Ainda a Negociação da Boeing com a Embraer
27 de dezembro de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: dimensões diferentes, entrevista de Osires Silva para o Valor Econômico, um acordo envolvendo vantagens recíprocas
Muitos brasileiros gostariam que os entendimentos entre a Boeing e a Embraer fossem de igual para igual, mas parece que a realidade é dura. De um lado, a gigante mundial e primeira no mundo, cuja dimensão é de cerca de 13 vezes maior do que a brasileira, ao mesmo tempo em que tem o respaldo dos Estados Unidos enquanto o Brasil ainda está sujeito a incertezas até com relação aos próximos anos. É preciso que haja um mínimo de realismo para que os entendimentos sejam proveitosos para a empresa brasileira.
A Boeing além dos grandes aviões civis opera com muitos militares, satélites e uma infinidade de produtos, chegando a um faturamento anual de cerca de US$ 100 bilhões, em torno de 13 vezes mais que a Embraer e 60% a mais que a segunda, a Airbus
O interesse da Boeing pela Embraer é que a brasileira é forte numa faixa dos aviões regionais onde a norte-americana não se destaca, mas ambas já possuem transações entre elas em alguns componentes. Todos sabem que quando a Embraer foi privatizada o governo ficou com a chamada “golden share”, que sem a sua autorização não pode haver mudanças fundamentais na empresa. Mas sem maiores respaldos do governo para a expansão da Embraer com gigantescos recursos, não há como mantê-la competitiva, principalmente agora que houve um entendimento entre a Bombardier canadense com a Airbus europeia, num segmento do mercado onde os chineses e os japoneses possuem um projeto avançado.
Portanto, não se trata do desejo de manter a Embraer, mas de ter as condições de sustentá-la nas duras competições futuras, principalmente quando ela produz em outros países, pois as condições brasileiras são adversas. É claro que qualquer entendimento com a Boeing é de interesse da Embraer, se puder contar com as facilidades financeiras para colocar seus produtos em alguns mercados. O maior intercâmbio entre seus recursos humanos são importantes, mas apresenta o risco da brasileira perder os jovens de talento que estão nos seus quadros, que está sendo difícil de mantê-los pelos seus altos salários.
Em muitos momentos de sua história, a Embraer foi extremamente criativa, pois, não contando com recursos humanos, tecnologia e capacidade financeira, foi capaz de estabelecer entendimentos com as empresas do mundo de primeira qualidade na sua especialidade, para produzir em conjunto aviões competitivos para médias distâncias. Os que acompanham a sua atividades sabem das suas dificuldades atuais com as limitações do governo brasileiro.
Os entendimentos mal começaram entre a Boeing e a Embraer. Espera-se que haja formas de entendimentos que proporcionem vantagens adicionais para ambas, sabendo que os brasileiros não podem exigir muito, com o risco de ficar sem nada.