Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

The Economist Alerta Para a Dependência ao Dólar

2 de outubro de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: exagerada dependência ao dólar, falta de alternativas, supremacia dos Estados Unidos está diminuindo no mundo, um sistema monetário mundial com fortes variações.

A edição deste fim de semana do The Economist chama a atenção da exagerada dependência mundial ao dólar norte-americano, quando os Estados Unidos não têm como manter a sua supremacia econômica. A falta de alternativa leva a uma situação de alto risco, com as fortes mudanças internacionais aumentando-o.

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                                   Capa da próxima edição

O dólar norte-americano tem sido no cenário internacional a superpotência do sistema financeiro e monetário, pois o euro, o franco suíço e o yen perderam a sua importância depois das crises de 2007-2008 e o yuan ainda está engatinhando. Ainda que muitos vejam o fenômeno como um aumento da influência dos Estados Unidos no mundo, suas responsabilidades com uma moeda dominante acabam agravando os riscos mundiais, segundo os artigos publicados na revista.

Os Estados Unidos representam 23% do PIB mundial e o seu comércio internacional somente 12% do total. Mas, 60% da produção mundial e uma parte equivalente das pessoas do planeta está de fato na zona do dólar, sofrendo suas influências. Mesmo que os investimentos empresariais dos norte-americanos tenham caído de 39% em 1999 para 24% atual. Wall Street controla 55% dos ativos do mundo, quando estava acima dos 44% há uma década atrás.

O fosso entre estes dados criam problemas para os Estados Unidos e demais países do mundo, porque os custos desta hegemonia do dólar estão começando a superar os seus benefícios. Primeiro, por que as oscilações estão violentas e uma pequena elevação na taxa de juros nos Estados Unidos provoca uma enxurrada de recursos vindos de todas as partes, notadamente dos países emergentes, mudando câmbios e cotações nas bolsas de valores.

As decisões do FED norte-americano sobre os juros afetam dívidas e depósitos no valor aproximado de US$ 9 trilhões, pois muitos países vinculam suas moedas ao dólar, segundo a revista. Estrangeiros são proprietários de 20 a 50% dos títulos dos governos de alguns países como a Indonésia, Malásia, África do Sul e Turquia, e muitos recursos tendem a procurar os Estados Unidos.

Com a valorização do dólar, as importações de produtos norte-americanos tendem a cair, e, na década passada, as mesmas já passaram de 16% para 13% da mundial. O mercado norte-americano caiu de principal para 32 países, quando era de 44 países há uma década. Nota-se a atual cautela do FED na elevação da taxa de juros de referência.

Segundo, não há um mecanismo para controle do dólar offshore. Na crise de 2008-09, o FED norte-americano relutantemente teve que ajudar no fornecimento da liquidez mundial, oferecendo US$ 1 trilhão como emprestador de última instância para ajudar bancos estrangeiros, inclusive autoridades monetárias de outros países, para evitar uma crise maior. O mundo atual do dólar offshore é duas vezes maior que em 2007 e em 2020 deverá ser maior que o sistema bancário nos Estados Unidos. Até quando o Congresso norte-americano continuará aceitando este papel?

Como terceiro ponto, o FED está procurando controlar até as irregularidades que passam pelos bancos norte-americanos, como no caso da FIFA e de corrupções em outros países. Ainda que isto aumente a influência dos Estados Unidos, as críticas acabam afetando também a política externa daquele país.

Os norte-americanos se perguntam o que isto tudo importa para eles, que não decorreu de seu esforço. O papel descomunal do dólar norte-americano afeta-os, quando precisam do dólar para resolver seus problemas internos. Seria ideal que os Estados Unidos partilhassem o seu fardo com outras moedas.

O euro não consegue desempenhar este papel, o yuan ainda está mal começando. O FED tende a afastar-se deste papel, fragmentando todo o sistema, segundo a revista. Este quadro pessimista está exigindo que as autoridades de todo o mundo, a partir do FMI, pensem em mecanismos efetivos para ajudar impor um mínimo de ordem neste segmento financeiro do mundo globalizado.