Estrangeiros Observam Lições Esquecidas Pelos Japoneses
13 de abril de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias | Tags: artigo de Lucy Dayman publicado no Japan Today, conceito de wabi-sabi, especial interesse pela essência da cultura japonesa, fugindo dos atropelos do dia a dia | 4 Comentários »
Coisas simples que passam hoje despercebidas dos japoneses são observadas por alguns estrangeiros que possuem a qualidade serem dotados de especial interesse pelas essências da cultura japonesa. Sempre se pode aprender muito com suas reflexões.
A rachadura de um vaso antigo é ressaltada com o uso de um pó de ouro. Foto constante do artigo publicado no site do Japan Today, que vale a pena ser lido na íntegra
A articulista Lucy Dayman publicou um excepcional artigo no Japan Today sobre a antiquíssima filosofia japonesa, wabi-sabi, que não é conhecida atualmente por muitos japoneses, que reconhecem todas as nossas imperfeições. Um grande exemplo seria o kinsugi (rachado de ouro) que ressalta o defeito de uma peça antiga de cerâmica, com o uso do pó de ouro, como na foto acima.
Wabi-sabi é aplicado facilmente nos momentos da vida cotidiana, indo da estética aos templos, dos jardins clássicos à cerâmica. O termo wabi é usado pelos japoneses para expressar a beleza na elegância e simplicidade rústica e humilde, segundo a autora. Sabi é um termo usado para descrever a maneira como o tempo provoca a deterioração, que pode ser a passagem das estações do ano como as páginas antigas de um livro. Juntos, estes conceitos harmonizam para criar um novo posicionamento mais abrangente para apreciar as coisas simples e impermanentes da vida.
Muitos autores, como Tadao Ando e Leonard Koen, escreveram livros sobre o assunto. O primeiro The Wabbi-Sabi House: The Japanese Art of Imperfect Beauty, e o segundo Wabi-Sabi: for Artists, Designers, Poets & Philosophers, entre os mencionados pela autora.
Wabi-Sabi é a beleza das coisas imperfeitas, impermanentes e incompletas, a antítese da cultura ocidental clássica da beleza, como algo perfeito, duradouro e monumental, segundo a autora. Isto pode ser relacionado com o budismo, nos seus ensinamentos abraçando a impermanência (do qual falamos neste site destacando o fim das floradas das cerejeiras), o sofrimento do sofrimento com as constantes evoluções em que vivemos e a ausência de si, por estar sempre em fluxo.
Transportando ao cotidiano, estes conceitos estão ligados ao ikigai (anseio constante, insatisfeitos com o que temos, procurando chegar ao inatingível perfeccionismo). A mídia publicitária vive ressaltando o que nos falta, quando pode se estar satisfeito com o minimalismo.
Moveis antigos usados no Japão que contam sua história com as marcas deixadas
Na cozinha, os ingredientes utilizados não precisam estar perfeitos nas suas formas, pois os nutrientes são equivalentes e seus preços podem ser mais convenientes nas lojas. Também podem ser apreciados simplesmente grelhados, sem usos de exageros molhos e cozimentos de variados tipos.
Sempre existe uma forma de relaxar apreciando o jardim de uma casa, ainda que simples, satisfazendo com o que se dispõe mesmo num espaço limitado e apresentado com arte. Mas existem também os que ficaram famosos atraindo visitantes de todo o mundo, como o jardim de pedras de Kyoto.
Jardim de pedras de Kyoto, que merece um tempo para reflexão
Mesmo aqueles japoneses ou descendentes que possuem algum conhecimento da cultura japonesa parece que necessitam contar com a humildade de aprender com muitos estrangeiros que, morando no Japão, possuem conhecimentos profundos que, lamentavelmente, hoje não é mais objeto de reflexões por aqueles que despendem o seu tempo somente nos meios eletrônicos de comunicação social.
Boa parte da cultura japonesa é, na verdade, de origem chinesa ou de outros cantos da Ásia. Mas, por outro lado, é bom para o povo do Japão esquecer um pouco de sua “própria cultura” e conhecer culturas mais evoluídas que respeitam os Direitos Humanos, os direitos das mulheres, que não caçam baleias e nem golfinhos etc.
Acho que os nipônicos poderiam melhorar muito com os brasileiros.
Cara Simone Aparecida,
O Brasil só tem uma história de cerca de 500 anos, enquanto o Japão e principalmente a China de muitos milênios. Todos os povos tem seus valores com os quais podemos divergir, mas que merecem respeitos mais profundos. Desejar que todos pensem como nós parece uma pretensão descabida.
Paulo Yokota
O Japão caiu demais nos derradeiros anos. O futuro do planeta Terra será o nosso Brasil que é jovem e tem muitas riquezas naturais, bem como um povo inteligente e criativo. Com um presidente negro, tudo vai melhorar em nossa nação.
Temos de tudo para superarmos a China e os EUA, mas basta colocar as pessoas certas nos lugares certos. Um pouco de “cor” no Congresso Nacional fará bem para todos nós!
Rafael Lima da Cunha,
Todos podem ter suas opiniões, mas parece que seria conveniente fundamentar com as razões para tanto. Exageros de ufanismo não ajudam muito.
Paulo Yokota