Exageradas Simplificações das Complexidades Humanas

17 de setembro de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Política | Tags: compreensível simplificação da complexa realidade política, dificuldade de análises mais profundas das versões veiculadas pelos veículos da imprensa que têm seus interesses, polarização natural dos candidatos considerados mais cotados como participantes do possível segundo turno

Aparecem muitos artigos na imprensa política brasileira informando que Jair Bolsonaro e Fernando Haddad seriam considerados os mais prováveis participantes do possível segundo turno para a eleição do próximo presidente da República do Brasil. Estaria sendo antecipado o uso do chamado voto útil mesmo no primeiro turno entre petistas e antipetistas. Simplificadas características estão sendo atribuídas para estes dois candidatos que ainda passam por um processo de definição de suas atuais personalidades políticas, diante das dramáticas circunstâncias que os conduzem à atual situação eleitoral.

Jair Bolsonaro inicialmente considerado líder da extrema direita, agora um candidato capaz de derrotar o petista

Jair Bolsonaro, que foi vitima de um atentado com uma faca, ainda se encontra num tratamento naturalmente demorado e complicado, que continua apresentando riscos, não podendo participar ativamente da campanha eleitoral. Ela ainda estará sujeito a uma cirurgia de grande porte para religamento do seu intestino grosso, podendo ser alimentado somente por via venosa.

De outro lado, como o ex-presidente Lula da Silva foi impedido pelo Supremo Tribunal Eleitoral de se manter candidato mesmo sendo o preferido pelas pesquisas eleitorais, estando preso em Curitiba, foi substituído por Fernando Haddad, que certamente não tem o mesmo carisma. Imaginar que ele continuará sendo, na nova situação, um mero ventríloquo de Lula parece uma simplificação exagerada, mesmo sendo parte importante da verdade. Muitos entendem que o Judiciário exagerou na interpretação constitucional, que, não sendo alterada, assegura a sua liberdade até o esgotamento final de todos os recursos disponíveis.

Fernando Haddad, o novo candidato do PT à Presidência da República diante da impossibilidade de Lula da Silva, tem herdado o prestígio do petismo, podendo acrescentar algumas características pessoais diferentes

Numa campanha eleitoral de poucas semanas, acaba sendo inevitável a simplificação das principais candidaturas dos possíveis participantes do segundo turno, o que não é totalmente seguro e interessa a muitos. Existem ainda possibilidades de alguns acontecimentos dramáticos, mesmo que sejam baixas.

As imagens predominantes dos dois possíveis candidatos não permitem aos eleitores uma compreensão mais profunda das personalidades de ambos, que estão sendo simplificadas pelos que estão vigentes no quadro político presente. Parece que os pontos fundamentais das diferenças entre os dois deveriam ser as suas possibilidades de neutralizar as pressões dos políticos, dos membros do Judiciário e da máquina administrativa pública brasileira, capaz de alterar as tendências do quadro atual, ainda que sejam todas difíceis.

Não parece que existam espaços para milagres e tudo vai exigir esforços extraordinários que requerem determinação, persistência e um tempo mínimo para a sua implementação. As diretrizes básicas deveriam ser discutidas, com bastante realismo. Recursos humanos e naturais para tanto o Brasil dispõe e muitos estão sendo desperdiçados, mas um mínimo de racionalidade parece necessário que se tornem públicos.