Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Artigos que nos Obrigam a Fazer Algumas Reflexões

28 de setembro de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: artigo de Charles Moore publicado no The Wall Street Journal, necessidade de políticas formuladas por estadistas., problemas relacionados com a globalização, um aperto na classe média mundial e não somente na brasileira

clip_image002 O The Wall Street Journal publica nos fins de semana artigos de maior profundidade com os quais podemos não concordar plenamente, mas exigem que façamos nossas reflexões sobre estas colocações provocativas, ainda que possam parecer abstratas.

Charles Moore, ex-editor do Daily Telegraph e bigrafo de Margaret Thatcher.

Charles Moore começa o seu artigo publicado no The Wall Street Journal com uma colocação provocativa. “Se os países ocidentais querem desmentir as previsões terríveis de Karl Marx, temos que pensar criativamente sobre como fazer a classe média mais próspera e segura” (tradução livre). Ele convida a todos recordar 1987, quando Margaret Thatcher visitou Mikhail Gorbachev. Ambos discutiram por horas no Kremlin e Gorbachev acusou Thatcher de comandar um país de ricos. Ela explicou que tentava criar uma sociedade completa dos que têm algo (haves), não somente uma classe deles parcialmente.

Há que se reconhecer que Ronald Reagan, de quem muitos esperavam pouco, pois ele ficou famoso inicialmente como astro de cinema e não político, e de Margaret Thatcher, que começou sua brilhante carreira como simples dona de casa, cujo bom senso levou para a atividade política. Eles se tornaram estadistas com convicção do que desejavam politicamente, o que parece raro hoje, e marcaram uma época. É claro que muito do que fizeram pode ser questionado, mas o Ocidente estava crescendo e o socialismo de Estado estava implodindo naquele período.

A maior parte do mundo esperava seguir o exemplo do Ocidente. Dois anos e meio depois do encontro Thatcher/Gorbachev, o Muro de Berlim ruiu e quase todos os regimes ex-comunistas emergentes procuravam as liberdades proporcionadas pelo mercado para seu povo. Thatcher bradava: “cada ganhador, um proprietário” (every earner an owner).

O artigo afirma que em 2015 é difícil imaginar uma conversa daquele tipo entre um líder ocidental com o confuso Vladimir Putin. Nenhuma das partes parece possuir uma ideologia inteligível. Desde a crise de 2007-2008, nenhum líder ocidental pode se gabar que está promovendo riqueza para o povo. Tanto nos Estados Unidos como na Grã-Bretanha, o percentual dos cidadãos que possuem uma carteira de ações ou casas é bem menor do que no final da década dos 1980. Na Grã-Bretanha, a compra da primeira casa ocorre atualmente depois dos 31 anos e mais pessoas dependem do “banco do papai e da mamãe”, quando em meados dos anos 1980 era de 27 anos. A sociedade tornou-se dos que possuem menos, se não forem pobres, e o preço dos imóveis é 15 vezes superior do que naquele passado.

O autor aponta que houve uma mudança setorial das remunerações, beneficiando os executivos financeiros que aumentaram em número, em prejuízo dos funcionários públicos de nível médio, advogados, médicos, professores e pequenos empresários. Muitos da classe média dependem hoje dos pais, o que não era comum na década de 1980. Não é usual as gerações mais novas sofrerem deterioração com relação às passadas.

Isto provoca um questionamento do capitalismo onde poucos acabam sendo beneficiados, com prejuízo de muitos. Questiona-se a globalização se os serviços são oferecidos por outros países. Os bancos são criticados pelos seus executivos escaparem das jurisdições fiscais normais.

Os cidadãos dos países livres começam a se sentir como otários, segundo o artigo, gerando desapontamento e mesmo amargura. Não existe mais segurança nos contratos. Acaba se dando espaço político para figuras como Donald Trump, nos Estados Unidos, assim como na Inglaterra surgem novos líderes, como Jeremy Corbyn, da esquerda dura.

Segundo o autor, os extremos de esquerda e direita estão aparecendo no mundo, o que não é surpresa, pois o centro não se aguenta em si, nada podendo dizer sobre si mesmo. Os executivos do Estado atual aparentam ser burocratas para gerir a desordem da burguesia. Já em 1848, no Manifesto Comunista, tudo isto constava, segundo o autor, que não é simpático a estas ideias, que também não conseguiu o paraíso que esperava entregar.

Segundo o autor, no século 21, os membros da classe média se veem como prisioneiros do sistema que ajudaram a criar. A relação entre a propriedade e a moral acabou envolvida numa confusão de um monte de palavras. Para ele, em toda a parte do mundo desenvolvido há numa área de convalescença, apesar do emprego em alguns países e desemprego em outros.

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Ilustração constante do artigo do The Wall Street Journal

Para ele, o capitalismo e a globalização são palavras utilizadas em quantidade por muitos para expressar os fenômenos que não apreciam. Segundo Moore, deveria ser trocado por uma sociedade livre e eficiente, sob o Estado de Direito. Ele parece se contrapor aos altos executivos das companhias que tendem a preservar esta situação, sem se preocuparem com a coletividade que deve ser preferencialmente nacional.

Para ele, outros períodos históricos foram mais criativos, e atualmente tudo está voltado somente para o controle financeiro. Ele parece adotar a ideia que o conceito de Nação é relevante, tanto que Adam Smith tratou da Riqueza das Nações, e não da Comunidade Global, pois as entidades supranacionais acabam sendo pouco eficientes para a promoção do bem-estar, mas talvez para a convivência entre nações.

Ele tenta tranquilizar os leitores dizendo não ter se tornado um marxista tardio, mas como ele muitos acabam voltando-se às questões fundamentais mais discutidas no passado, que parece não estar se registrando atualmente. Vale uma reflexão sobre o assunto.