Prevalece o Bom Senso no Japão Sobre a II Guerra Mundial
14 de agosto de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Política | Tags: atuação futuro pela paz no mundo., declaração de Shinzo Abe sobre os 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, reconhecimento pelos erros cometidos e pedidos de desculpas, um texto aprovado pelo seu Gabinete | 2 Comentários »
Por muitos meses, discutiu-se no Japão o conteúdo do pronunciamento do primeiro-ministro Shinzo Abe sobre os 70 anos do término da Segunda Guerra Mundial. Em vez de um de sua elaboração pessoal, acabou preferindo o aprovado pelo seu Gabinete que procura atender à maioria das divergências existentes com outros países asiáticos, notadamente a China e as Coreias, reforçando posições já adotadas por outros premiês japoneses que o antecederam.
Primeiro-ministro Shinzo Abe durante o pronunciamento sobre os 70 anos do término da Segunda Guerra Mundial, perante representantes da imprensa mundial
Este pronunciamento ganhou uma importância inusitada no mundo, notadamente na Ásia, em países como a China e as Coreias, pois temia-se que o Japão do atual governo tivesse uma interpretação nacionalista radical, não admitindo a agressão aos demais países asiáticos, cometido atrocidades que resultaram em muitas mortes, tivessem humilhado mulheres que serviram sexualmente seus soldados, não mostrando arrependimento e pedindo desculpas, e comprometendo-se a adotar outra orientação no futuro.
A China, que tende a se tornar a mais importante potência econômica e politicamente no futuro, superando até os Estados Unidos, desejava manifestações do Japão garantindo não se tornar uma potência militar na Ásia, apesar do seu interesse em preservar as relações econômicas e comerciais. No Japão, havia correntes defendendo que o país se desculpou no passado, não havendo necessidade de repetições deste gesto. Além de que muitos incidentes controvertidos fossem considerados atos naturais aos conflitos armados, registrados também em outros países. Acabou prevalecendo um bom senso que se espera ajude na manutenção dos intercâmbios e solução dos problemas existentes pela via diplomática.
A íntegra do deste pronunciamento pode ser obtida em inglês no: http://asia.nikkei.com/Politics-Economy/Policy-Politics/Full-text-of-official-translation. Numa tradução livre, os pontos cruciais podem ser assim colocados:
“Também em países que lutaram contra o Japão, inúmeras vidas foram perdidas entre os jovens com futuros promissores. Na China, Sudeste da Ásia, nas ilhas do Pacífico e em outros lugares que se tornaram campos de batalha inúmeros cidadãos inocentes sofreram e foram vítimas de batalhas, bem como de sofrimentos, tais como privação severa de alimentos. Nunca devemos esquecer que havia mulheres por trás dos campos de batalha, cuja honra e dignidade foram gravemente feridas”.
“Incidentes, a agressão, a guerra – nós nunca mais vamos recorrer a qualquer forma de ameaça ou uso da força como meio de resolver disputas internacionais. Devemos abandonar o ‘domínio colonial’ para sempre e respeitar o direito da autodeterminação de todos os povos em todo o mundo”.
“O Japão tem repetidamente manifestado os sentimentos de profundo remorso e desculpas sinceras por suas ações durante a guerra. A fim de manifestar esses sentimentos através de ações concretas, temos gravado em nossos corações as histórias de sofrimento das pessoas na Ásia como nossos vizinhos: aqueles em países do Sudeste Asiático, como a Indonésia e as Filipinas e Taiwan, a República da Coreia e a China, entre outros; e nós nos dedicamos de forma consistente para a paz e prosperidade da região desde o fim da Guerra”.
“Vamos gravar em nossos corações o passado, quando o Japão tentou quebrar seu impasse com a força. Após esta reflexão, o Japão vai continuar a defender firmemente o princípio de que qualquer disputa deve ser resolvida pacifica e diplomaticamente com base no respeito pelo Estado de Direito e não através do uso da força, e persuadir outros países do mundo a fazer o mesmo. Como o único país que já sofreu a devastação de bombardeios atômicos durante a guerra, o Japão vai cumprir a sua responsabilidade na comunidade internacional, visando a não proliferação e abolição definitiva das armas nucleares”.
“Vamos gravar em nossos corações o passado, quando a dignidade e a honra de muitas mulheres foram gravemente feridas durante as guerras no século 20. Após esta reflexão, o Japão deseja ser um país sempre ao lado dos corações feridos das mulheres. O Japão vai liderar o mundo no sentido de tornar o século 21 uma época em que os direitos humanos das mulheres não sejam infringidos”.
“Vamos gravar em nossos corações o passado, quando blocos econômicos criaram as sementes do conflito. Após esta reflexão, o Japão vai continuar a desenvolver um sistema econômico internacional livre, justo e aberto, que não será influenciado pelas intenções arbitrárias de qualquer nação. Vamos reforçar a assistência aos países em desenvolvimento, e levar o mundo em direção à prosperidade. Prosperidade é o próprio fundamento para a paz. Japão vai fazer mais esforços para lutar contra a pobreza, que também serve como um foco de violência, e fornecer oportunidades para serviços médicos, educação e autossuficiência para todas as pessoas no mundo”.
“Vamos gravar em nossos corações o passado, quando o Japão acabou tornando-se um desafiante à ordem internacional. Após esta reflexão, o Japão vai defender firmemente os valores básicos, como a liberdade, a democracia e os direitos humanos como valores inflexíveis e trabalhar lado a lado com os países que compartilham desses valores, içar a bandeira da "Contribuição Proativa para a Paz", e contribuir para a paz e a prosperidade do mundo mais do que nunca”.
Estas afirmações devem atender as principais reivindicações dos vizinhos asiáticos, e certamente exigiram grandes esforços para serem formulados.
Foi uma decisão sábia. Parabenizo pela maturidade de um povo que aprendeu com a experiẽncia.
A guerra sempre é insana. É ruim para quem perde, pior para quem ganha
Parabens !
Cara Setsuko Watanabe.
Obrigado pelo comentário. Mas, pelo visto, não existe um razoável consenso nem no Japão.na imprensa internacional e nem na Ásia sobre esta posição.
Paulo Yokota