famílias juntos com o controle. Seu marido veio trabalhando nas obras públicas na China e na África, em condições severas, e suas filhas (atualmente com 14 e 21 anos) mal conseguiram uma educação básica e não para se prepararam para trabalhos mais qualificados. Os habitantes de origem rural ainda são considerados, segundo o artigo, como verdadeiros “apartheid” do tipo sul-africano.
Situação em que se encontra Xiang Ju
Hoje, a situação de Xiang Ju é muito diferente de quando estava na região. Aprendeu um pouco de mandarim, enquanto seus familiares usam uma linguagem ainda local e suas visões de mundo acabam se diferenciando.
O que o artigo procura mostrar é que cada um destes 170 milhões de chineses que procuram se deslocar anualmente para reverem seus familiares nas regiões de origem, individualmente, são seres humanos que vivem os seus dramas. Poucos são os que conseguiram sucesso estabelecendo-se como pequenos empresários, acompanhando o desenvolvimento que ocorreu na China, beneficiando principalmente os que já eram urbanos.
Fiz uma viagem com minha família por mais de 2 mil quilômetros pelo interior da China em torno de 1985, antes destas décadas de rápido desenvolvimento chinês. Já naquela época, o deslocamento da grande massa de chineses impressionava, tanto nas estações ferroviárias como nos aeroportos. Mesmo pobres, estes deslocamentos não provocavam perdas das bagagens que seguiam em outros vagões, os hotéis estavam organizados para os turistas, os guias funcionavam, ainda que houvesse dificuldades de comunicação nos idiomas locais. Hoje, as condições melhoraram, mas a massa dos que se deslocam também se agigantaram.
A íntegra do longo artigo do Financial Times, em inglês, que vale uma leitura cuidadosa para conhecer melhor a China pode ser obtido no http://www.ft.com/intl/cms/s/2/44096ed2-eeb0-11e4-a5cd-00144feab7de.html.