Importância de Possuir Bancos no Exterior
10 de novembro de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: admitir bancos na China com maioria de capital de estrangeiros, importância para os Estados Unidos e para o Brasil, mudança na política bancária chinesa
Quando Brasil resolveu aumentar seus relacionamentos externos, ainda na década dos anos 1960, uma das primeiras medidas tomadas pelo ministro da Fazenda Antonio Delfim Netto foi abrir as agências bancárias do Banco do Brasil por muitos países estrangeiros, inclusive a China. Agora, a China admite que bancos estrangeiros sejam autorizados a se instalar no país, com a maioria do controle acionário do exterior, o que não foi anunciado com alarde, mas consta de um artigo publicado no site da Bloomberg, num artigo elaborado por Jennifer Jacobs, Peter Martim e Craigs Gordon.
Agência do Banco do Brasil em Nova York, a primeira instalada no exterior
Se a China admite bancos estrangeiros, com maioria de capital do exterior, se instalarem no país, isto é muito importante, pois acaba fomentando o chamado Investimento Estrangeiro Direto, bem como a importação de produtos do exterior. A China, além de possuir um endividamento público elevado, está interessada na concorrência de grupos estrangeiros que venham disputar o seu mercado interno, trazendo novas tecnologias. É normal que acabem exigindo critérios de reciprocidade também nos mercados externos para seus bancos. Até o momento, por razões históricas, somente o Hong Kong Shanghai Bank dispunha deste privilégio.
Uma mera agência bancária já se torna um ponto onde os brasileiros, quando na China, tenham um ponto de apoio, não só para operações bancárias como indicações de potenciais importadores de produtos brasileiros ou o estabelecimento de joint ventures. Se contar com um banco, com uma rede de agências nas principais cidades chinesas, as possibilidades de intercâmbio aumentam sensivelmente.
Ainda que a China seja uma grande importadora de produtos agropecuários brasileiros, como também minérios, ao Brasil interessa diversificar a pauta das suas exportações, pois existem muitos produtos industriais que podem aproveitar a ampla biodiversidade brasileira, que não contam com produções naquele país. Mais do que as ações dos consulados e da embaixada, as agências bancárias acabam se tornando pontos efetivos para incremento de negócios.
É evidente que a China está pensando em bancos norte-americanos e europeus, mas o Brasil já teve no passado uma presença maior no exterior que pode voltar a ter. Também existem grupos brasileiros que estão importando produtos chineses e, na medida em que disponham de bancos brasileiros, estas transações podem contar com operações bancárias para lhes dar suporte.
Estas medidas que estavam sendo germinadas na China não eram de conhecimento mesmo dos norte-americanos e se Donald Trump estava informado não percebeu a sua importância, quanto mais os brasileiros. Os chineses costumam anunciar as coisas que os beneficiam e certamente estão precisando também da colaboração externa, ainda que não gostem de anunciar estas dependências. Não se sabe de mais detalhes, mas tudo indica que agora haverá uma inundação de especulações sobre as diversas alternativas.
Estima-se que o endividamento chinês sobre o seu PIB fosse de 162% em 2008, segundo a Bloomberg, podendo chegar a 292% em 2019 e 328% em 2022, o que exigem uma ampla abertura para o sistema bancário mundial, que não é agradável de ser confessado pelos chineses.