Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Os Rotos Falando Mal dos Esfarrapados

1 de junho de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: brasileiros criticando a China e a Índia, compreensão dos problemas, falta de bom senso

Analistas que pretendem ser mais sensatos ficam chocados quando constatam notícias nos meios de comunicação social do Brasil criticando as ligeiras reduções recentes dos crescimentos da China e da Índia.

clip_image002

Título do principal editorial do Valor Econômico

Quando a economia brasileira ainda se encontra numa profunda recessão, com aumento de desemprego, um editorial como o do Valor Econômico criticando a China, que ainda registra um crescimento estimado em 6,5%, acaba soando como algo ridículo, mesmo que se esperasse um crescimento ligeiramente maior. Também existem críticas que a Índia estaria passando por uma ligeira desaceleração, ainda que cresça algo parecido com 7% ao ano como um importante país emergente. É evidente que ainda existem problemas mundiais decorrentes da recente redução da globalização, onde os países desenvolvidos como os Estados Unidos, o Japão e europeus começam a dar sinais de uma saudável recuperação, mas parece mais que natural que seus efeitos ainda não chegaram às economias emergentes que fazem grandes esforços para depender mais dos seus potenciais mercados internos. O Brasil está metido numa confusão política que aumenta as incertezas, mesmo que o governo se empenhe em mostrar que estão sendo menos afetados na economia do que era de se esperar e com percentuais de crescimento bem mais modestos.

As ligeiras recuperações que estão se observando em alguns setores no Brasil decorrem em grande parte do setor rural que está sendo sacrificado com um câmbio que reduz sua rentabilidade, sem que os custos das operações financeiras rurais não acompanhem as reduções que estão sendo promovidas na Selic. Não poderão continuar a contribuir para manter o resto da economia brasileira na próxima safra, correndo o risco ainda de irregularidades climáticas.

Para aprovar discutíveis reformas no sistema previdenciário do país que não atacam os verdadeiros problemas dos marajás e aprovar algumas medidas de aperfeiçoamento no sistema trabalhista está se aceitando pressões do Congresso para aumentar as remunerações dos funcionários do setor público, que elevam os custeios, reduzindo as capacidades dos investimentos em setores estratégicos como pesquisas, educação e saúde, que permitiriam reduzir as diferenças de competitividade com os nossos concorrentes internacionais.

Será que as autoridades brasileiras não estão conscientes que estamos importando produtos agrícolas e aumentando as despesas de turismo no exterior, setores que poderiam minorar parte do desemprego dos brasileiros que ainda se mantêm em níveis escandalosos? Obtêm-se ainda alguns superávits comerciais porque não estamos importando máquinas e equipamentos eficientes para substituírem os obsoletos e que estamos consumindo com as suas depreciações.

Mal estamos comendo da mão para a boca, sem estabelecer programas de longo alcance que ampliem nossas capacidades de competição com o exterior. Consideramos investimentos simples transferências de propriedades como as usinas geradoras de energia elétrica e linhas de transmissão, sem que sejam ampliadas as suas capacidades. E teremos que honrar com divisas externas os encargos decorrentes destes “investimentos”.

Lamentavelmente, não temos um plano de longo prazo, notadamente no setor externo, como até alguns setores do governo acabam constatando. Não estamos inseridos nos grupos que estão fazendo esforços importantes para superar a falta de compreensão adequada dos grandes problemas mundiais, como os relacionados com a sustentabilidade do globo terrestre, onde temos todas as condições para oferecer importantes contribuições.