Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Aprendendo do Desenvolvimento Tecnológico Chinês

2 de maio de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: artigo publicado no Nikkei Asian Review, diferenças na política chinesa com os Estados Unidos, o estímulo estatal nos países emergentes

 

clip_image002Um artigo de Sebastian Heilmann, professor da economia política chinesa na Universidade de Trier, publicado no Nikkei Asian Review, enfatiza a diferença do desenvolvimento tecnológico chinês com o que ocorreu nos Estados Unidos, principalmente com o Vale do Silício que se deveu ao setor privado. O que ocorre atualmente na China é o estímulo acentuado do governo.

Segundo Sebastian Hellmann, ainda que a Baidu, Tencent Holding e Didi Chuxing aparentem ser semelhantes com o Google ou o Uber, que nasceram do Vale do Silício com o que há de essencial no capitalismo e as empresas chinesas de tecnologia sejam também privadas, o seu rápido crescimento se deve muito à política governamental da China. Os países emergentes que chegaram mais recentemente a ter importância no mundo com inovações tecnológicas dependem das políticas estabelecidas pelos tecnocratas governamentais.

Segundo o autor, o cofundador do Google, Eric Schmidt, admite que a China ultrapasse os Estados Unidos no campo da inteligência artificial dentro de uma década. A Hunwei Technologies está prestes a lançar a banda larga móvel 5G em todo o mundo. E as soluções de e-mobilidade dos principais players da internet na China foram o centro das atenções na recente exposição em Las Vegas, onde as novidades eletrônicas são apresentadas.

Ainda que Xi Jinping introduza na China a censura à internet, o que leva muitos a imaginarem as limitações a que estão sujeitos seus desenvolvimentos, mas está se constatando que os chineses conseguem superar muitas das suas dificuldades, até porque estabelece estímulos típicos do capitalismo aos pesquisadores.

O fato concreto é que a China utiliza os atrativos de suas dimensões conseguindo uma competição que vem de baixo para cima, aumentando a sua produtividade em muitos setores. No delicado equilíbrio, consegue manter um expressivo ritmo de crescimento. As restrições oficiais e as centralizações que ocorrem não são mais presságios negativos para os seus desenvolvimentos tecnológicos, dada a particular estruturação do seu sistema de educação. Consegue, ainda, manter uma disciplina com generosos apoios governamentais.

Segundo o autor, a China está conseguindo lidar com os grandes desafios do século XXI, desde soluções climáticas até o gerenciamento inteligente das cidades, ainda que parte seja para a vigilância das dissidências, utilizando todos os meios hoje disponíveis. Numa época em que a confiança do público em mercados livres e democráticos politicamente esteja em declínio no Ocidente, com exageradas centralizações econômicas nos organismos financeiros e disparidades na distribuição dos benefícios.

Em 2018, estaria se conseguindo a combinação de prioridades de longo prazo e implementação flexível na China. Se os países ocidentais não encontrarem uma maneira de revigorar suas capacidades de solução de problemas, com coesão social e credibilidade e apelo internacional, poderiam enfrentar dificuldades na competição com os chineses.

Para os países emergentes como o Brasil, a lição que poderia se extrair de tudo isto é a necessidade do estabelecimento de objetivos de desenvolvimentos tecnológicos em longo prazo. Não se poderiam dispensar os estímulos governamentais, proporcionando aos pesquisadores premiações e condições como os que eles encontram no exterior, procurando tirar o melhor proveito possível das condições diferenciadas que o Brasil dispõe com relação aos outros países, para se manter competitivo.